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São Nicolau: uma história natalina de verdadeira caridade

Peregrino da Terra Santa e homem de oração

Nicolau nasceu em Patara, uma pequena cidade marítima da Lícia, região do Império Romano (atual Turquia meridional), no III século d.C., em uma família de muitas posses. Recebeu sólida educação cristã. A sua vida, desde a sua juventude, foi marcada pela obediência. Durante os anos de sua juventude, Nicolau embarcou em peregrinação à Terra Santa.

Créditos: cançãonova.com

Passando pelos mesmos caminhos percorridos por Jesus, Nicolau rezou para poder realizar a mesma experiência, mais profunda e solidária, da vida e dos sofrimentos de Cristo. No trajeto de volta, houve uma tremenda tempestade e o navio corria risco de naufrágio. Nicolau pôs-se, discretamente, em oração, e o vento e as ondas, de repente, se acalmaram para o estupor dos marinheiros, os quais temiam naufragar.

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Nicolau tornou-se órfão, ainda muito jovem, de pai e mãe. Lembrando-se da passagem evangélica do “Jovem Rico”, destinou toda a riqueza herdada à assistência dos necessitados, enfermos e pobres.

Foi nomeado Bispo de Mira e, sob o império de Diocleciano, foi exilado e preso. Dez anos depois de anarquia, Diocleciano assumiu as rédeas do Império Romano em 284 d.C. Suas reformas possibilitaram a Roma uma última explosão de brilho.

Entretanto, a vontade imperial de unificação política e religiosa, a impossibilidade para os cristãos de associarem o culto de Jesus Cristo ao rito da adoratio imperial (essencial na ótica de Diocleciano) e o papel sempre mais importante desenvolvido pelo cristianismo na sociedade romana explicam, de modo suficiente, a duração e a violência da última perseguição aos cristãos, “[…] à qual o nome de Diocleciano permaneceu definitivamente ligado” (Pierrard, 1982, p. 29). Depois da sua libertação, em 325 d.C., Nicolau participou do Concílio de Niceia e faleceu em Mira em 343.

A trajetória de fé e milagres de São Nicolau

Há diversos episódios transmitidos sobre Nicolau, e todos dão testemunho de uma vida dedicada a servir aos mais fracos, desvalidos e indefesos.

Dentre as muitas histórias relatadas sobre a vida de São Nicolau, uma delas se refere a um vizinho seu de casa, que tinha três filhas, já em idade nubente, mas carentes de recursos suficientes para compra do dote.

Para livrá-las da prostituição, certa noite, Nicolau colocou dinheiro em um pano, jogou-o pela janela da casa do vizinho e saiu correndo para não ser visto. Graças àquele presente, a primogênita do vizinho conseguiu se casar. O generoso benfeitor repetiu o mesmo gesto outras duas vezes, porém, na terceira noite, o pai das moças saiu rápido de casa para saber quem era aquele benfeitor. Entretanto, o Santo lhe pediu que não contasse nada a ninguém.

Outra história diz respeito a três jovens estudantes de teologia a caminho de Atenas. O dono da hospedaria, onde os jovens tinham parado para passar a noite, subtraiu-lhes pertences e os matou, escondendo os seus corpos em uma pipa. O Bispo Nicolau, que também viajava para Atenas, parou na mesma hospedaria e, enquanto dormia, teve uma
visão sobre o crime cometido pelo hospedeiro. Então, recolhendo-se em oração, São Nicolau deu novamente vida aos três estudantes e obteve a conversão do dono malvado.

Tanto este episódio, quanto o da libertação misteriosa de Basílio – um rapaz sequestrado por piratas e vendido como doméstico a um emir, o qual, conforme a lenda, de forma misteriosa, ressurgiu na casa dos seus pais, com cetro de ouro do soberano estrangeiro – contribuíram para a difusão do nome de Nicolau como padroeiro das crianças e dos
jovens.

Depois da morte de São Nicolau, seu túmulo em Mira tornou-se logo local de peregrinação. Suas relíquias foram consideradas milagrosas por causa de um misterioso líquido chamado maná de São Nicolau, que vertia de dentro. No século XI, quando a Lícia foi tomada pelos Turcos, os venezianos procuraram assenhorar-se delas, mas
foram precedidos pelos habitantes de Bari. Assim, levaram-nas para a Apúlia em 1087.

Dois anos depois, foi terminada a cripta da nova igreja almejada pelo povo bariense. Havia o palácio bizantino, também conhecido por palácio “catapano”, em Bari, na Itália.

O local era a residência do oficial bizantino, o qual era chamado de “catapano”. O palácio foi demolido. No local, hoje se encontra a igreja de São Nicolau. A Basílica Pontifícia de São Nicolau é uma igreja em Bari, no sul da Itália, que possui grande importância religiosa em todo mundo cristão. A basílica é um importante destino de peregrinação. Ela foi edificada entre 1087 e 1197, durante o domínio ítalo-normando da Apúlia, região antes ocupada pelo Império Bizantino de Catapan, cuja sede era Bari.

Sua fundação está relacionada à recuperação de algumas relíquias de São Nicolau do santuário original do santo em Mira, na atual Turquia. Quando Mira passou para o poder dos sarracenos, alguns tomaram tal fato como uma oportunidade para transferência das relíquias do santo para um local mais seguro. Segundo a lenda, que busca justificar a transferência, ao passar pela cidade a caminho de Roma, o santo teria escolhido Bari como seu local de sepultamento. Houve grande disputa pelas relíquias entre Veneza e Bari. Entretanto, Bari venceu a disputa e, na data de 9 de maio de 1087, em segurança, elas desembarcaram na referida localidade. Uma nova igreja foi construída para abrigar os restos mortais de São Nicolau.

A origem das tradições natalinas e a figura de São Nicolau

O Papa Urbano II esteve presente na consagração da cripta em 1089. O edifício foi oficialmente consagrado em 1197, na presença do Vigário Imperial, Bispo Conrado de Hildesheim, e de numerosos bispos, prelados e nobres. A translação das relíquias de São Nicolau teve um impacto extraordinário em toda a Europa. Na medievalidade, seu santuário na Apúlia tornou-se um importante local de peregrinações, tendo como corolário a difusão do culto de São Nicolau de Bari, e não com o nome de São Nicolau de Mira.

Nos Países Baixos, em geral, nos territórios germânicos, a festa invernal de São Nicolau e, de modo particular, a sua proteção das crianças, deram origem à tradição infantil da espera de presentes. Assim, nas vésperas da festa do São Nicolau, as crianças deixam sapatos ou meias sobre uma cadeira ou ao lado da lareira e vão dormir, confiantes de encontrá-los no dia seguinte repletos de presentes.

Destarte, na tradição cristã, é à figura de São Nicolau que, de maneira mais autêntica, se associa a festividade de Natal, o santo benfeitor, da obra caritativa, que dedicou sua vida a ajudar os necessitados, desde quando decidiu distribuir-lhes suas riquezas herdadas. E a festa natalina, é preciso ressaltar, jamais pode deixar de rememorar o presente maior, o Senhor Jesus Cristo, o Verbo encarnado e salvador de toda a humanidade, que deixou o Seu mandamento exponencial como Boa Nova: amai-vos uns aos outros como Ele vos amou.

A propósito, São Nicolau é digno de ser relembrado, e não propriamente a lenda nórdica do Papai Noel, no período natalino, haja vista que, sem dúvida alguma, foi um de seus mais exemplares seguidores.

Marcius Tadeu Maciel Nahur
Natural de Lorena (SP), Coordenador do Curso de Filosofia da Faculdade Canção Nova. Formado em Direito, História e Filosofia. Mestrado em Direito com ênfase na Filosofia de Henrique Cláudio de Lima Vaz. Delegado de Polícia Aposentado.

Referências:
BÍBLIA. Português. Bíblia de Jerusalém. Tradução de Samuel Martins Barbosa et al. São Paulo: Paulinas, 1981. 1663 p.
PIERRARD, Pierre. História da Igreja. Tradução de Álvaro Cunha. São Paulo:Edições Paulinas, 1982. 298 p.S. NICOLAU DE BARI. Bispo de Bari. Disponível: https://www.vaticannews.va/pt/santo-do-dia/12/06/s–nicolau-de-bari–bispo-de-mira.html. Acesso em: 26 nov. 2025.