O cristão é orientado por algo divino maior que ele
Nos primeiros séculos da Igreja, Santo Agostinho relata que, as coisas que alguns antigos pensadores haviam dito, sobre o decaimento de uma sociedade, não se constatava ao seu redor. De alguma forma, com o cristianismo, tornou a surgirem homens sábios. Percebeu-se que, Jesus inaugurara um novo modo de governo que nos libertou da “maldição” prevista pelo platonismo: o temporal e o espiritual. “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus!” (Mc 12,17).
Na solução dada por Jesus não se opõe César a Deus, o temporal ao espiritual, o político ao religioso, a autoridade civil ao Reino de Deus. Na Sua resposta, Cristo não sacraliza a autoridade do que manda, mas reconhece-lhe o direito a mandar e apresenta a obediência civil como um dever do cidadão; por isso, concorda com o pagamento do imposto. Mas, ao reconhecer a autonomia do terreno e do poder civil, estabelece, pelo menos implicitamente, uma hierarquia de termos, que a nível da consciência, dá primazia a Deus sobre César.
Cristo apresenta-os como deveres complementares e não eliminatórios em litígio permanente. O “dar a Deus o que é de Deus” é o primeiro; mas daí dimana o fundamento e a obrigação de “dar a César o que é de César”.
A Igreja e os governos
Os governos ficam a cabo de exercer o poder temporal: organização das sociedades, problemas econômicos, leis, saúde, segurança, etc.; e a Igreja exercia o poder espiritual: todo e qualquer assunto moral e espiritual, fica a cabo da Igreja. O governo temporal não interfere na Igreja e nem a Igreja no governo. Com a queda do Império Romano, era possível que a sociedade se desmanchasse completamente assim como as civilizações antigas. Mas, justamente por conta do cristianismo, tudo permaneceu de pé.
A sociedade que se desenvolve no cristianismo não se desmancha. Onde há o cristianismo, há a caridade na sociedade. Onde houver uma tragédia, há a criação de escolas, hospitais, etc.
A Igreja tem a responsabilidade de manter, no coração dos homens, acesa a chama de nunca transgredir, com a criação das leis, o direito natural. O direito natural existe. O ser humano, ao ser criado, assim como vemos no Gênesis, era possuidor de uma intimidade muito profunda com Deus. Tinha um relacionamento face a face com o Senhor. Foi criado depois de todas as coisas e nosso Deus, submeteu tudo a ele (Cf. Gn 1, 28).
O direito natural
O direito natural é o que podemos entender como uma ideia universal de justiça. É um conjunto de normas que o homem já nasce com elas, por exemplo o direito à vida. Entende-se também como sendo o jusnaturalismo ou os princípios do direito. Pode-se entender também como sendo as leis e normas de ordem divinas, estabelecidas pela razão.
Para ajudar a compreender vejamos algumas características do direito natural, ele possui estabilidade e imutabilidade, não sofre alterações com o passar do tempo e com os desenvolvimentos, fato distinto do direito positivo. Ele antecede todas as outras teorias do direito.
Essa intimidade profunda dispensava a existência de mandamentos. Tudo seguia conforme a lei natural plantada no coração do homem. Deus só deu a direção de não comer do fruto da árvore do meio do jardim do Édem, porque ele sabia que se o homem o comesse, morreria, ou seja, romperia essa intimidade com o Senhor. (Cf. Gn 3, 16-17). Ademais, o homem sabia o que fazer, como se comportar de modo que fosse bom para Deus, para o outro e para si mesmo.
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Outra prova de que o direito natural existe, está no que houve com a criação dos campos de concentração, mesmo tendo a aprovação política em todos os estágios, na Alemanha, para a eliminação dos judeus, incluindo a aprovação popular, ao se executar as ordens, todo o resto do mundo percebeu que aquilo ia contra o direito natural.
É possível sim a criação de leis que sejam contra o direito natural. Se a sociedade já não está atenta a isso, ela pode aceitar leis injustas, que vão contra o direito natural, passivamente. A falta de homens sábios é um indicativo de que estamos vivendo essa fase da história, e que o Concílio Vaticano II tinha razão. Se a sociedade já está corrompida em seus princípios, e as pessoas já não conseguem ver, toda a população pode aceitar leis que vão contra o direito natural: aborto, eutanásia, pena de morte, criação de leis tendo por base questões sexuais e ideológicas, etc.
Ao se afastar da Igreja Católica, que é aquela que detém, por excelência, o ensino da lei natural, estamos abrindo o nosso coração para esse tipo de desordem que tornam-se cada vez mais aceitáveis por força da constante repetição. Ao combater-se a Igreja Católica, combate-se ao mesmo tempo, a possibilidade de haver a consciência da lei natural e abre-se a porta para as ideologias de massa e da arma da engenharia de massas.
Por fim, cabe a cada ser humano em boa consciência, deixar não só o direito positivo de orientar a sua vida, mais ainda o direito natural, como essa ordem divina instaurada no seu interior e, também como cristão, deixar ser orientado pela Mãe Igreja e cumprir a ordem que Cristo deixou: “Dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Cf. Mc 12,17).
Conteúdo baseado nas aulas do autor do site www.cristianismo.org.br