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O Bom Samaritano 2.0: como ser um herói nas redes sociais hoje em dia?

Do scrolling à esperança, como comunicar com o coração nas redes sociais

A comunicação na Igreja é uma resposta ao mandado de Cristo: “Vão pelo mundo todo e preguem o evangelho a todos” (Mc 16, 15). De fato, em um mundo cada vez mais conectado, mas frequentemente desconectado em termos de valores e compreensão mútua, a comunicação assume um papel crucial na construção de pontes entre as pessoas.

Este ano, a Igreja celebra o 59º Dia Mundial das Comunicações, no dia 1º de junho, com o tema “Partilhai com mansidão, a esperança que está nos vossos corações” (cf. 1 Pd 3,15-16).

O Bom Samaritano 2.0, como ser um heroi nas redes sociais hoje em dia?

Crédito: Thx4Stock / GettyImages

Nesse contexto, o Papa Francisco alerta para um outro fenômeno preocupante: “poderíamos designá-lo como a ‘dispersão programada da atenção’ através de sistemas digitais que, ao traçarem o nosso perfil de acordo com as lógicas do mercado, alteram a nossa percepção da realidade”.

Poder da proximidade

O Papa Francisco ressalta o “poder da proximidade” representado pela parábola do Bom Samaritano. A comunicação precisa gerar esperança. Nesse sentido, não se pode limitar à transmissão de informações, mas levar a uma relação profunda com o próximo, levando uma palavra de consolo e esperança. Não basta comunicar a verdade, é preciso também ser verdadeiro.

Ao longo dos séculos, a Igreja Católica tem sido uma força ativa nesse processo. Ela compreende a comunicação como meio poderoso para aproximar pessoas. Neste contexto especial do Jubileu das Comunicações, apresenta o Bom Samaritano como modelo do bom comunicador.

O poder da palavra na era digital

Entre as maravilhosas invenções da técnica desenvolvidas ao longo da história, a Igreja vê com bons olhos o avanço dos meios de comunicação. Em um momento de grande inspiração, que foi o Concílio Vaticano II, o Papa Paulo VI afirmou, no Decreto Inter Mirifica, que a Mãe Igreja sabe que a reta utilização desses meios torna-se ajuda valiosa na propagação do Reino de Deus.

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Alerta, porém, para o risco de “utilizar tais meios contra o desígnio do Criador e convertê-los em meios da sua própria ruína”. Por ocasião do Jubileu dos Comunicadores, em 25 de janeiro, Francisco convocou os participantes a serem corajosos e a libertarem o coração daquilo que o corrompe. Orientou os comunicadores a vencerem a “putrefação cerebral” causada pelo vício do scrolling contínuo, o “deslizar” nas redes sociais, definido pelo Dicionário de Oxford como a palavra do ano.

Hopetelling, a esperança é a história

“Que o vosso storytelling seja também hopetelling. Quando narrardes o mal, deixai espaço à possibilidade de remendar o que está rasgado, ao dinamismo do bem que pode consertar o que está quebrado. Semeai interrogações! Narrar a esperança significa ver as migalhas de bem escondidas até quando tudo parece perdido, significa permitir esperar até contra toda a esperança. Significa dar-se conta dos rebentos que brotam quando a terra ainda está coberta de cinzas. Narrar a esperança significa ter um olhar que transforma a realidade, levando-a a tornar-se o que poderia, o que deveria ser. Significa fazer com que a realidade se encaminhe para o seu destino. Eis o poder das histórias! E é isso que vos encorajo a fazer: narrar a esperança, compartilhá-la. Este é – como diria São Paulo – o vosso ‘bom combate’!”

(Discurso do Papa Francisco no Jubileu dos Comunicadores – 25/01/25).

“Voltem a falar com o coração”

Por fim, nesta época em que a comunicação é marcada pela inteligência artificial, a Igreja nos lança um desafio: “voltar a falar do coração”. Na Encíclica Dilexit Nos, o Papa Francisco afirma que temos um coração, e que o nosso coração coexiste com outros corações que o ajudam a ser um “tu”.

Explica que é no coração que origina a proximidade; é pelo coração que me encontro junto dos outros, e os outros estão igualmente junto de mim. Só o coração pode acolher, dar refúgio.

Comunicação que transforma

Missão essa que não deve ser pensada sozinho, comunicar Cristo como se fosse algo apenas entre mim e Ele. A Comunicação na Igreja é vivida em comunhão com a própria comunidade e com a Igreja. “Se nos afastarmos da comunidade, afastamo-nos também de Jesus. Se a esquecermos e não nos preocuparmos com ela, a nossa amizade com Jesus arrefecerá. Nunca se deve esquecer este segredo: o amor pelos irmãos e irmãs da própria comunidade – religiosa, paroquial, diocesana etc. – é como o combustível que alimenta a nossa amizade com Jesus.

Os atos de amor para com os irmãos e irmãs da comunidade podem ser a melhor ou, por vezes, a única forma possível de exprimir aos outros o amor de Jesus Cristo. O próprio Senhor o disse: ‘Por isto é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros’ (Jo 13, 35)”, conforme explica a Encíclica sobre o amor humano e divino do Coração de Jesus.

Rodrigo Luiz dos Santos
Missionário Núcleo da Comunidade Canção Nova