Sempre que possível, quando atendo os jovens ou pais de jovens, costumo perguntar-lhes: “Quem tem mais deveres, os adultos ou os jovens?”. Com frequência, recebo como resposta: “Os adultos têm mais deveres que os jovens”. No entanto, aproveito-me deste equívoco para fazer alguns esclarecimentos, que acredito serem de grande valia, pois os jovens têm muito mais deveres que os adultos.
Eles “deverão” cumprir coisas que nós, adultos, já realizamos. Portanto, a juventude tem pela frente muitos deveres. Terão de trabalhar, concluir estudos, formar uma família, ter filhos, e tantas outras coisas, e isso, num mundo de forte “turbulência”, atormentado por guerras, drogas, enfim, um mundo cruel que deixamos de herança para eles.
Está mais difícil cumprir os deveres?
No íntimo, eles sabem disso e nós também. Portanto, precisamos ter mais compreensão com os jovens, mais tolerância e, principalmente, mais proximidade. Talvez, seja hora de ouvi-los com maior frequência do que falamos. Querer falar de nossas experiências, de um passado antigo é perder a oportunidade de ouvi-los contar sobre suas vivências neste mundo atual. É perder o presente.
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Também é importante não comparar a nossa juventude com a juventude de hoje, pois, atualmente, podemos entender que, além da adolescência normal, existe também a adolescência tardia, que vai dos 18 aos 25 anos de idade, devido a uma “moratória” dos tempos atuais. Este cenário de desempregos, falta de liberdade, pânico, ansiedade e depressão gerou uma precocidade e, ao mesmo tempo, um prolongamento da adolescência. Por isso tudo, devemos acolher os jovens com responsabilidade e não querer emancipá-los antes da hora.
Dr. Thales Pereira, psiquiatra