Doutores da Igreja

Santos Basílio Magno e Gregório de Nazianzo

No dia 2 de janeiro a Igreja celebra a memória destes dois grandes santos doutores da Igreja do século IV, que tiveram uma grande importância na defesa da doutrina católica. São Basílio nasceu em 330 e morreu em 369. Nasceu na Capadócia; às margens do Mar Negro. Pertenceu a uma família de muitos santos: sua avó Santa Macrina, a mãe Santa Emélia, a irmã Santa Macrina e os irmãos São Pedro, bispo de Sebaste; e São Gregório, bispo de Nissa. Seu avô foi mártir da perseguição de Diocleciano.

São Basílio foi amigo íntimo de São Gregório Nazianzeno, doutor da Igreja, com quem estudou em Atenas. Estudou a vida dos eremitas no Egito, Palestina e Síria; e começou com São Gregório Nazianzeno uma comunidade monástica. Eles estão juntos no calendário litúrgico porque tiveram as mesmas aspirações à santidade, os mesmos níveis culturais e alimentaram a mesma chama de vocação à vida monástica. Eles enfrentaram o imperador Valente (364-378) e a terrível heresia do arianismo.

Santos Basílio Magno e Gregório de Nazianzo

Fotos: Arquivo CN

Santos que eram grandes homens e divulgadores da Palavra de Deus

São Basílio era um homem de ação, não só de pensamento; mais do que escrever, pregava; não especula, socorre; não polemiza, combate. Além de corajoso combatente, foi grande administrador, diplomata e organizador.

São Basílio Magno foi quem mais influiu no monaquismo na Capadócia (Turquia de hoje). Adotou as regras de São Pacômio e as modificou; começou a criação de escolas anexas aos mosteiros. Sua irmã santa Macrina fundou um convento.

Em 370 tornou-se bispo de Cesareia da Capadócia. Combateu a heresia do arianismo, que negava a divindade de Cristo, e o apolinarismo, que negava a existência do pecado original. Destacou-se no estudo da Santíssima Trindade, contra as heresias trinitárias do seu tempo.

Atividade pastoral

São Basílio foi pioneiro da vida cenobítica no Oriente: no ano 358, juntamente com São Gregório Nazianzo, redigiu duas importantes Regras que orientou a vida dos monges basilianos (Grandes Regras e Pequenas Regras). Pôde desfrutar pouco do silêncio. Ordenado sacerdote, logo foi chamado para bispo de Cesareia da Capadócia.

Em vida, recebeu o título de Magno por causa da sua intensa atividade pastoral, de suas vibrantes homílias, suas obras, como a Carta aos jovens e um rico Epistolário.

São Basílio Magno escreveu uma carta a Santo Ambrósio, o grande bispo de Milão, dizendo: “Não conheço o teu rosto, mas a beleza de tua alma está diante dos meus olhos. Do meio de uma cidade real, Deus escolheu um homem eminente por sabedoria, nascimento, formosura de vida e pela eloquência de suas palavras; escolheu-o e colocou-o à frente do povo cristão”.

O tema por ele preferido era o da caridade concreta aos irmãos necessitados. Em Cesareia, criou hospícios, refúgios, hospitais, albergues, laboratórios e escolas artesanais. Fundou a cidade da caridade, que o povo chamou de Basilíades.

Escreveu ao Papa Dâmaso contando a dificuldade da Igreja no Oriente e pediu-lhe o envio de legados pontifícios para o combate às heresias.

O Papa João Paulo II, falando da vida monástica, escreveu: “Muitos opinam que essa instituição tão importante em toda a Igreja como é a vida monástica ficou estabelecida, para todos os séculos, principalmente por São Basílio ou que, pelo menos, a natureza da mesma não teria ficado tão propriamente definida sem a sua decisiva aportação” (Carta Apostólica Patres Ecclesiae, 2; 1980).

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São Gregório Nazianzeno

São Gregório Nazianzeno (329-390), Doutor da Igreja, nasceu em Nazianzo, na Capadócia, de uma família de santos; era filho do bispo local, o Santo Gregório o Velho, que o ordenou padre; sua mãe Santa Nona, que converteu o marido, a irmã Santa Gorgônia e o irmão São Cesário. Frequentou as mais célebres escolas da sua época: primeiro, Cesareia da Capadócia, onde estreitou amizade com São Basílio, que, depois, o ordenou bispo. além dela, também esteve em outras grandes cidades do mundo antigo, como Alexandria do Egito e, sobretudo, Atenas, onde encontrou novamente Basílio (Oratio 14-24: SC 384, 146-180)1.

Gregório recebeu o Batismo e orientou-se para uma vida monástica: a solidão, a meditação filosófica e espiritual fascinavam-no. Ele mesmo escreverá: “Nada me parece maior do que isto: fazer calar os próprios sentidos, sair da carne do mundo, recolher-se em si mesmo, não se ocupar mais das coisas humanas (Oratio 2, 7: SC 247, 96).

Por volta de 379, Gregório foi chamado a Constantinopla, para guiar a pequena comunidade católica fiel ao Concílio de Niceia e à fé trinitária. Defendeu a fé trinitária e recebeu o título de “teólogo”. Para ele a teologia não é uma reflexão meramente humana ou muito menos apenas o fruto de especulações complicadas, mas fruto de uma vida de oração e de santidade, de um diálogo assíduo com Deus.

Enquanto participava no segundo Concílio Ecumênico de 381, São Gregório foi eleito Bispo de Constantinopla e assumiu a presidência do Concílio. Mas desencadeou-se contra ele uma grande oposição e a situação tornou-se insustentável. Chegou-se assim, à sua demissão.

“Adeus, grande cidade, amada por Cristo […]. Meus filhos, suplico-vos, guardai o depósito da fé que vos foi confiado (1 Tm 6,20), recordai-vos dos meus sofrimentos (cf. Cl 4,18). Que a graça do nosso Senhor Jesus Cristo esteja com todos vós” (Oratio 42, 27: SC 384, 112-114).

A primazia de Deus

Regressou a Nazianzo e por cerca de dois anos dedicou-se ao cuidado pastoral daquela comunidade cristã. Depois, retirou-se definitivamente em solidão na vizinha Arianzo, a sua terra natal, dedicando-se ao estudo e à vida ascética. Nesse período, compôs a maior parte da sua obra poética, sobretudo, autobiográfica. São Gregório nos ensina a primazia de Deus: sem Deus o homem perde a sua grandeza, sem Deus não há verdadeiro humanismo.

São Gregório Nazianzeno assim concluiu: “Fui criado para me elevar até Deus com as minhas ações!”. Compôs numerosos discursos, várias homilias e panegíricos, muitas cartas e obras poéticas, quase 18.000 versos. Tinha compreendido que era essa a missão que Deus lhe confiara:

“Servo da Palavra, eu adiro ao ministério da Palavra; que eu nunca consinta o descuido deste bem. Eu aprecio esta vocação e desejo-a, ela proporciona-me mais alegria do que todas as outras coisas juntas” (Oratio 6,5: SC 405, 134).

Para ele, Maria, que deu a Cristo a natureza humana, é a verdadeira Mãe de Deus (Theotókos: cf. Ep. 101,16), e, em vista da sua altíssima missão, foi “pré-purificada” (Oratio 38,13).

Referência Bibliográfica:

1 As referências da Oratio são da Catequese do Papa Bento XVI sobre São Gregório Nazianeno.

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Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br e Twitter: @pfelipeaquino