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Ciúme ou inveja: qual é o mais nocivo?

Os relacionamentos entre amigos, namorados, casais, empresas etc. podem ser marcados, muitas vezes, por sentimentos que parecem contrários a um movimento saudável de reconhecer o outro em suas características e viver bem com elas. Ao ser questionada sobre o é que destrutível o ciúme ou a inveja, começo este texto descrevendo cada um destes sentimentos.

São Tomás de Aquino define a inveja como tristeza pelo bem alheio, o que a diferencia da cobiça ou voracidade, que é querer o que o outro é ou tem; na inveja há lamento e dor pela felicidade do outro e exultação por sua desgraça. (Informação verbal)

A inveja está relacionada, basicamente, àquela situação ou coisa que desejamos, que cobiçamos que nos faz até mesmo destruir o outro com palavras ou comportamentos para obter. Ela funciona tal como uma certa dor, um desconforto que temos quando nos damos conta do sucesso alheio, suas conquistas, suas felicidades, comparando-as com a nossa vida. Quando isso acontece, aplicamos um veneno em nós mesmos. Contaminados pela inveja iniciamos um movimento autodestrutivo, duvidando de nossas capacidades.

Já o ciúme traz consigo o sentido de ter a posse especialmente relacionada a uma pessoa, ou seja, desejo alguém e quero aquela pessoa exclusivamente para mim. Seja nas amizades ou relacionamentos de namoro ou casamento, temos de, a partir desse sentimento de posse eu quero que o outro seja aquilo que eu queira. Aí começam alguns aspectos complicados e doentios nos relacionamentos.

Ciúme ou inveja: qual é o mais nocivo?

Foto ilustrativa: dragana991 by Getty Images

Mas qual é pior: ciúme ou inveja?

Mas voltando à pergunta do título: “Qual é o mais nocivo: ciúme ou inveja?”. A quais conclusões você chegará ao final do texto. Já, já chegaremos nelas.

“De todas as emoções que experimentamos, o ciúme é talvez a mais difícil de controlar – e a mais perigosa. Ciúme é a paixão direcionada contra a ameaça de traição ou de abandono. É raiva direcionada a alguém que vemos como um intruso ou competidor. É ressentimento pela pessoa que tememos que abuse de nossa confiança. É visceral, fundamental e, algumas vezes, violento. Podemos nos sentir sobrecarregados, sem controle e tomados por ele. Nosso coração e nossa mente são dominados. E nos sentimos perdidos na ansiedade e na impotência” (Leahy, R.).

No ciúme temos uma relação triangular: sim, em 3 pessoas. Sempre haverá, nos pensamentos da pessoa ciumenta, a sensação que uma terceira pessoa ameaça nosso relacionamento. Não nos sentimos confiantes e seguros a ponto de entender que não existe este risco, ou mesmo que, sempre haverá um risco de uma amizade terminar ou um namoro terminar quando estivermos presos às amarras do ciúme. Há uma sombra constante que bate diretamente em nossa autoestima ferida, nossa história de vida passada e naquele sentimento que uma potencial traição ou abandono ocorrerá.

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Confusão entre os sentimentos

Nesse sentido, há sempre uma confusão entre ciúme e inveja, porém são esferas distintas: Com frequência confundimos ciúme com inveja.

“Inveja ocorre quando acreditamos que uma pessoa obteve uma vantagem em relação a nós – algumas vezes injustamente – e nos ressentimos porque achamos que isso reflete mal em nossa imagem. O sucesso dela é o nosso fracasso. Temos inveja de pessoas que competem em uma área que valorizamos: se for empresarial, invejamos alguém que está ganhando dinheiro ou que é promovido. Se for na área acadêmica, invejamos alguém que ganha uma bolsa de estudos ou que publica um artigo.” (Leahy, R.)

Para que possamos distinguir facilmente um do outro, tenha sempre em mente estas duas situações: viver o ciúme é viver a ameaça a um relacionamento e viver a inveja tem ligação direta com fazer comparações.

Consequências negativas

O que nos traz maior confusão é que o ciúme vem acompanhado de uma série de sentimentos negativos, tais como ansiedade, desesperança, medo, confusão, enfim, uma bela enxurrada de emoções negativas. Porém, como ela vem numa relação de amor e afeto, mas marcada pela posse. É comum até mesmo acharmos “bonito” que o outro tenha ciúme por ser um sinal de amor. No entanto, o desenrolar da relação onde há ciúme não é nada positiva.

Vários autores em psicologia descrevem as relações entre ciúme e inveja. Freud fala em ciúme competitivo, projetado e delirante que são feitos em graus e intensidade maiores, chegando a uma forma patológica, ou seja, doentia. Por isso, muitas vezes há a confusão entre ambos.

“Simplesmente ter um sentimento ou pensamento de ciúme não é o problema principal. Os problemas vêm com todos os comportamentos e estratégias de controle que os acompanham. É a resposta o que nos cria problemas. Uma reação em cadeia de ansiedade pode se revelar de forma tão rápida que ficamos completamente surpresos com o que estamos dizendo e fazendo” (Leahy, R.).

Seja portanto, ciúme ou inveja, ambos trazem consequências negativas àqueles que sofrem com as situações. Se sou ciumento ou invejoso não consigo ter relacionamento saudáveis que tenham liberdade, fonte do verdadeiro amor. Se a todo momento invejo a condição do outro, não consigo fazer o meu caminho, aprender com meus erros e ser livre em minha história. Em resumo, ambas situações trazem consigo o sofrimento emocional que pode se espalhar para as pessoas com quem estou. Se isso acontece com você, é tempo de buscar ajuda e reverter essa situação que pode, efetivamente, estar bloqueando uma vida saudável e feliz.


Elaine Ribeiro dos Santos

Elaine Ribeiro dos Santos é Psicóloga Clínica pela Universidade de São Paulo (USP). Colaboradora da Comunidade Canção Nova, reúne 20 anos de experiência profissional, atuando nas cidades de São Paulo, Lorena e Cachoeira Paulista, além do atendimento on-line para o Brasil e o Exterior. Dentre suas especializações estão Terapia Cognitivo-Comportamental, Neuropsicologia e Psicologia Organizacional. Instagram:  @elaineribeiro_psicologa