essência

O ser humano é livre para escolher ser mais que sua doença

A essência do ser humano

Nicolai Hartman, com sua ontologia, e Max Scheler, com sua antropologia, entre outros nos remetem a um mundo onde o homem é visto na sua totalidade, não como um sistema fechado e reduzido, mas como um sistema aberto, projetado para o mundo fora de si mesmo. É a partir dessas raízes que Frankl concebe o homem: “… pertence à essência do homem o ser ele, em todo caso, aberto, o ser “aberto ao mundo”- ser homem, já de si, ser para além de si mesmo. A essência da existência do ser humano, diria eu, radica na sua autotranscendência.”

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Se perdemos a essência, tornamo-nos um nada. Igualados a outros seres, misturamo-nos a eles e já não podemos nos diferenciar: não sabemos o que somos. Então, não há sentido nos denominarmos humanos se somos qualquer coisa. Vendo a atual perspectiva da ciência dos nossos dias, que busca a solução para os mais diversos problemas da vida humana, na sede de se igualar a Deus, observamos que o ser humano vai perdendo o que é essencialmente humano.

Mais precisamente no que diz respeito à utilização de células tronco embrionárias para a pesquisa da cura de doenças degenerativas e paralisantes, vemos uma cultura que busca a vida em detrimento de milhares de outras vidas, onde os fins justificam os meios. Se pensarmos nesses embriões como apenas células-tronco, nós o estaremos reduzindo à dimensão biológica; porém, sabemos que um punhado de células sem “alma”, sem “espírito” não serve para nada, fenece, pois ali não há vida.

Da mesma forma, reduzimos aqueles que sofrem de doenças degenerativas a sua própria doença. O Sr. X, por portar uma diabetes, não é uma diabetes, ele é muito mais do que isso. Se a vida dele é reduzida a sua enfermidade, ele não é um ser humano, mas sim um ser sub-humano, porque a dor, a doença e o sofrimento são fenômenos especificamente humanos. Um animal fica doente, sente dor, porém, não tem capacidade de refletir sobre sua condição e transcendê-la.

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Onde fica a liberdade do homem?

Se pensarmos que a diabetes leva a tais e tais consequências, não alcançaremos a dimensão de autotranscendência, que porta a dimensão espiritual que só o homem possui, capacidade de ir além e encontrar sentido em sua doença. Daí, estamos negando também a essência do ser humano de autotranscendência, e caímos no erro de acreditarmos que o homem é determinado e ponto final. E onde fica a liberdade do homem?

É evidente que o homem não está livre de condições biológicas, psicológicas e sociológicas que a vida lhe oferece, porém as mesmas condições o deixam livre para tomar uma posição perante todas as condições. Livre para escolher ser mais que sua doença.

Com isso, não estou recriminando pesquisas científicas honestas, que levam em consideração o ser humano como um ser total e, ao mesmo tempo, único, indivisível e insubstituível. É necessário exercermos a liberdade que temos, todavia, a liberdade só é completa se com ela carregarmos a responsabilidade. Somos responsáveis pela vida, e vida em plenitude.

Mara Lourenço