“No entanto, procurais matar-me, porque minha palavra não encontra espaço em vós” (João 8,37b)
O capítulo oitavo do Evangelho de João é um texto que narra um daqueles momentos de tensão entre Jesus e os fariseus. Tudo começa a partir do episódio daquela mulher flagrada em adultério, pronta para ser apedrejada, bastando apenas o consentimento de Jesus para tanto. Coisa que não aconteceu! Muito pelo contrário: a mulher foi perdoada e começou a experimentar, a partir daquele momento, a verdadeira força da misericórdia.
Os fariseus, confusos e expostos em sua miséria, partem para uma atitude mais agressiva em relação a Jesus (própria de quem se vê ferido em seu orgulho). A discussão acontece, o conflito torna-se inevitável e, num determinado instante, Jesus fala de forma simples e direta àqueles homens que se orgulhavam da sua história, do seu passado, enfim, de suas raízes: “Nós somos descendentes de Abraão e nunca fomos escravos de ninguém” (Jo 8,33). Jesus diz: “No entanto, procurais matar-me, porque minha palavra não encontra espaço em vós”.
Jesus toca no ponto central de toda a discussão: Ele não tinha espaço no coração daquela gente! A Sua palavra não era aceita; e mais ainda: a Sua palavra não era priorizada!
Amor de Deus
Meditando nessa profundidade do amor gratuito e incondicional de Deus, expresso neste mistério pascal, pergunto a mim e a você que lê este texto: qual é a prioridade?
Temos de ter clara qual é a prioridade de nossa vida. É preciso defini-la. De quem é o primeiro lugar? Ao que dou, de fato, suma importância? Ao viver de tantas e tantas prioridades, acabo não dando o peso de prioridade a nenhuma delas.
Tudo é para ontem. Não temos tempo para nada. Tantos afazeres, tantas responsabilidades e compromissos! Assim, vamos vivendo a vida sempre às pressas. E Jesus nos diz, no meio de tanto corre-corre: “A minha palavra não encontra espaço em vós”.
Peçamos a Deus a graça de fazermos de Sua Palavra, de Sua vida e Seus exemplos a prioridade da nossa vida. E, assim, todo o resto não deixará de ser importante. Pelo contrário: tudo o mais ganhará o seu verdadeiro peso e sentido a partir do momento em que Deus encontrar espaço dentro de nós.
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Converse com Deus
Caso eu e você fiquemos indiferentes a esse convite, corremos o sério risco de “matarmos” o Senhor, mais uma vez, dentro de nossa própria alma: “No entanto, procurais matar-me, porque minha palavra não encontra espaço em vós”. Até quando nos exaltaremos pelos nossos títulos, não permitindo que o Senhor seja tudo aquilo que, como Deus, Ele precisa ser em nossa vida?
Quanto tempo faz que não paramos e entramos numa Igreja para rezar e agradecer o dom da própria vida a Deus, em vez de só lembrarmos que Ele existe na hora que o “calo aperta”? Quanto tempo faz que não falamos das coisas de Deus dentro da nossa própria casa? Quanto tempo faz que a gente não sai do nosso próprio mundo e vai levar sorriso e esperança àquele orfanato, àquele asilo e àquela penitenciária?
Perceba que as perguntas são feitas na primeira pessoa do plural (nós), pois me incluo nisso também! Termino essa reflexão com o profundo desejo de retomar pessoas, situações e atitudes que fui deixando de lado por causa das benditas “prioridades” em que fui me perdendo.
É preciso uma conversão! Por que não começarmos a partir desta semana? Primeiro passo: deixarmos que Jesus, morto e ressuscitado por amor, Senhor supremo por desígnio do Pai, encontre o espaço que Ele merece e precisa para agir em nosso coração.