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A cruz permanece firme enquanto o mundo gira

“Dê-me uma alavanca e um ponto de apoio e eu moverei o mundo”, teria dito Arquimedes, um dos maiores gênios da história, pouco mais de dois séculos antes do nascimento de Jesus. Como grande matemático que era, ele sabia da necessidade de que houvesse lugares firmes sobre os quais se apoiar.

Minha filha mais nova está com onze meses e ainda não anda, mas tem se aventurado aos poucos. Ela já fica de pé sozinha, mas prefere ter algo em que se segurar. Quando tentamos estimulá-la a dar os primeiros passos, ela fica insegura, faz movimentos circulares com os braços em busca de maior equilíbrio e reluta em sair do lugar, porque ela já compreende os riscos de cair. Em pouco tempo, contudo, ela treinará o suficiente para se sentir confiante, desenvolverá equilíbrio, começará a andar e já não precisará de um ponto de apoio para ficar de pé. Ao longo da vida, entretanto, precisamos de muitos outros lugares firmes para nos servir de apoio, e não será diferente com minha filha. A escolha desses lugares é fundamental, e infelizmente a maior parte das pessoas tem escolhido errado.

Arquimedes compreendia que para mover o planeta Terra ele precisaria de um ponto de apoio mais firme que a Terra, que não vacilasse com o imenso peso do nosso planeta. Em que apoiar então a nossa vida?

A cruz permanece firme enquanto o mundo gira

Foto ilustrativa: Bruno Marques/cancaonova.com

O mundo das redes sociais

Há bastante tempo se fala de como o efêmero tem sido mais valorizado do que o que permanece, mas a impressão é que isso nunca foi tão evidente como no tempo atual. Uma breve observação da forma como as redes sociais são concebidas e apresentadas aos usuários ilustra bem isso: tudo se baseia na linha do tempo e na “transitoriedade obrigatória”. Você entra num aplicativo, seja Instagram, Facebook ou Twitter e um algoritmo apresenta a você sua linha do tempo personalizada. Se você sair e entrar cinco minutos depois, ela não será mais a mesma, e em alguns casos será difícil ver novamente uma postagem ou uma foto que chamou a sua atenção. De maneira similar, você entra nos status ou stories e eles têm data de validade. Sumirão depois de um dia, porque precisam dar lugar à novidade. Isso não é algo artificial, estranho ao ser humano, uma invenção bizarra das redes sociais. Pelo contrário, é um reflexo, resultado do que a humanidade tem valorizado. Essas grandes empresas apenas apresentam aquilo que sabem que as pessoas querem consumir. Se temos vivido em função do transitório, naturalmente nossos pontos de apoio são coisas transitórias.

Temos colocado nossa confiança em coisas que passam: segurança material, pessoas, afetos, ideologias, reconhecimento, fama, poder. Essas coisas nos distraem por um tempo, mas nunca nos satisfarão de verdade, e o motivo é bem simples: temos uma alma, que é eterna, dentro de nós, e o que é eterno só encontra satisfação no que é eterno, jamais no que é passageiro. Temos agido como se fôssemos só corpo, que passa, que dura alguns anos e depois vira pó, por isso temos empreendido essa corrida insana por alguma segurança, algo que faça sentido em meio ao caos que o mundo vive. E quando o inevitável acontece e percebemos que construímos a nossa casa sobre a areia, que nossos pontos de apoio eram frágeis como bolhas de sabão, nos desesperamos.

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Jesus jamais passará

Algumas ideologias duram há séculos, mas elas passam. As pessoas passam, assim como os afetos, a beleza, a fama, o dinheiro. No meio disso tudo, o que nos traz segurança? O lema da Ordem Cartuxa, fundada por São Bruno no século XI, é “a Cruz permanece firme enquanto o mundo gira”. É só dessa verdade que precisamos para viver. “Permanecei em mim e eu permanecerei em vós”, disse Jesus. Jesus não passa, suas palavras não passam, ainda que céus e terra passem. Essa é a radicalidade “tão antiga e tão nova” que sou convidado a viver, e como ela me dá segurança! Mas o que significa exatamente dizer que a Cruz permanece firme enquanto o mundo gira? Olhe para a sua vida e você encontrará a resposta em fatos simples. Você perdeu o emprego? Está enfrentando uma doença? Quem sabe tenha perdido um ente querido recentemente, ou talvez esteja com muito medo por conta da pandemia. Talvez você esteja enfrentando a dor de ver as estruturas de sua vida se abalarem diante de algum acontecimento doloroso. É o mundo, implacável, que gira.

O mundo não é um playground, um parque de diversões, como tentam nos convencer. “No mundo, tereis aflições, mas tende coragem, eu venci o mundo”, disse-nos Jesus. O mundo não para de girar, e notícias ruins vêm e vão e há momentos em que parece que não tem como ser pior, que não há solução. O sofrimento se abate sobre nós, mas a Cruz permanece firme. Dois mil anos atrás o próprio Deus se encarnou no seio da Virgem Maria, anunciou a Boa Nova para que as pessoas se convertessem, morreu na Cruz para nos redimir dos nossos pecados e ressuscitou, vencendo a morte. Nada nunca mudará isso. O Deus único se tornou homem e morreu para me redimir. Em meio à maior dor ou provação que eu enfrente, nada nunca mudará o fato de que Deus morreu por mim.

A Cruz permanece firme, penhor do amor de Deus por mim, prova de quão valiosa é a minha vida, certeza de que não acaba aqui. “Não se perturbe o vosso coração”, disse Jesus, pois “na casa de meu Pai há muitas moradas e vou preparar-vos um lugar”. A Cruz é a garantia desse lugar preparado por Jesus, é o ponto de apoio de que preciso para não me perder na linha do tempo do mundo, para me manter de pé quando eu me desequilibrar. Tomar posse dessa verdade, viver isso com fé transforma tudo na vida de uma pessoa, pois não importa o sofrimento pelo qual eu passe, quando eu olhar para a Cruz, verei que ela permanece firme. O meu sofrimento não vai acabar magicamente, mas eu terei a certeza de que a dor, o desemparo, a aflição, a tristeza, a insegurança, tudo isso é passageiro diante do amor de Jesus manifestado na Cruz. O que eu preciso fazer é rezar persistentemente, pedindo a Deus a fé inabalável nessa verdade, pois só assim poderei transferir a segurança que eu depositei nas coisas transitórias para a Cruz de Cristo.

Duzentos anos depois da sua morte, Arquimedes teria a resposta para o seu pedido. A Cruz é a um só tempo o ponto de apoio a e alavanca que move o mundo. Permaneçamos na Cruz enquanto o mundo gira.