Testemunho

Via crucis, uma jornada de Amor

Via crucis, uma jornada de Amor

Via crucis, uma jornada de Amor foi o que veio ao meu coração diante do que Deus na sua providência me proporciona viver.

Via crucis, uma jornada de Amor

Em uma tarde tranquila, sob a luz suave do crepúsculo que banha carinhosamente cada canto da casa dos meus pais, começa a uma nova história, uma narrativa que transcende o tempo, entrelaçando a sagrada Via Crucis com a jornada terrena que Deus me chama viver.

Recordo a Palavra de Jesus que a Via Crucis faz parte dos que livremente o segue: “Jesus disse aos discípulos: ‘Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga.” (Mt 16,24).

Via crucis, uma jornada de Amor se dá nos acontecimentos da nossa vida cotidiana, e como uma família universal, e filhos amados de Deus, embora vivemos realidades diferentes, fazemos a mesma jornada.

São inúmeros os que vivem a via Crucis e talvez ainda não perceberam que percorrem esse caminho.

Desde que cheguei a casa dos meus pais me dedico todos os dias ao cuidado deles, pois o meu pai foi acometido pelo Alzheimer, e a minha mãe empenhada no cuidado dele e da casa se encontra cansada pois sempre teve a saúde frágil.

Via crucis, não é uma história de tristeza e lamentação, e se olharmos com fé, vemos que é uma via profunda e inesgotável de amor, e se a acolhemos nos torna pessoas resilientes, pois o Amor de Cristo fortalece e nos purifica nos momentos de provação.

Neste cenário, cada estação da Via Crucis se desdobra não apenas como um capítulo da Paixão de Cristo, mas como um espelho das etapas que vivi com o meu pai, minha mãe, minhas irmãs e que reflete um caminho repleto de sacrifícios que culmina na esperança. A via crucis tem uma beleza singular que só o verdadeiro amor é capaz de revelar.

Uma viagem para dentro de si mesmo

Via crucis, uma jornada de Amor nos remete a uma viagem para dentro de si mesmo, onde o fim não é o destino, mas o caminhar lado a lado, de mãos dadas, de corações unidos contra todas as adversidades que surgem.

À medida que sigo por esta jornada, sou convidado a contemplar não só os desafios impostos pela doença do meu pai, mas ver a presença de Deus em todos eles, também nos momentos de ternura, de silêncio, de Irecê, de oferecimento, das pequenas vitórias que são lições de vida que emergem das profundezas da alma.

Em cada queda do meu pai, é preciso um gesto particular de cuidado, uma palavra de conforto, levanta-lo para seguir em frente, motiva-lo na confiança para vencer os medos, é um ato de amor incondicional, de uma força que vem a tona quando disponho sair de mim e me entregar ao cuidado do outro com todo o meu ser.

Convido você, a embarcar comigo nessa viagem da Via crucis, uma jornada de Amor.

Permita-se ser tocado por esta história de fé, esperança e amor. Que ela lhe inspire a encontrar beleza e significado nos atos mais simples de cuidado e compaixão, e que, ao final desta caminhada, possamos todos nós refletir sobre as muitas formas que o amor pode se manifestar, mesmo nas circunstâncias mais desafiadoras da vida.

Rezar a via crucis na enfermidade

Ao chegar na casa dos meus pais para oferecer a minha colaboração efetiva no cuidado do meu pai, fui surpreendido!

Ja com alzheimer em estado crescente contei a ele que ficaria por um tempo, então me disse :

“você viverá a sua via crucis”

Não compreendi a sua fala, mas a guardei no coração. E nesta semana santa faz todo o sentido o que ele me disse.

Então me veio o desejo de partilhar com vocês o que nas madrugadas não dormidas Deus foi me falando ao coração e fui escrevendo está via sacra na vida diante dá enfermidade e te convido a rezar com ela:

**I Estação: Jesus é condenado à morte**

Como Jesus, que enfrenta uma sentença injusta, o diagnóstico do Alzheimer marca o início de uma jornada árdua. A aceitação desta nova realidade vem carregada de temores e incertezas, mas também da determinação em cuidar e amar. A morte não tem a palavra final.

**II Estação: Jesus carrega a sua cruz**

A responsabilidade de contribuir no cuidado de meu Pai com Alzheimer pode ser comparada ao peso da cruz. É um caminho repleto de desafios diários, onde cada passo exige força, paciência e resiliência, e Jesus está conosco para ajudar a carregá-la!

**III Estação: Jesus cai pela primeira vez**

Assim como Jesus, enfrentamos quedas. Elas podem ser quedas físicas, espirituais ou psicológicas. Cada uma delas nos ensina a importância de se levantar e seguir adiante, apesar dos desafios. Jesus é a nossa força e nos levanta!

**IV Estação: Jesus encontra sua mãe**

No momento delicado do enfermo, o apoio particular da família é fundamental, a minha mãe mesmo frágil foi presença incansável honrando o seu matrimônio, na alegria e dor, na saúde e na doença, juntos em família para suportar o meu pai mas suas necessidades dando a ele carinho e amor. Assim foi Maria, que ofereceu consolo e amor a Jesus.

**V Estação: Simão de Cirene ajuda Jesus a carregar a cruz**

Ninguém pode cuidar de alguém sozinho. A família e profissionais de saúde são Simões no caminho, dividindo o peso e oferecendo ajuda e consolo. Jesus não nos deixa sós, se preciso for nos envia os seus anjos para nós ajudar

**VI Estação: Verônica enxuga o rosto de Jesus**

Os pequenos gestos de cuidado e carinho, enxugar o rosto e após o banho, trocar as fraldas, dar de comer e arrumar a cama, é expressão de amor e dedicação. O mais simples ato é manifestação de amor, e como Verônica somos chamados a fazê-lo.

**VII Estação: Jesus cai pela segunda vez**

As recaídas são comuns na jornada do Alzheimer, a lucidez se altera com períodos de confusão, exigindo de quem cuida maior paciência e compreensão.

Jesus cai para nós levantar na caminhada.

**VIII Estação: Jesus consola as mulheres de Jerusalém**

Mesmo em sua dor, Jesus oferece consolo. Da mesma forma, nas muitas noites sem dormir e na exaustão, é preciso oferecer palavras de conforto e esperança ao meu pai, lembrando-o do amor que nos une. O amor de Jesus nos faz transcender.

**IX Estação: Jesus cai pela terceira vez**

As dificuldades podem parecer insuperáveis, mas a força para continuar vem do amor e da fé. A terceira queda reforça a necessidade de aceitar ajuda externa e reconhecer os próprios limites. A queda é um sinal de fragilidade humana e que sozinhos nada podemos.

**X Estação: Jesus é despojado de suas vestes**

A perda de independência e privacidade pode ser uma das partes mais difíceis do Alzheimer. Como filho, busco respeitar a dignidade de meu pai, ajudando-o com delicadeza e respeito. O enfermo como Jesus é exposto e é desvestido de si mesmo, abandonando-se nas mãos dos que cuidam.

**XI Estação: Jesus é pregado na cruz**

Os momentos de agonia, tanto física quanto emocional, são inevitáveis. Participamos do sofrimento de ver meu pai lutar contra a doença, compartilhando cada dor e cada lágrima, as vezes não nos reconhecendo, se debatendo. Uma via sacra que percorremos unindo-nos aos sofrimentos de Cristo

**XII Estação: Jesus morre na cruz**

O avanço do Alzheimer pode levar a perdas significativas, simbolizando uma forma de morte. Muitas vezes penso que estou a despedir-me lentamente do meu pai, e me recordo de tantos momentos marcantes que vivemos. Compreendo que preciso honrar a sua vida e continuar o seu legado. Jesus até o fim foi fiel ao Pai, dando sua vida morrendo na cruz.

**XIII Estação: Jesus é retirado da cruz**

Retirar alguém da cruz nem sempre será poupá-la do sofrimento, ou da morte, mas aceitar o ciclo da vida, com suas dores e despedidas. Porém em todos momentos vividos Jesus jamais nos deixa , Ele está presente.

**XIV Estação: Jesus é sepultado**

Cada jornada da vida tem o seu fim. É tempo de profunda reflexão de como vivemos. Fazer memórias dos acontecimentos é reviver com gratidão a oportunidade que nos foi dada de estar com os nossos, e elas permanecerão para sempre, pois o amor é eterno e nem mesmo a separação física poderá apagar. O importante é o que fica no interior, da graça de poder participar da vida do meu pai no ápice da sua fragilidade humana que culminará para todos o retorno à pátria definitiva.

**XV Estação: A ressurreição de Jesus**

Para nós cristãos a vida terrena tem um fim, pois o céu é o nosso lugar, e haverá sempre o Domingo, o dia da ressurreição. Cremos na ressurreição dos mortos e na vida eterna onde um dia todos contemplaremos a face de Deus.

Essa é a nossa esperança, a ressurreição!


Nilza Pires Corrêa Maia

Nilza Pires Corrêa Maia é Brasileira, nasceu no dia 09/03/1974, em Várzea Grande, MT. É Membro da Associação Internacional Privada de Fieis – Comunidade Canção Nova, desde 1999 no modo de compromisso do Núcleo.