Como vimos no artigo anterior, o Papa Francisco, em seu documento Gaudete et Exsultate, que trata sobre o chamado à santidade, apresenta ao povo de Deus um código de conduta. Francisco, com sua maneira direta, simples e prática de ensinar, orienta a cada um em particular para que tenham atitudes que o torne santo.
O objetivo do documento é fazer que cada pessoa possa refletir no seu interior o chamado universal à santidade, com os riscos, desafios e oportunidades, tudo isso em meio à cotidianidade dos afazeres de uma vida normal, e que o mundo não nos ausenta (Cf. n. 2).
Neste artigo, que é o segundo em que estamos tratando sobre o chamado de todo homem à santidade, iremos notar os dois inimigos citados pelo Papa Francisco que atrapalham o homem de atingir a vocação universal. No referido documento “Alegrai-vos e exultai”, o Papa Francisco aponta duas heresias ou, por assim dizer, erros que podem levar um descaminho no processo de santidade, ou o que ele mesmo disse: “falsificações da santidade”. Falsificações que são verdadeiros inimigos nesse caminho à santidade. Estes erros são: o gnosticismo e o pelagianismo. Essas duas formas de pensar o cristianismo são oriundas dos primeiros séculos da Igreja, porém, atualizam-se de maneira inconsciente nos dias de hoje.
O risco do gnosticismo
O Sumo Pontífice alerta para o que o gnosticismo e o pelagianismo, de maneira ampla, dão origem “a um elitismo narcisista e autoritário, onde, em vez de facilitar o acesso à graça, consomem-se as energias a controlar. Em ambos os casos, nem Jesus Cristo nem os outros interessam verdadeiramente” (n. 35). Acontece uma elevação exagerada do homem, a realização do homem aconteceria tão somente no aqui e no agora.
Para compreender melhor o que o Papa esclarece no documento a respeito desses dois erros, analisemos ambos e vejamos o que realizam no homem e suas consequências, para isso, primeiramente, exploremos o gnosticismo.
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O gnosticismo carece de uma fé fechada no subjetivismo, levando o homem a uma prisão na própria razão ou nos sentimentos. O gnóstico não é capaz de tocar a carne sofredora de Cristo nos outros. Acontece assim, um desencarnar do mistério, eles preferem “um Deus sem Cristo, um Cristo sem Igreja, uma Igreja sem povo”. (Cf. n. 37). Essa ideologia quer domesticar o mistério de Deus e da sua graça, assim como fazem na vida dos outros. Contudo, Francisco orienta que, quando nos deixamos guiar mais pelo Espírito do que pelos raciocínios, nós encontraremos o Senhor em cada vida humana.
O pelagianismo
Quando o Papa explora o pelagianismo, ele afirma que os pelagianos tiraram o lugar que a inteligência e a graça ocupavam no mistério e colocaram a vontade. Mas uma vontade sem humildade, surgia aí uma prepotência da vontade, uma espécie de “tudo é possível” pela vontade (Cf. 49). Atualmente, existem cristãos que buscam a justificação pelas próprias forças, no que se pode chamar de adoração da vontade, da própria capacidade, caindo em um egocentrismo, sem nenhum aspecto verdadeiro de amor (Cf. 57).
As virtudes teologais
Com a sabedoria de quem governa a Igreja, o Papa Francisco deixa a saída para os erros do gnosticismo e do pelagianismo. Ele apresenta para o povo de Deus uma hierarquia das virtudes, levando-nos a buscar o essencial. A precedência está nas virtudes teologais (Fé, Esperança e Amor) que trazem Deus como objeto e motivo. E o centro de tudo é a caridade. Francisco apresenta a passagem que está em Romanos 13,8.10: “Quem ama o próximo cumpre plenamente a Lei […] Portanto, o amor é o cumprimento perfeito da Lei.” (Cf. n. 60).
Deixemos que o Espírito Santo nos conduza para águas mais profundas no conhecimento de nós mesmos e na imagem de Deus em nós. Que possamos manifestar o amor pleno e verdadeiro pelos que mais precisam, pelos preferidos de Deus, nunca perdendo de vista a fé, a esperança e a caridade. Se nos munirmos com essas virtudes, estaremos nos protegendo de cairmos em erros e ainda estaremos protegendo os nossos irmãos que trilham o mesmo caminho que nós à santidade.
Quem não ama não chega a conhecer Deus, pois Deus é amor. (1 Jo 4,8)