Elogios ainda são poucos. Ele vê além...

Em sua passagem pela Polônia o Papa gerou muitos comentários. Políticos e membros da Igreja ficaram impressionados com seu conhecimento da atualidade diante dos acontecimentos da Polônia e o mundo.

As palavras de João Paulo II foram em geral acolhidas como um diagnóstico lúcido contra a falta de solidariedade e o liberalismo sem responsabilidades. Segundo o porta-voz do episcopado polonês, padre Adam Schulz, o Papa mostra «a perspectiva de libertação contra a visão pessimista, desiludida e egoísta do futuro».

«O Santo Padre abre a perspectiva divina mostrando uma visão do mundo e do homem livre de medos, mostrando o caminho de saída de problemas muito complexos e difíceis», acrescentou. Para o porta-voz do episcopado polaco, João Paulo II debruçou-se não apenas sobre os problemas poloneses, como o desemprego, pobreza e desalento, mas abarcou nas suas palavras «os problemas sociais do mundo inteiro».

Para o líder do partido «Lei e Justiça» (PiS), Lech Kaczynski, o Papa criticou hoje na homilia o tipo de liberalismo que se revela no afastamento radical do estado da esfera social e na limitação da solidariedade institucional. O líder do partido «Plataforma Civil» (PO), Maciej Plazynski, disse não ter sido surpreendido pelo fato de o Papa, no contexto do processo de adesão à União Européia e da discussão em curso na Polônia, exprimir a sua posição diante do «liberalismo compreendido como liberdade sem princípios».

«Creio ser difícil que o Santo Padre não veja aquilo que se passa no Ocidente e que entre nós começa a ser discutido: a eutanásia, aborto, relaxamento dos costumes e tentativa de sancionar tudo isto na lei – ou seja, uma concepção do liberalismo como liberdade sem princípios. No contexto das nossas aspirações de integração, estes são problemas muito evidentes nalguns dos países ocidentais, mas que começam a ser transportados igualmente para aqui e não estamos livres de tais ameaças», disse Plazynski.

Acrescentou que não o surpreende que o papa venha agora sensibilizar a Igreja polaca para estes problemas em vez de ‘reagir depois dos fatos consumados’.

Um dos bispos de Cracóvia, dom Tadeusz Pieronek, sublinhou que o atual desânimo dos poloneses é em parte irracional, pois – disse – «temos muitas razões para nos alegrarmos, já aconteceram na Polônia grandes mudanças». «Para as pessoas que querem arregaçar as mãos, ter iniciativa e trabalhar, tudo é possível.

Deus abre todas as possibilidades de construir um mundo melhor. Basta querer», acrescentou. Segundo o ex-presidente Lech Walesa, importante é que o Papa «nos mostra que não há que se deixar abater pelos problemas, dificuldades e sofrimentos». Entretanto, o teólogo Jacek Salij comparou a homilia do Papa ontem com a de 1979, durante a primeira visita à Polônia. «A homilia de hoje evoca a de 1979.

Nos tempos da ideologia oficial materialista, João Paulo II disse que o homem não se consegue compreender inteiramente sem Cristo. O Papa fortaleceu-nos então na fé, de que tirávamos a consciência da nossa dignidade humana e que nos fazia perceber que tínhamos direito à liberdade que nos era recusada.

E hoje, nos tempos de desorientação moral, egoísmo crescente e absolutização das leis econômicas, o Papa quer ensinar que, se nos afastarmos de Deus, humilhamos a humanidade em nós e nos outros» – acrescentou. Na missa celebrada por João Paulo II ontem em Cracóvia participaram mais de 2,5 milhões de pessoas – um recorde de participação.