Uma sociedade com grande quantidade de pessoas sábias, será incorruptível e jamais irá acabar
“Os homens inventaram novos ideais porque não se atrevem a buscar os antigos. Olham com entusiasmo para a frente porque têm medo de olhar para trás”. G. K. Chesterton
Entendendo o sábio Chesterton, vamos olhar para trás, para os clássicos e assim aprender com eles que foram os que mais compreenderam a necessidade de formar pessoas sábias. Platão, nos seus livros, apesar de deixar claro ser uma utopia, mostra o que seria preciso fazer para construir uma sociedade justa. À partir das suas meditações, trazendo para a nossa realidade, podemos perceber onde perdemos o fio da meada.
Seguimos pessoas sábias
As pessoas seguem homens sábios, mesmo que estes não tenham nenhum tipo de poder temporal. É natural que as pessoas sigam as pessoas sábias. Para criar uma sociedade justa, é preciso que haja uma grande quantidade de homens sábios.
Imaginando que exista uma sociedade voltada para o ideal da sabedoria, nela deveriam existir escolas para se fazer a seleção daqueles que podem se voltar para ela. Como seria?
O primeiro passo seria isolar as crianças do mal do mundo e mostrar a elas somente ideais belos e elevados. Não mostrar maldades. Ensinar a busca de ideais elevados. Mostrar as belezas da vida, mostrar às virtudes, ensinar o valor dos estudos… Nessa escola devem existir também jogos e brincadeiras. As crianças que, nos seus momentos livres, gostarem de ler, de continuar tendo contato com os ideais elevados, esses mostram vocação para a sabedoria. Os demais, se encaminham para as demais escolas para aprenderem, também, outras coisas, mas não mais os estudos da sabedoria.
Após essa seleção, se iniciam os estudos de treinamento moral para vencer as paixões, (Platão entende as seguintes paixões: estupidez, ignorância, intemperança, injustiça, prejuízo, covardia, moleza, arrogância, insolência (mal humor), baixeza, maldade, adulação, inveja, descontentamento), superando as paixões alcança-se as virtudes (Justiça, temperança, fortaleza, domínio de si mesmo, piedade, alegria, bom humor, magnificência, arte, habilidade industriosa).
A marca do homem sábio, além dele governar contra a vontade, pois não tem o menor interesse de poder, não precisam de exército, não tem medo da morte (não se corrompe por ameaças), e ele não é amigo do dinheiro, (não tem ganância e se contenta com somente o necessário). Na Igreja Católica, os padres tem voto de pobreza para essa finalidade. Se a pessoa não é dada ao dinheiro, ela nunca será subornável.
Leia mais:
:: Os princípios da crise do homem moderno sob a luz da Igreja
::Conselhos do Papa Francisco para a educação dos filhos
::Como formar crianças emocionalmente fortes e equilibradas?
::Não terceirize a educação dos seus filhos
A importância da educação
Cabe a nós entendermos a concepção e a relevância que os gregos davam à educação e colocarmos em confronto com a importância que damos no tempo de hoje, e também compreendermos como São Tomás de Aquino descreve a finalidade da educação.
A formação de um homem sábio, segundo Platão, duraria cerca de 50 anos. E encontramos na obra Suma contra os Gentios o ofício do homem sábio:
Contemplar a verdade, lembrando que a contemplação é o grau máximo da inteligência;
– Ordenar todas as coisas;
– Mostrar os erros;
– Explicar os princípios, por exemplo o princípio de existir.
Voltando a Platão. Uma sociedade com grande quantidade de pessoas sábias, será incorruptível e jamais irá acabar. Será uma sociedade justa. Para destruir uma sociedade constituída de homens sábios, seria preciso começar corrompendo às crianças, na sua mais iniciante educação. Uma vez corrompida a formação das crianças, quatro gerações depois, a sabedoria começaria a cair em qualidade, ao ponto das pessoas já passarem a preferir seguir não mais os sábios existentes, mas sim aqueles que têm melhor carisma de liderança.
Cerca de quatro gerações nessa situação, se inauguraria uma nova preferência na escolha dos seus líderes. Não seria nem os sábios antigos e nem os de carisma de liderança, mas sim aqueles que têm grandes feitos: na guerra, nas decisões sociais, nas benfeitoria, ou seja, seria uma escolha por pessoas gloriosas.
Passadas mais algumas gerações, a sociedade mudaria para a escolha das pessoas mais bem sucedidas nas finanças. O sábio, como não é dado ao dinheiro, não teria a destreza de lidar com o dinheiro, como aqueles que tem ganância e esperteza para aumentar suas finanças. Gastam longo tempo pensando como aumentar sua renda. No entanto, passadas tantas gerações de pessoas, com tanto decaimento do nível de sabedoria, a sociedade já estaria corrompida o suficiente a ponto de em conjunto, seus membros estarem já buscando a vida desregrada daqueles que gostam do ter, do poder, das facilidades, do esbanjamento. A sociedade como um todo, já estaria na busca do poder econômico. Seria o poder econômico que governaria a sociedade.
Sábios formam governo
Esses “sábios”, ao liderarem o povo, já não se preocupam tanto uns com os outros, mas como todos já se voltam para o poder econômico, às polarizações começam a surgir. Os ricos vão ficando mais ricos e os pobres mais pobres, uma vez que os ricos usariam os pobres para fazer sua fortuna. Isso criaria uma massa de pessoas pobres ainda maior e mais oprimida a ponto deles se unirem e derrubarem os ricos à força. Nesse momento surge a democracia.
Na democracia, segundo Platão, existem os políticos, os ricos e os pobres. Os ricos crescem na sua riqueza à custa de astúcia e do trabalho dos pobres. Os pobres vivem para trabalhar, e os políticos para criar leis e governar os ricos e os pobres. Na democracia, o objetivo é que todos estejam contentes. E para os políticos permanecerem no poder, o trabalho deles será fazer de tudo para que a população fique bem: se quiserem comida, geram políticas agrícolas e econômicas para as pessoas enriquecerem. Se quiserem lazer, geram lazer. Se quiserem promiscuidade, luxúria, festas, assim terão.
Ao mesmo tempo, dentre os governantes, há a busca pelo poder. E eles fazem muito isso por meio da demagogia. Com o tempo, sempre surge um demagogo maior. E esse passa a exercer maior influência entre os políticos e na população. À medida que vai aumentando a força desse demagogo, suas conquistas no meio político e na sociedade, todos passam a querer que somente esse governe. Nessa hora surge a tirania.
A imposição de um governo
Passados os anos, para o tirano permanecer no poder, é preciso que ele seja cada vez mais tirânico. Quando a população não aguenta mais, as pessoas se levantariam contra o tirano e o derrubaria! Nesse momento, retorna a democracia.
Para Platão, o fundo do poço de uma sociedade, é o estágio de alternância entre democracia e tirania. E para piorar, ele mesmo deixa claro que, quando uma sociedade chega a esse ponto, não há mais possibilidade de surgirem homens sábios.
Aristóteles veio depois de Platão dentre os principais filósofos gregos. Ele tinha como aluno Alexandre, o Grande. Nas suas expedições, Alexandre trazia para Aristóteles às informações das sociedades que ele conquistava. E em sua maioria, a história das cidades eram que se formavam em torno de um homem sábio que se instalava num local e às pessoas iam morar perto daquele sábio, assim como toda a sua família. E o decaimento dessas sociedades aconteciam mais ou menos do modo como Platão profetizou.
Quando Platão colocou essas coisas, ele deixou claro que isso já havia acontecido em gerações anteriores, e que os gregos já estavam na irreversível alternância entre democracia e tirania.
Conteúdo baseado nas aulas do autor do site www.cristianismo.org.br