O papel dos políticos e dos eleitores após a eleição
No último dia 30 de outubro, ocorreu, em muitos municípios do país, o segundo turno do pleito eleitoral, que elegeu, para os próximos quatro anos, os gestores municipais, pondo fim às eleições em 2016. Terminaram finalmente as campanhas muitas vezes barulhentas, as infindáveis promessas e juras de amor pela cidade e seu povo, as carreatas, passeatas, programas na TV e no rádio, cessaram os tapinhas nas costas e os sorrisos fáceis.
Já foram definidos os candidatos vitoriosos e os derrotados. As alianças construídas durante o processo se aninharão no poder ou na oposição dentro do jogo político que caracteriza a democracia brasileira. Mas e o povo, como fica? Qual o papel do eleitor, agora transmutado para a categoria de cidadão no momento pós-urna?
Foto: Arquivo CN
E depois das eleições?
É exatamente dessa premissa que quero partir. A condição de eleitor é transitória e inserida dentro de um intervalo, com uma finalidade específica, ou seja, eleger prefeitos, vereadores, governadores, deputados, senadores ou o Presidente da República. É a eleição que evoca a condição de eleitores. A cidadania, no entanto, é uma condição inerente e inexpugnável do indivíduo dentro de nossa sociedade.
Muito embora o ato do voto também se constitua como uma expressão de cidadania, o fato de sua obrigatoriedade subtrai de algumas pessoas a possibilidade de reflexão sobre a sua real importância e significado social. Por isso mesmo, é necessário enfatizar que assim como acreditamos que a verdadeira vida está após a morte, a verdadeira cidadania se expressa e se constitui fora do período eleitoral.
O Compêndio da Doutrina Social da Igreja, no nº 189 afirma:
“Consequência característica da subsidiariedade é a participação[402], que se exprime, essencialmente, em uma série de atividades mediante as quais o cidadão, como indivíduo ou associado com outros, diretamente ou por meio de representantes, contribui para a vida cultural, econômica, política e social da comunidade civil a que pertence [403]: a participação é um dever a ser conscientemente exercitado por todos, de modo responsável e em vista do bem comum [404].”
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Compromisso com a cidadania
O exercício de nossa cidadania comporta o acompanhamento, a fiscalização e a cobrança de todos os compromissos assumidos em campanha, bem como a governança balizada na ética, na justiça e na transparência. É necessária a participação ativa de todos em vista do bem comum. Nesse sentido, é necessário um despertar do viés político de nossa consciência.
Certa vez, os fariseus, querendo por Jesus à prova, perguntaram se era certo pagar impostos ao imperador romano César. O Senhor pediu uma moeda e respondeu: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. O exercício da cidadania atuante, crítica, fiscalizadora é a nossa devolutiva ao Estado, da parte que lhe é devida de nossas responsabilidades nesse mundo, pois, muito embora sejamos cidadãos do céu, é aqui que transitoriamente nos encontramos.
Independente se os candidatos eleitos receberam ou não os seus votos, a partir de janeiro de 2107 serão estes a deliberar sobre ações que resultarão em educação, saúde, moradia, transporte, conservação urbana, dentre tantas outras coisas custeadas com os recursos oriundos dos impostos pagos por todos nós. Fazer voltar ao povo, principalmente aos mais necessitados, esses serviços é um ato de caridade e justiça, fruto direto da atuação cidadã que acompanha e fiscaliza os gestores e legisladores públicos.
Martin Luther King uma vez afirmou: “O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons”. Informe-se, converse com outras pessoas, fiscalize as ações dos políticos, manifeste a sua indignação frente a alguma ação nociva ao bem da sociedade, e se você estiver em silêncio, que seja em oração pelas muitas necessidades de nosso tempo. Estaremos juntos.