ESPIRITUALIDADE

A graça e o Espírito Santo

O que é a graça de Deus?

Santo Agostinho disse: “Como os olhos não podem ver sem a luz, assim o homem não pode fazer o bem sem a graça”. Ela não somente nos faz conhecer o que devemos fazer, mas também fazer o que conhecemos.

Deus disse a Santa Catarina: “Pela graça, eu repouso em vossas almas”. Santa Teresa de Jesus disse: “Se por um instante Deus não nos ajuda com sua graça, estamos perdidos”.

A Igreja ensina que a graça é uma “participação na vida divina”, ela nos introduz na intimidade de Deus. Especialmente no Batismo, o cristão tem parte na graça de Cristo. Como “filho adotivo”, pode doravante chamar Deus de “Pai”, em união com o Filho único. Recebe a vida do Espírito, que nele infunde a caridade e forma a Igreja. (cf. CIC 1997)

A graça de Cristo é o dom gratuito que Deus nos faz de sua vida infundida pelo Espírito Santo em nossa alma, para curá-la do pecado e santificá-la; trata-se da graça santificante recebida no Batismo. Em nós, ela é a fonte da obra santificadora, e é o Espírito Santo quem opera na alma desde os seus 7 dons: sabedoria, ciência, entendimento, conselho, fortaleza, piedade e temor de Deus, que vai formando o batizado para viver conforme a vontade d’Ele.

A graça e o Espírito Santo

Foto ilustrativa: arkira by Getty Images

A nossa justificação é graça do Espírito de Deus

A nossa justificação vem da graça de Deus; ela é o socorro gratuito que Ele nos dá para responder a seu convite: tornar-nos filhos de Deus, filhos adotivos participantes da natureza divina, como disse São Pedro (2 Pe 1,3-4) da Vida Eterna.

O Espírito Santo opera na alma de muitas maneiras diferentes, conforme a pessoa coopere com a graça. A “graça santificante” que o Espírito Santo opera na alma é um dom “habitual”, uma disposição estável para aperfeiçoar a alma e torná-la capaz de viver com Deus e agir por seu amor. É distinta da “graça habitual”, disposição permanente para viver e agir conforme o chamado divino, e as “graças atuais”, que designam as intervenções divinas, quer na origem da conversão, quer no decorrer da obra da santificação. Entre as graças especiais, estão as “graças de estado”, para o exercício das responsabilidades da vida cristã e dos ministérios no seio da Igreja.

Tudo isso é obra e graça do Espírito Santo que Jesus, cabeça da Igreja, derramou sobre ela e os fiéis. Assim, Deus acaba em nós aquilo que Ele mesmo começou. Mas esta livre iniciativa de Deus pede a livre resposta do homem, pois Deus nos criou a sua imagem, dando-nos a liberdade.

As graças são dons

As graças do Espírito Santo compreendem igualmente os dons que Ele nos concede para nos associar à sua obra, colaborar com a salvação dos outros e a edificação da Igreja. Isso o Espírito Santo realiza através das graças sacramentais. Além disso, Ele atua pelas graças especiais, chamadas “carismas” (milagres, dom das línguas…), para o bem comum da Igreja e o serviço da caridade. (1 Cor 12 a 14)

Toda a vida e a ação da Igreja no mundo são graças do Espírito Santo, pois Ele é a alma da Igreja. Ele inspirou as Escrituras; conduziu a Tradição Sagrada da Igreja, agindo nos Papas, nos doutores; na assistência ao Magistério da Igreja, ao qual ele assiste; na Liturgia sacramental, onde nos coloca em Comunhão com Cristo; na oração, na qual Ele intercede por nós; na vida apostólica e missionária; no testemunho dos santos, onde continua a obra da salvação.

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A graça nos dá forças para vencermos aquilo que é impossível a nossa natureza

É pela ação da graça que o Espírito Santo opera na Igreja que ocorre o que São Paulo pede:

“Tendo, porém, dons diferentes, segundo a graça que nos foi dada, aquele que tem o dom da profecia, que o exerça segundo a proporção de nossa fé; aquele que tem o dom do serviço, que o exerça servindo; quem tem o dom do ensino, ensinando; quem tem o dom da exortação, exortando. Aquele que distribui seus bens, que o faça com simplicidade; aquele que preside, com diligência; aquele que exerce misericórdia, com alegria” (Rm 12,6-8).

Uma das belas ações das graças do Espírito Santo vemos na vida de Santa Joana d’Arc a uma pergunta capciosa de seus juízes eclesiásticos: “Interrogada se sabe se está na graça de Deus, responde: “Se não estou, que Deus me queira pôr nela; se estou, que Deus nela me conserve”.

Podemos dizer que a graça de Deus, que o Espírito Santo opera na alma, potencializa as suas forças para vencer o que seria impossível à natureza; é o que Santo Agostinho disse: “O que é impossível à natureza, é possível à graça de Deus… Não podem os homens fazer bem algum, quer por pensamentos, quer por palavras ou obras, sem a graça”.


Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br e Twitter: @pfelipeaquino