Big Brother e Casa dos Artistas

Quando Eric Arthur Blair (1903-1950), ou seja, George Orwell em 1945 escreveu seu famoso livro “Animal Farm”, deixou claro o propósito de todas as ditaduras. Haveria sempre alguém achando-se mais igual do que os outros. Significativamente elegeu os porcos como personagens da sua fábula. Quando, em 1949 no livro “1984” predisse o que aconteceria quando uma simpática, mas impiedosa ditadura se instalasse: o controle das mentes, da gestação e a clonagem.

Com 20 anos de atraso estamos vendo e falando de gestação controlada, clonagem de pessoas, câmeras controlando os movimentos do cidadão em shoppings, metrôs, aeroportos, estádios, ruas, avenidas, estradas e bancos. Já nos acostumamos a ser fotografados sem nossa permissão. George Orwell previu a perda de privacidade justificada pelo invisível Big Brother, que saberia tudo sobre nós, sem nós sabermos quase nada sobre ele.

Agora, programas aparentemente inocentes e simpáticos como Casa dos Artistas e Big Brother colocam diante de nós pessoas bonitas e simpáticas, uma tentando derrubar a outra para ver quem sobra e leva o contrato, a fama e o dinheiro. O Grande Irmão controla tudo de fora e, de certa forma, leva os de fora e os de dentro a decidir. A informação editada, chega às pessoas como o Big Brother quer que chegue. Vale o que o Big Brother edita!

Estamos na Era da Invasão da Privacidade, cheia de pegadinhas esdrúxulas que fazem rir e dão pontos no Ibope. Você nunca sabe se está sendo filmado. Pouco importa se, depois, permite ou não permite que vá ao ar. O fato é que foi filmado sem sua permissão. Um grande número de pessoas compra a idéia de que, por dinheiro ou fama é válido expor-se. Por isso, a atriz ou cantora posa nua. Ajuda a comprar o sonhado apartamento. Se estamos na era da estética e da imagem e ela é bonita e há quem queira ver seu corpo bonito em posição provocativa, porque não vender aquela visão? É a evasão da privacidade. Por favor, me mostrem, mas me paguem ou me tornem conhecida!

A Era da Imagem criou um novo tipo de comportamento. A dos que se vendem ou se deixam aprisionar por um empresário em troca de fama, dinheiro e carreira na mídia. Talvez algum deles o faça apenas pela experiência de saber como é perder a liberdade por algum tempo. Um grande número, porém, está se vendendo por um prêmio que justifica aquela prisão. Do lado de cá, pela tela de TV que funciona como o buraco da fechadura, milhões de pessoas querendo saber e ver detalhes até mórbidos daquelas vidas aprisionadas.

Se é imoral? Por detrás da brincadeira de ser vigiado pelas câmeras há um que domina e um grupo que é dominado. Em geral, gente jovem e inexperiente. Com atores adultos seria impossível. Façam lá dentro as votações e as democracias que quiserem, a decisão final não depende deles. Um povo que acha bonito e divertido eliminar alguém pelo telefone, acabará achando normal uma coleira no pulso ou no pescoço de cada cidadão.

Estão controlando e manipulando pessoas jovens diante de nossos olhos e achamos isso normal e bonito. Veremos o resultado disso no Brasil de 2020…