De cada um de nós, Deus possui duas imagens: a imagem do que somos e a imagem do que poderíamos ser, segundo o projeto divino. Nós valemos não pelo que dizemos ou prometemos, mas por aquilo que somos como pessoa, como cidadão. Temos tendências místicas, religiosas, e sofremos também o apelo da matéria. O bem e o mal disputam espaço entre nós. É a dialética existencial que nos marca, divide e desafia dia e noite. Mesmo dividido, retalhado, deixe seu coração cantar, saudando cada novo amanhecer com fé, esperança e caridade. Você pode e deve ser uma criatura harmoniosa, pacificada e musical.
Deus vê o que realmente somos e não apenas as aparências que criamos
Há, no comportamento humano, um jogo de cena: com frequência, ele volta sua atenção para o cultivo das aparências. Essas impressionam bem mais que a dura realidade. Por vezes, as aparências respondem justamente ao desejo de ocultar a miséria pessoal. Com o passar do tempo, o ser humano se revela incapaz de conviver com sua própria realidade e faz das aparências sua forma de ser. É a máscara. Com alguma esperteza, ele imagina que as outras pessoas seriam levadas a acreditá-lo transparente e veraz. O pior momento desse truque é quando ele supõe, ingenuamente, que, podendo enganar a si mesmo e aos outros, possa fazer o mesmo com Deus.
De forma estupenda, Jesus delineou essa ilusão na figura do fariseu que não hesita em contar vantagens em sua oração; já o publicano, consciente de sua degradação moral, faz apelo à Misericórdia Divina: “tem compaixão do pecador que eu sou!” (Lc 18,13).
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Se Deus, na criação, imprimiu no ser humano sua imagem, não há caminho de vida sem rigorosa fidelidade a ela. Quem investe nas aparências será personagem, jamais pessoa. Verdadeiramente, é admirável, ó verbo de Deus, no Espírito Santo, fazendo com que Ele se infunda de tal modo na alma, que ela se una a Deus, e em nada se alegre fora de Deus (Sta. Maria Madalena de Pazzi).
Eduardo Rocha Quintella
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