Uma visão diferente

Meio ambiente: Deus confia ao homem a Sua criação

Deus criou o homem para zelar  e cuidar da sua criação

Ora, só dá nome a alguma coisa quem é dono dela. Portanto, o homem, por dádiva de Deus, passa a ser senhor da criação.

“E Deus viu tudo o quanto havia feito, e tudo era muito bom” 1. O Senhor, ao fim da obra da criação, deleita-se com a maravilha que tinha feito. “Deus é inacessível ao mal”2, portanto, de Suas mãos só poderia sair obra boa. A criação, tudo o que Ele faz é bom e belo. “A Glória de Deus é o Homem vivo”, diz Santo Ireneu de Lyon. A esse Homem o Senhor confia a criação, e, no relato de Gêneses, essa missão do Homem aparece de forma clara quando o Pai Lhe dá a faculdade de dar nome às coisas criadas 3. Ora, só dá nome a alguma coisa quem é dono dela. Portanto, o homem, por dádiva de Deus, passa a ser senhor da criação.

Meio ambiente Deus confia ao homem a sua criação

Foto Ilustrativa: Brunomsbarreto / by Getty Images

“O jardim nos diz que a realidade em que Deus colocou o ser humano não é uma floresta selvagem, mas lugar que protege, alimenta e sustenta; e o homem deve reconhecer o mundo não como propriedade a ser saqueada e explorada, mas como dom do Criador, sinal de Sua vontade salvífica, dom a cultivar e proteger, de fazer crescer e desenvolver no respeito, na harmonia, seguindo os ritmos e a lógica, segundo o desígnio de Deus (cf. Gn 2,8-15)”.

Quais os grandes erros do homem?

Todavia, a serpente seduziu o homem contra o Seu Criador. O homem sem o Criador está pronto para destruir a criatura, a começar por si mesmo. Hoje, tantas vezes sem nos dar conta, nós incorremos em quatro grandes erros: o materialismo, o consumismo utilitarista, o cientificismo e o ecologismo.

No materialismo, o homem despreza toda a realidade espiritual, transcendente e pauta a sua certeza somente nas realidades materiais, visíveis. A criação se torna causa dela mesma, como se fosse autocriadora, e tudo o que existe é fruto de uma evolução casual. A incoerência desse pensamento se expressa na frase do prêmio Nobel de Bioquímica, Adolf Butenandt: “A probabilidade de ter a vida surgida do acaso é comparável à probabilidade de um dicionário completo resultar da explosão de uma tipografia”.

No consumismo utilitarista, o homem pauta sua esperança nos bens materiais, considera sua felicidade na posse e desfruta deles, entregando-se aos prazeres da carne. Não tendo um bem maior a perseguir, escraviza-se dos bens criados, confundindo a criatura com o Criador: “Tu estavas dentro de mim e eu te buscava fora de mim. Como um animal buscava as coisas belas que Tu criaste. Tu estavas comigo, mas eu não estava contigo. Mantinham-me atado, longe de ti, essas coisas que, se não fossem sustentadas por ti, deixariam de ser” 5. Se, no âmbito pessoal, o consumismo leva a essa escravidão, no âmbito social, tende a desprezar o meio ambiente, levando à destruição deste em nome do progresso sem ética.

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No cientificismo se consideram as ciências experimentais como fonte do conhecimento infalível e método inquestionável de alcançar o progresso. Desconsiderando a ética e a fragilidade dessa fonte de conhecimento (até pouco tempo atrás, a ciência médica dizia que o ovo era terrível para saúde; hoje é bom. Para a Astronomia, Plutão era um planeta; hoje, não o é mais. Coloca-se a ciência como fonte suprema da verdade, e então o veredicto final é a prova científica: “isso é cientificamente comprovado”. Mas a ciência não comprova nada, apenas lança hipóteses a partir das quais novas experiências são feitas. Quanto a isso, exorta Bento XVI na Encíclica Spe salvi, nn. 25 e 26: “A ciência pode contribuir muito para a humanização do mundo e dos povos. Mas pode também destruir o homem e o mundo, se não for orientada por forças que se encontram fora dela. O homem não é redimido pela ciência. O homem é redimido pelo amor”.

Preservemos a natureza

No ecologismo, o belo ideal de proteção e preservação da natureza se transforma em ideologia pelo viés marxista, ou seja, a natureza é oprimida pelo homem e deve libertar-se dele. Com um paradigma messiânico e linguagem apocalíptica, “surge uma nova ética que terá que iluminar as inter-relações complexas entre os fatores econômicos, o meio ambiente e a população”6. “O Homem é considerado um parasita da terra. É melhor para a Terra que esse câncer desapareça”, afirmam os mais radicais ideólogos, como Leonardo Boff7. O valor da vida humana relativiza-se em face da primazia da natureza, especialmente os animais. É sob essa perspectiva que donos de animais não os veem mais como criação, mas como um membro de sua família, a tal ponto que, segundo uma pesquisa, entre seu animal e um vizinho, escolheria salvar o seu bicho se ambos estivem sob o risco de morte.

É contra essa tendência enganosa, porque se reveste de um manto de consciência ecológica, que Bento XVI exorta na Encíclica Caritas in veritate, n. 51: “A Igreja sente o seu peso de responsabilidade pela criação e deve fazer valer esta responsabilidade também em público. Ao fazê-lo, não tem apenas de defender a terra, a água e o ar como dons da criação que pertencem a todos, mas deve, sobretudo, proteger o homem da destruição de si mesmo. Requer-se uma espécie de ecologia do homem, entendida no justo sentido. De fato, a degradação da natureza está estreitamente ligada à cultura que molda a convivência humana: quando a ‘ecologia humana’ é respeitada dentro da sociedade, beneficia também a ecologia ambiental.”

Zelemos pela criação de Deus

Cabe ao cristão encontrar o verdadeiro lugar da criação, que é obra maravilhosa das mãos de Deus e que está a serviço do homem. Este, por sua vez, deve zelar e cuidar da criação que o Senhor lhe confiou, tanto por lhe servir em vários aspectos como manifestar a ele o próprio Criador.

O Catecismo da Igreja Católica nos ensina no parágrafo 54: “Criando pelo Verbo o universo, conservando-o, Deus proporciona aos homens, nas coisas criadas, um permanente testemunho de Si e, além disso, no intuito de abrir o caminho de uma salvação superior, manifestou-se a Si mesmo, desde os primórdios a nossos primeiros pais”. Que o Espírito, desde o início, que pairava sobre o caos da criação8, sopre hoje sobre nós, sobre o mundo, ordenando nossas consciências e nossos gestos para que possamos, em meio a tantas confusões, construir “Uma nova Terra, um Novo Céu”.

Referências:
1- Gn 1, 31.
2- Tg 1,13.
3- Cf. Gn 2, 19 e 20.
4- Bento XVI, Catequese
5- Santo Agostinho, Tarde Te Amei
6- Cf. UNESCO, Diez Problemas Prospectivos de Poblacion, Documento trabalho, Caracas, Fev 1991.
7- Cf. Juan Claudio Sanahuja, Poder Global e Religião Universal
8- Cf. Gn 1,2