“Reborn” não significa renascido
“Fizeste-nos para Ti e inquieto está nosso coração enquanto não repousa em Ti”. Estamos vivendo um tempo de verdadeira mudança de valores. Perdendo a direção no caminho que nos leva ao Céu. Por isso, de algum modo, Santo Agostinho conseguiu resumir bem, nesta frase, o que poderia sanar essa inquietude do coração humano. Descansar no Senhor.

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O que vemos, nestes últimos dias com o debate sobre a aquisição de bonecos hiper-realistas, chamados de “baby reborn”, ou numa tradução livre “bebê renascido” não exprime realmente o significado da palavra “reborn”, não se trata de renascimento, mesmo porque ninguém pode “renascer”, a não ser renascer do alto, do Espírito Santo de Deus. Neste renascimento dado pelo Batismo, nós cristãos verdadeiramente professamos que cremos.
Um modo de tratamento para condições psicológicas
O termo diz respeito a um boneco de silicone hiper-realista, ou seja, que parece muito com bebês humanos. Muitas pessoas têm adquirido esses bonecos como modo de tratamento para condições psicológicas ou por apenas Hobbie.
Todavia, em alguns casos, podem manifestar também pontos de inquietude interior. Diante dessa realidade, o mercado procura dar uma resposta criando e oferecendo produtos como respostas. Desse modo, o amor presente em nosso coração não é direcionado para Deus nem para o próximo como nos pede o primeiro e o segundo Mandamento, mas para coisas efêmeras, passageiras e, para usarmos a linguagem atual, para as coisas artificiais.
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Sim, estamos vivendo o período do artificial. E este tempo começou, de algum modo, há algumas décadas com o advento dos produtos industrializados, ditos com sabores, aromas e texturas artificiais. Agora, essa realidade, aos poucos, vai adentrando as relações humanas, principalmente devido ao advento das redes sociais que projeta também um “avatar” da sua personalidade.
Do desprezo pelo semelhante à exaltação de coisas
Ainda, estes “bebês” transportam para si uma carga de significado, dado por algumas pessoas, e que, anteriormente, era doado à pessoa humana. Ou seja, doação do tempo, cuidados especiais, sentimentos de pertença familiar etc. É claro que tem quem os trate como aquilo que de fato são, bonecos hiper-realistas. Eles podem sim ser adquiridos com o intuito do brincar, do laser, da distração, como se faz com qualquer brinquedo; e os que adquirem com o intuito de realizar o desejo de serem pais, buscam uma relação segura, sem frustrações, privando-se das exigências próprias da maternidade.
Do desprezo pelo semelhante
O que se questiona não é o fato disso ser tratado como tal, reconhecendo seu fim, seu propósito. A questão está no fato de darmos um estatuto humanístico para coisas que não são humanas. Ao passo que deixamos de defender a vida desde a sua concepção e favorecemos a sua interrupção, com leis a favor do aborto. Está no ponto do desprezo pelo semelhante e na exaltação de coisas. É quando o legislador civil deixa de se preocupar com situações difíceis da sociedade, como o combate à desigualdade social; a segurança pública; melhorar os recursos hospitalares para se dedicar a debater um estatuto e ou celebrações de coisas.
A escolha pelas coisas que edificam e exaltam a Deus
Estamos, realmente, inquietos, e somente descansaremos quando compreendermos que devemos direcionar nossas energias para as coisas eternas, para as coisas que nos salvam. Somente repousaremos dessas ambiguidades e dos conflitos interiores quando fizermos a escolha pelas coisas que edificam e exaltam a Deus primeiramente, a nós e ao próximo.
Somente repousaremos quando percebermos que esses bonecos de silicone, que possuem mecanismos sofisticados para realizar alguns movimentos, perderão as energias e se apagarão, enquanto a nossa alma, se repousa em Deus, jamais se apagará.
Pe. Jaelson Cerqueira Santos
Diocese de Teixeira de Freitas/Caravelas / Mestrando em Teologia Moral