Sabe aqueles dias onde o céu, além de nublado, está escuro e com nuvens carregadas; e a natureza parece quieta, não se ouve o canto dos pássaros e, aliás, eles estão mais quietos? As árvores — que, por hora, estão silenciosas como que à espera de algo divino —, por um instante parecem sofrer com o agito dos ventos e a forte intensidade da chuva. O consolo está na esperança dos frutos que vêm após o temporal, eles sempre compensam os sacrifícios.
Lembro-me quando era criança: morava em um sítio e gostava muito de sair de casa, depois da chuva, só para ver as plantas limpinhas… Era a expressão que eu, na minha ingenuidade de criança, usava para explicar ao papai, meu encanto ao contemplar a resposta da natureza depois da chuva.
Na verdade, até hoje, gosto de repetir este ato, principalmente quando tenho a oportunidade de estar em sítios. Diga-se de passagem, o dia chuvoso traz suas riquezas; e como é gostoso pôr uma roupa quentinha e ficar na janela de casa, principalmente se for num fim de tarde, observando os pingos da chuva que caem como que trazendo vida e esperança; tudo se renova, já observaram? E quando, logo após a chuva, o sol aparece, tudo brilha, os pássaros voltam a cantar e a natureza festeja o novo tempo.
O nosso interior também tem dias de chuva
Imagine se isso não aconteceria com o nosso interior? A chuva, as nuvens carregadas e o vento, neste caso, representam as lutas e sofrimentos que enfrentamos inevitavelmente no dia a dia. É o inverno necessário para nossa sobrevivência.
E, quando somos coerentes, damos a mesma resposta da natureza. Os sofrimentos e desafios que enfrentamos tendem a nos revigorar, assim como a natureza é revigorada pela chuva e pelo vento.
É verdade que há dias nos quais, mesmo sem ter explicação, o que a gente mais deseja é ficar quieto e simplesmente existir, sem ter que explicar o porquê. Quando essa atitude, no entanto, está ligada a um sofrimento concreto, é preciso tirar o bem maior da situação.
Quem deseja crescer espiritualmente, precisa, antes de tudo, ter a coragem e a sinceridade de reconhecer um sofrimento como sofrimento, e não fugir dele como alguns infelizmente fazem, lançando-se nas drogas ou em outros vícios. Seria como estar na chuva e ignorar que está se molhando.
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A chuva e sua riqueza com o solo
Ir M. Annette – Movimento de Schoenstatt, falando sobre o valor do sofrimento escreve: “Acontece com a alma humana o mesmo que acontece com o carvalho de poucos anos, ao enfrentar uma tempestade. O vendaval furioso açoita e sacode bruscamente os ramos e o tronco. Assim despertam-se as energias interiores da planta, que atuam, fortificando as raízes. Fazendo-as penetrar o solo, até que o tronco, a copa da árvore sejam capazes de resistir a todos os vendavais. Igualmente as tormentas da alma tornam o homem mais profundo, espiritualmente mais forte e fecundo. Introduzem as raízes de sua alma mais profundamente em Deus. E Nele estando firmemente enraizado, não haverá poder algum nesse mundo que o possa abater ou atirar ao solo”.
Encontre suas riquezas em dias nublados
Se o tempo está nublado em sua vida, o importante é ter a docilidade de viver bem o momento.
Houve uma época em que eu tentava entender o motivo do sofrimento, hoje, aprendi que devo perguntar para quê, pois é certo que ele traz um recado de Deus.
Não tenha medo de ficar quieto quando preciso for e observe bem que, depois da chuva, a natureza é lavada e torna-se mais colorida, mais bonita, assim é a sua alma, após superar um sofrimento. Viva melhor seus dias de chuva, eles trazem as suas riquezas.