Outro dia fui questionada sobre amizade. E a pergunta era: “Hoje, é possível ter amizades verdadeiras?”. E, para mim, a resposta é simples e também verdadeira: sim, claro que sim!
O assunto da amizade é tratado desde muito tempo pelos santos e santas da Igreja; alguns Papas já discorreram sobre esse tema; e todo mundo tem ou já teve alguém para chamar de amigo e até algo pra falar sobre amizade. No entanto, não é sobre ter ou não ter amigos que quero tratar aqui, e sim sobre a amizade verdadeira.
O que, então, seriam amizades verdadeiras?
Acho que a própria expressão já se explica e se autofundamenta: trata-se de uma amizade baseada, fundada na verdade. Mas em qual verdade? Bom, para nós, cristãos, a Verdade é uma pessoa: Jesus! Ele é, por excelência, o revelador da Verdade, e a Verdade que Jesus veio revelar, antes de tudo, é que eu e você, todos nós, somos filhos do mesmo Pai e criador de tudo e de todos. Veja, a partir dessa revelação, algumas coisas começam a ficar claras e tomam um corpo novo; se todos nós somos filhos do mesmo Pai, cada um de nós é, portanto, irmão de outros. Logo, uma amizade verdadeira brota da fraternidade que Cristo vem revelar e exemplificar. Sim, pois o tipo de fraternidade que Cristo nos propõe está fundamentada no Seu principal ensinamento, mandamento: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”, e, no desdobramento desse, que diz: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos”. Amar o outro como a si mesmo é o mandamento da amizade verdadeira. E amar é sinônimo de dar a vida.
“Há amigos mais chegados que um irmão”
Amar é uma ação que precisa ser concreta, apesar de conter em si um significado transcendental que, por vezes, parece mais teórico e filosófico do que concreto. Contudo, ainda que filósofos passassem muito tempo explicando, poetas tentassem traduzir, o amor careceria de ação; e a ação que Jesus propõe é a mais sublime, a mais exigente, a mais nobre de todas: dar a vida. E, nesse dar a vida, também não cabem apenas reflexões e teorias, mas atitude concreta, morrer pelo amigo, morrer no lugar do amigo. Mas veja, já que Jesus veio revelar que somos todos irmãos, Ele poderia ter dito: “Não há amor maior que dar a vida pelo irmão” e, se fosse assim, muitos de nós poderíamos ficar presos à palavra “irmão” e concluiríamos, talvez, que pelos irmãos se deve dar a vida, o que em muitos casos já é natural. Mas não foi isso que Jesus disse! Ele foi claro e objetivo: “Não há maior amor que dar a vida pelos amigos”.
A palavra de Deus diz que “há amigos que são mais chegados que um irmão”. Então, quando fazemos a experiência de amar um amigo a ponto de o termos em conta de irmão, dar a vida torna-se uma consequência. E aí está uma amizade verdadeira.
Não empobreça o grande dom da amizade!
Mas você se lembra de que a pergunta era: “É possível ter amizades verdadeiras hoje?”; esse “hoje” pode mudar tudo, tendo em vista que estamos na era do virtual, do digital, na era das redes sociais, das amizades virtuais com quem nunca tivemos ou teremos contato de verdade. Isso pode ser uma grande armadilha na tentativa de empobrecer o grande dom da amizade. E que dom é esse, Carla? A vida! É a vida que se dá, que autentica, ou seja, torna verdadeira uma amizade. Claro que um relacionamento pode começar de forma virtual, mas se não se concretiza no amor doado, na vida doada, não passa de rede social, e rede social não morre por ninguém. Ao contrário, enleia, enreda e pode até matar. Mas aqui já é outro assunto.
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Para não perder o costume, concluímos pedindo ao Senhor a graça de amizades sempre novas e verdadeiras, que são partes da riqueza de Deus dividida conosco; Deus quis ser nosso amigo e nos apresenta os seus melhores amigos, e aqui está uma grande, verdadeira e concreta rede social começada há muito tempo atrás.
Encontro você na rede!