A importância de proteger a pureza infantil
“Deixai vir a mim estas criancinhas e não as impeçais, porque o Reino dos Céus é para aqueles que se lhes assemelham”(Mt 19,14). Infelizmente, o mundo moderno retirou do olhar humano aquela pureza que encontramos nas crianças. Mas também, nos últimos tempos, têm sido retirado dos pequeninos esta mesma pureza. Um dos temas que tem chamado a atenção nas redes sociais é a chamada “adultização”.
Primeiro de tudo, vamos entender esse verbete. Uma pesquisa rápida pela internet e já recebemos uma resposta que nos ajuda a compreender.

Crédito: chuckcollier / GettyImages
“A adultização é um fenômeno social em que crianças ou adolescentes são expostos, ou incentivados, a comportamentos, responsabilidades e experiências típicas do mundo adulto antes de alcançar a maturidade física, emocional e psicológica necessária para lidar com tais situações. Essa abreviação da infância pode gerar consequências significativas para o desenvolvimento integral da criança”1.
Para menores de idade, é preciso constituir limite
Veja que o conceito apresentado pela Wikipédia apresenta algumas situações que caracterizam essa realidade. Destacamos os mesmos pontos apresentados: exposição, incentivos, comportamentos, responsabilidade e experiências. Para menores de idade, constituir limite sim, segundo meu entendimento, porque, para crianças e adolescentes, a exposição, por exemplo, não pode ser ilimitada a qualquer tipo de situação.
Muito menos eles poderiam ser incentivados a práticas que não condizem com suas capacidades cognitivas e de discernimento. Isso sem falar em atribuição de responsabilidades de alta complexibilidade.
No Estatuto da Criança e do Adolescente do Brasil (ECA)2, no Art. 3º, destaca-se que a criança e o adolescente gozam de direitos fundamentais da pessoa humana, mas que também deve ter o direito a “todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade”.
Isso significa que, ao excluirmos delas essa fase da vida, também estamos retirando esses direitos fundamentais, principalmente a de proporcionarmos um adequado desenvolvimento nos âmbitos supracitados.
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O uso das telas e o desenvolvimento das crianças
O que estamos debatendo também, neste tempo, diz respeito ao acesso desses menores nas mídias sociais. O debate do uso das telas para o desenvolvimento cognitivo das crianças tem ganhado as rodas de conversa e de fóruns com aqueles que estudam e trabalham na pedagogia. E o que se chegou à conclusão é que não tem contribuído para o desenvolvimento; ao contrário, tem limitado a capacidade de raciocínio lógico3. Em consequência, aparece o debate da regulação delas, principalmente quando diz respeito a essa categoria de pessoas. Mas esse debate ficará para uma segunda oportunidade.
Todavia, este tema só apareceu porque foi exposto a partir do uso indiscriminado das redes sociais, por parte de pessoas, de alguma forma, chamada de “exploradores de menores”, que usavam desses menores para conseguir destaque nas redes sociais. E não só, mas para conseguir patrocínios e lucrar financeiramente com tais conteúdos. Digo conteúdos porque temos a transformação de uma pessoa em um “produto de consumo”. Esse movimento caracteriza as mídias sociais quando se trata da apresentação de pessoas como destaque.
Preservar a imagem das crianças e adolescentes
Essa exposição indiscriminada das crianças e adolescentes, segundo meu limitado entendimento do direito civil, pode, de algum modo, configurar uma infração do Estatuto da Criança e do Adolescentes citado anteriormente, principalmente se levarmos em conta os artigos 17 e 18 do referido código. Este, por sua vez, tem como pano de fundo a preservação da imagem da pessoa que ainda está em formação psicológica, física e moral, e que não pode ainda, segundo a visão do legislador, responder em perfeição por seus atos.
Adultização, um fenômeno também praticado no passado
Por esta razão, o ECA diz também que adultização, portanto, tem como entendimento tornar adulto aqueles que não o são, principalmente por sua falta de idade. Seria a ideia de tirar a fase infantil da pessoa para ceder lugar a características próprias do adulto. Esse fenômeno, no passado, também foi praticado, porém com outra roupagem. Quando as crianças assumiam postos de trabalhos no campo ajudando seus genitores na lida das lavouras e, depois, na revolução industrial, nas fábricas.
É o chamado trabalho infantil que, hoje, de algum modo, está regulado para idades vizinhas à idade adulta com o termo “jovem aprendiz”4. Que tem como finalidade muito mais a educação e o aprendizado de uma profissão, ou preparação para adentrar ao mercado de trabalho, do que propriamente estabelecer responsabilidade e vínculo empregatício. Neste caso, sem atribuição daqueles conceitos anteriormente citados.
A sensualidade acaba por atingir também os menores de idade
Essa ideia da adultização ganha ainda mais destaque quando percebemos que, no fundo, o que se busca é a inserção desses adolescentes a uma sexualização cada vez mais precoce. Neste mundo hedonista5 em que estamos inseridos, o destaque pela sensualidade da pessoa acaba por atingir também os menores de idade. Basta observar nas vestimentas que, muitas vezes, os pais adquirem para seus filhos. Nas músicas que escutam em festas com a presença de crianças, ou que, muitas vezes, são preparadas para essas mesmas crianças.
O abandono da fé e da moral e a relativização destes tem levado os homens de nosso tempo para um viés cada vez mais distante de uma mentalidade moderada. Os excessos tornaram-se cotidianos. Assim, não mais nos assustamos com o fato de uma criança ou adolescente aparecer com roupas, ou com danças sexualizadas. Aliás, digo nós de forma generalizada, porque não me parece ser o que os fiéis católicos de nosso tempo pensam.
Certamente, não é. Isso porque temos percebido uma mudança de mentalidade e um retorno à vida modesta, principalmente no falar, vestir e portar-se dos católicos do nosso tempo. E isso começa a impactar positivamente as pessoas ao redor do mundo.
Proporcionar uma melhor formação humano-social e religiosa
O testemunho dos católicos, nos últimos tempos, tem se tornado uma verdadeira forma de barreira contra essa mentalidade hedonista e sexualizada do mundo contemporâneo. Por isso, devemos incentivar, cada vez mais, ações que ajudem a frear esta onda que tenta retirar das nossas crianças a sua infância. Devemos promover as diversas iniciativas que ajudem a devolver aos jovens, adolescentes e crianças, aquilo que é próprio dessas idades. Como o estudar, brincar e o descobrir do encantamento da vida e da fé.
Por isso, podemos encontrar alguns caminhos propostos pela fé e pela experiência humana para reestabelecer as nossas crianças suas principais características. O principal deles acredito que é a oportunidade do brincar. Muitos pais, com o intuito de dar uma melhor formação para seus filhos, preenchem a semana com programações tão extensas (natação, jiu-jitsu, reforço escolar, canto, aulas de instrumentos etc.), que as crianças não possuem oportunidade nem mesmo de usufruir dos muitos brinquedos que seus próprios pais lhes dão.
Toda essa programação parece muito boa se entendida de forma muito leve, sem responsabilidade, como quem treina para um campeonato. Outra característica é a oportunidade de conviver em ambientes religiosos, frequentar a catequese com outras crianças. Convivência com os parentes mais próximos, como os avós. Tudo isso proporciona uma melhor formação humano-sociável e religiosa. Além de descobrir-se parte de uma família.
É preciso pensar na formação das novas gerações
Acredito que este debate da adultização surgiu num momento propício para discutirmos sobre a formação das novas gerações. Pensemos que não se trata somente de questões jurídicas atuais, mas também de pensarmos os caminhos da sociedade.
De pensarmos como gostaríamos de estar nos próximos anos. Nossos jovens precisam ser formados na dignidade e no respeito, para que possam também, no futuro, defender este mesmo respeito e dignidade para todos. Assim, peçamos a Deus que conceda a todos discernimento e responsabilidade na formação das novas gerações.
Pe. Jaelson C. Santos
Diocese de Teixeira de Freita/BA – Mestrando em Teologia Moral pela Pontifícia Universidade Lateranense de Roma.
Referências:
1- Cf. «Adultização», em Wikipédia, a enciclopédia livre, Page Version ID: 70875217, em https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Adultiza%C3%A7%C3%A3o&oldid=70875217 [accesso: 19.9.2025].
2- Cf. «Estatuto da criança e do Adolescente».
3-O governo Federal lançou um Guia sobre o uso de Dispositivos Digitais, para Crianças e Adolescentes. Num dos primeiros pontos, alerta sobre os atrasos no aprendizado. https://www.gov.br/secom/pt-br/assuntos/uso-de-telas-por-criancas-e-adolescentes/guia/guia-de-telas_sobre-usos-de-dispositivos-digitais_versaoweb.pdf. Acesso: 19/09/2025, 12:00:45.
4-Cf. «Jovem Aprendiz».
5 – «O que é hedonismo? Muito mais do que você pensa!», Padre Paulo Ricardo, em https://padrepauloricardo.org/blog/o-que-e-hedonismo-muito-mais-do-que-voce-pensa [acesso: 19.9.2025].