Em nosso tempo, pouco se fala da graça divina em seus importantes aspectos. Quando se escuta sobre a graça é de forma geral e de uma maneira abrangente, sem dar àquele que escuta uma dimensão de valor desse aspecto da vida de todo cristão.
O que é a graça?
Para entendermos a necessidade da graça para a vida cristã, faz-se necessário entender o que significa quando dizemos “graça”: a graça, em sentido stricto, é um dom sobrenatural concedido à criatura intelectual em ordem à vida eterna. Com isso, o doador dessa graça é o próprio Deus, fazendo de quem a recebe participante da vida divina. Ora, se a origem da graça é Deus, o seu fim é a visão beatífica; por assim dizer, a salvação do homem, por isso, chama-se também graça salutar1.
A graça é um dom, um presente de Deus, que nenhum homem tem o direito de outorgar a si. Ninguém pode merecê-la, embora peça humildemente a Deus em oração confiante e perseverante. Quando se fala de sobrenatural entende-se que a graça é de realidade divina e está acima da natureza humana. Graça essa que é infundida na alma do homem2.
O Apóstolo Paulo, quando escreve aos efésios, em síntese, fala sobre a graça que até aqui foi falado: “Pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se encha de orgulho” (Ef 2,8-9). São Paulo fala também aos Coríntios: “Basta-te a minha graça, pois é na fraqueza que a força manifesta todo o seu poder” (2Cor 12,9).
O que a graça realiza na vida do homem?
A graça, como falado anteriormente, é auxílio para o homem chegar ao seu fim último, que é a visão beatífica, mas também confere a ele forças próprias na caminhada cristã. Essas forças serão apresentadas aqui como forças morais e forças físicas de ordem espiritual.
As forças morais podem ser entendidas como um chamamento que a graça realiza no homem, chamando-o, excitando-o, atraindo-o e arrastando-o para o bem. É para Deus que o homem é atraído, Ele é o Bem supremo, conforme as Escrituras: “Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o atrair; e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6,44). O auxílio da graça pode fazer com que alguém que é inclinado às coisas ilícitas, depois de iluminado por esse dom, se torne mais forte para superar essa tentação3.
Quanto às forças físicas de ordem espiritual, essas são entendidas como que uma ajuda realizada pela graça, para que o homem possa realizar atos que, por si só, seriam impossíveis. Assim, Deus nos socorre com a Sua graça não só em aspectos morais, e sim por forças espirituais, é assistência para atos salutares4. Essa ajuda pode ser entendida nas Sagradas Escrituras: “Não como se fôssemos dotados de capacidade que pudéssemos atribuir a nós mesmos, mas é de Deus que vem a nossa capacidade” (2Cor 3,5). E, ainda, pode-se notar: “pois é Deus quem opera em, vós o querer e o poder, segundo a sua vontade” (Fl 2,13).
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A graça santificante
Para entendermos o que é a graça santificante e seus efeitos, veremos a definição que o Teólogo Royo Marin dá para graça santificante, esse diz assim: “A graça santificante pode ser definida como um dom sobrenatural infundido por Deus em nossas almas, para nos dar uma participação verdadeira e real de sua própria natureza divina, fazermos seus filhos e herdeiros da glória”.5 A partir dessa definição, iremos, agora, entender os efeitos da graça santificante na alma do homem que por ela é justificado.
Segundo Royo Marín, o primeiro efeito da graça santificante é a santificação do homem, fazendo dele participante da natureza divina6. Em conformidade com essa afirmação, o Apóstolo São Pedro escreve na sua segunda carta: “Por elas nos foram dadas as preciosas e grandiosas promessas, a fim de que assim vos tornásseis participantes da natureza divina […]” (2Pd 1,4). A graça adorna a alma humana com uma beleza sobrenatural. Isso acontece porque
a graça é uma certa semelhança com Deus; e, Ele é a fonte de toda a beleza7.
Um outro efeito da graça santificante é o de nos fazermos irmão de Cristo, co-herdeiros com Ele. É o que São Paulo escreve na epístola aos Romanos: “E se somos filhos, somos também herdeiros; herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo” (Rm 8,17). Esse segundo efeito é “consequência” do primeiro, pois, o mesmo transformou a nossa natureza em divina. Com isso, o Pai nos olha com o mesmo olhar que tem para com o seu Filho8. Para que aconteça a adoção divina, tornando-nos assim seus filhos, são necessárias duas realidades. A primeira: que haja semelhança entre o adotante e o adotado – realizado no primeiro efeito –, a graça nos dá a semelhança da natureza divina. A segunda: que o adotado seja inserido na família do adotante – realizado no segundo efeito –; a graça nos faz sermos da família de Deus9.
Por fim, o terceiro efeito é o de colocar nas nossas almas as virtudes infusas e os dons do Espírito Santo. A virtude, em geral, é definida como hábito que aperfeiçoa as faculdades da alma e faz com que elas atuem retamente. Essas virtudes podem ser Teologais e Morais. As teologais, como sabemos, são: fé, esperança e caridade. E as morais, são: prudência, justiça, fortaleza e temperança10.
Com o que foi apresentado de forma breve neste artigo, podemos entender a importância que a graça tem na vida de todo cristão. Por isso, também se faz importante estar em estado de graça, ou seja, sem pecado mortal. O pecado mortal é o único meio pelo qual perdemos a graça divina.
Espero que este artigo tenha ajudado você, caro leitor, a crescer um pouco mais no conhecimento da nossa fé católica. Grande abraço!
Referências:
1 TANQUEREY, Adolphe. Compêndio de Teologia Dogmática. Vizeu: Revista Católica, 1900, tomo III, v. V.
2 MARÍN, Antonio Royo. O grande desconhecido: o Espírito Santo e seus dons. Campinas: Ecclesiae, 2017.
3 TANQUEREY, 1900.
4 Ibid.
5 MARÍN, 2017, p. 100.
6 Ibid.
7 TANQUEREY, 1900.
8 MARÍN, 2017.
9 TANQUEREY, 1900.
10 Ibid.