É normal que os cônjuges tenham receio da viuvez, especialmente aqueles que vivem um bom relacionamento, mas essa é uma realidade que pode atingir qualquer casal.
Eu fiquei viúvo depois de 40 anos de casado. Nunca antes eu havia pensado como seria a minha vida sem minha esposa. No fim de sua vida, ela me disse que “tinha medo de me deixar sozinho”, e eu tinha receio de ficar só. Então, essa insegurança é real.
Assista o 5º e último episódio sobre viuvez:
Diante do medo da morte de um ente querido, é preciso ter fé. São João diz que “esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé” (1 João 5,4). Não há outro remédio. É claro que não é bom ficarmos pensando na morte do outro, pois essa preocupação deve ser colocada nas mãos de Deus, na fé, na certeza de que Ele cuida de nós, e de que tudo concorre para o bem dos que o amam (cf. Rom 8,29). A fé nos faz acreditar que, quando Deus permite que o mal nos atinja, Ele tem um desígnio atrás disso, e nos dá a graça necessária para superar o sofrimento.
A nossa vida está nas mãos de Deus! Ele no-la deu e só Ele sabe quando nos chamará para Ele. Então, não podemos ficar nos torturando, pensando ou imaginando a morte do cônjuge; a nossa vida está nas mãos de Deus. Isso seria uma tentação imposta a nós mesmos. Deus só nos dá a graça para enfrentarmos o sofrimento quando ele acontece, não antes. Assim, ficar pensando na morte do ente querido é sofrer sem a graça de Deus; e isso dá angústia.
Jesus disse no Sermão da Montanha
“Não vos preocupeis por vossa vida (…) Qual de vós, por mais que se esforce, pode acrescentar um só côvado à duração de sua vida? (…) Não vos preocupeis, pois, com o dia de amanhã: o dia de amanhã terá as suas preocupações próprias. A cada dia basta o seu cuidado” (Mt 6,25-34)
Então, a melhor maneira de evitar a preocupação com uma possível viuvez é viver um dia de cada vez, deixando o futuro nas mãos de Deus, que cuidará de nós.
Quando já dava para eu pressentir que a morte de minha esposa estava próxima, depois de um câncer de seis anos, comecei a pedir a Deus que me preparasse para viver a viuvez. Cada vez mais, em minhas orações, eu pedia a Deus que me desse a graça de aceitar toda a vontade d’Ele e pudesse continuar a viver para Ele. Deus me socorreu na fé. Já são quase cinco anos de viuvez, em paz com Deus e com a vida.
O melhor antídoto para o medo da viuvez é apegar-se a Deus, mais até do que ao cônjuge, e viver uma vida na fé. Jesus disse que é preciso amar a Ele mais do que aos nossos entes queridos. É esse amor – em primeiro lugar – que nos fortalecerá diante da ameaça de uma viuvez.
Deus nos dá a chamada “graça de estado”, para que possamos viver bem cada etapa da vida; de modo especial, sinto essa graça de estado da viuvez que me ajuda a viver como Deus quer. É claro que não é fácil viver sem uma esposa, com quem se conviveu por anos, mas quando se vive pela fé, a graça de estado nos ajuda, e não temos que temer. Vejo muitas mulheres e homens viúvos e viúvas vivendo bem, consolados na fé, trabalhando muito para Deus e para os outros. Não devemos pensar que a viuvez é um estado final de vida, mórbido… De jeito nenhum! Um viúvo tem ainda muito que fazer pela família, pela Igreja, pela salvação das almas. Pensando em tudo isso, devemos afastar de nós o medo de uma viuvez.
É bom lembrar o que São Paulo disse sobre a viuvez
“A mulher está ligada ao marido enquanto ele viver. Mas, se morrer o marido, ela fica livre e poderá casar-se com quem quiser, contanto que seja no Senhor” (1 Cor 7,39). “Quero, pois, que as viúvas jovens se casem, cumpram os deveres de mãe e cuidem do próprio lar, para não dar a ninguém ensejo de crítica” (I Tm 5,14). “Mas a que verdadeiramente é viúva e desamparada, põe a sua esperança em Deus e persevera noite e dia em orações e súplicas” (1 Tm 5,5).
São Lucas nos mostra o caso daquela bela viúva de 84 anos, Ana, que com o velho Simeão adoravam o Menino Jesus. “Depois de ter vivido sete anos com seu marido desde a sua virgindade, ficara viúva, e agora com oitenta e quatro anos não se apartava do templo, servindo a Deus noite e dia em jejuns e orações” (Lc 2,37).
Eu li na internet, no site acidigital.com, em 3 de maio de 2012, que na Espanha, uma viúva de 70 anos, de Valença, mãe de três filhos e avó de cinco netos, entrou para um convento de irmãs franciscanas Clarissas contemplativas (fundada em 1212 por Santa Clara de Assis), onde fez votos perpétuos. Seu nome religioso é Célia de Jesus; e antes de se consagrar vivia para ajudar os pobres. Seus filhos e netos assistiram a seus votos.
Muitas viúvas se tornaram santas e ajudaram muito o Reino de Deus: Santa Isabel de Hungria, Santa Isabel de Portugal, Santa Angela de Foligno, Santa Luzia, Santa Paula, Santa Brígida, Santa Rita de Cássia, Santa Helena etc. Essas mulheres foram muito importantes para a Igreja, portanto, os viúvos não têm de enterrar a vida deles apenas dentro de casa.
Leia mais:
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Os viúvos podem continuar servindo a Igreja?
Uma coisa importante a entender é que, na Igreja, não existem aposentados nem desempregados. Sempre há trabalho no Reino de Deus para quem quer “servir ao Senhor com alegria” (Sl 99,2). Os viúvos e viúvas são pessoas maduras, muitos têm uma boa formação intelectual e podem ajudar muito a Igreja nas pastorais, sobretudo no batismo, primeira comunhão, crisma e matrimônio. Os viúvos não podem “enterrar os seus talentos”, pois Deus vai nos cobrar isso. A Igreja precisa de nossa experiência, nossos lábios e mãos. Quando nos colocamos à disposição de Deus para servi-Lo, logo Ele nos dá um trabalho adequado à nossa condição. E isso nos faz felizes.
Hoje, posso dizer que trabalho ainda mais do que no tempo que eu não era ainda viúvo. Hoje, tenho mais tempo para as coisas de Deus. E isso me dá forças, alegria e vida. Tudo isso que a Igreja nos ensina deve ser um antídoto ao medo da viuvez. Qualquer que seja o nosso estado de vida, podemos ser felizes se vivermos em Deus e para Deus.