Papa João Paulo II, em discurso aos participantes do Encontro Internacional sobre Desporto, em outubro de 2000, disse que “a atividade desportiva manifesta, além das ricas possibilidades físicas do homem, também as suas capacidades intelectuais e espirituais. Não é mera potência física e eficiência muscular. Eis o porquê o verdadeiro atleta não se deve deixar subjugar pelas duras leis da produção e do consumo ou por considerações puramente utilitaristas e hedonistas. Dessa forma, o desporto não é um fim, mas um meio; pode tornar-se veículo de civilização e de genuíno entretenimento, estimulando a pessoa a dar o melhor de si e a evitar o que pode ser perigoso ou de grave prejuízo para si ou para o próximo”.
Esportes radicais são termos usados para designar esportes com um alto grau de risco físico e psicológico dado às condições extremas de altura, velocidade, estresse, força física ou outras variantes em que são praticados. Nos esportes considerados “radicais”, a pessoa se coloca em situação de risco de vida voluntariamente, desafiando os limites do corpo humano e as forças da natureza.
Para que um esporte radical seja bem sucedido é preciso levar em conta que há várias condições que são necessárias. Um exemplo é o preparo físico, o estado mental, equipamentos de segurança, alimentação e condições climáticas favoráveis, esses são os fatores mais importantes.
Classificar um esporte como radical é muito subjetivo. Uma escalada esportiva, por exemplo, quando praticada adequadamente, é muito mais segura do que outras atividades de montanha que não recebem a classificação de “esportes radicais”.
Esportes radicais que colocam em risco a vida em busca da adrenalina
Além disso, é necessário analisar quem pratica o esporte: um profissional não é o mesmo que um simples amador. É preciso considerar as precauções tomadas na prática do esporte. Pois, uma corrida de carros em um circuito bem preparado e de modo profissional não é o mesmo do que se for num lugar menos apropriado. Evidentemente, é preciso ver em que a pessoa se arrisca, porque não é a mesma coisa arriscar-se a quebrar o braço ou perder a própria vida ou de outrem.
Exemplos de esportes que exigem mais cuidados
Automobilismo: o piloto deve estar em condições físicas e psíquicas adequadas para participar da corrida. Não faz parte do automobilismo o querer vencer a todo custo. A segurança do carro no circuito, por exemplo, deve ser escrupulosamente avaliada.
Boxe: As lesões no boxe são inequivocamente lesivas à integridade física e são lesões voluntariamente queridas, por isso é imoral. É altamente negativa a influência que esse tipo de esporte exerce sobre a convivência humana, exaltando a supervalorização da força bruta e da violência física.
As artes marciais mistas (AMM): mais conhecidas pela sigla MMA, tem o Ultimate Fighting Championship (UFC) dentre as principais organizações responsáveis pelos torneios. De um lado, defensores do MMA falam sobre a preparação do corpo e da mente dos atletas para suportar o confronto sem sequelas; do outro, críticos questionam os limites do corpo humano submetido a tamanha agressividade, e defendem que um acompanhamento médico adequado é imprescindível para prevenir complicações futuras, principalmente problemas e transtornos neurológicos ou, em casos mais extremos, até mesmo a morte.
Nessas modalidades de luta, os ferimentos na face e outras regiões da cabeça, riscos de convulsão, fraturas, luxações nos joelhos, cotovelos, ombros, tíbia ou tendinites compõem a lista de prováveis lesões aos praticantes desse esporte.
A extensão, a intensidade e a localização determinarão o tipo de sequelas que vão desde hematomas até pequenas lesões que desligam as conexões entre os neurônios. Por tudo isso, o MMA, além de expor o corpo a um estresse que não tem como dosar, o atleta é susceptível às fortes leões. Pela agressividade desse esporte, pela forma de vencer lesando o outro, pelas graves sequelas que possivelmente ficam a curto e a longo prazo, podemos afirmar que a prática é imoral.
Rappel é uma palavra que, em francês, quer dizer “chamar” ou “recuperar”, e foi usada para batizar a técnica de descida por cordas. O termo veio da explicação do “criador” do rappel, Jean Charlet-Stranton, por volta de 1879. É uma atividade vertical praticada com uso de cordas e equipamentos adequados para a descida ou escalada de paredões e vãos livres, bem como outras edificações. Trata-se de uma atividade criada a partir das técnicas do alpinismo, o que significa que requer preocupação com a segurança do praticante. Esse deve ter instruções básicas e acompanhamento de especialistas. Cursos preparatórios são indispensáveis. Não é qualquer pessoa que pode praticar o rappel. Preparo físico e treinos localizados são fundamentais para a prática desse esporte que exige segurança, treinamento, uso de equipamentos adequados, conhecimento detalhado do local, atenção às condições climáticas do momento, às orientações de guias etc. Seguir as regras básicas como o uso de equipamentos de segurança, ter condições climáticas favoráveis, responsabilidade e prudência são fatores imprescindíveis para a moralidade ou não da prática do rappel.
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Risco à vida
Quando a pessoa pode colocar voluntariamente sua vida em risco?
Para tal, é necessário que haja um motivo que justifique o perigo, quando esse é mais alto do que os riscos cotidianos da vida. Por exemplo, corpo de bombeiros quando enfrenta incêndios; salva-vidas aos tentar salvar alguém que está se afogando; policial ao defender uma pessoa ou a sociedade. Portanto, causar graves lesões físicas só é lícito para o bem da própria pessoa ou para salvar o valor irrevogável do outro.
A partir das questões acima, temos como princípio geral reduzir ao mínimo as possíveis lesões, a ponto de serem reduzidas somente as coisas acidentais e imprevisíveis. Enquanto subsistir algum perigo que possa ser eliminado, não é lícito se expor a determinada prática esportiva. Para isso, a prudência é uma virtude essencial, a fim de evitar muitas tragédias no campo do esporte.
Posicionamento da Igreja
O que afirma o Magistério Católico sobre esportes radicais? No Catecismo da Igreja Católica lemos no número 2269 “… A lei moral proíbe expor alguém a um risco mortal sem razão grave…”. Ainda, no número 2280, o Magistério da Igreja Católica adverte: “Cada qual é responsável perante Deus pela vida que Ele lhe deu, Deus é o Senhor soberano da vida; devemos recebê-la com reconhecimento e preservá-la para sua honra e salvação das nossas almas. Nós somos administradores e não proprietários da vida que Deus nos confiou; não podemos nos dispor dela”.
O Concílio Vaticano II Gaudium et Spes 61 afirma que: “cada homem continua a ter o dever de salvaguardar a integridade da pessoa humana, na qual sobressaem os valores da inteligência, da vontade, da consciência e da fraternidade, valores que se fundam em Deus Criador e por Cristo foram admiravelmente restaurados e elevados”.
Alguns textos iluminativos
“As potencialidades do fenômeno desportivo tornam-no um significativo instrumento para o desenvolvimento global da pessoa e um fator mais útil do que nunca para a construção de uma sociedade mais à medida do homem. O sentido de fraternidade, a magnanimidade, a honestidade e o respeito pelo corpo, virtudes sem dúvida indispensáveis a todo o bom atleta, contribuem para a edificação de uma sociedade civil onde o antagonismo é substituído pela competição, onde ao confronto se prefere o encontro, e à contraposição rancorosa o confronto leal. Dessa forma, o desporto não é um fim, mas um meio; pode tornar-se veículo de civilização e de genuíno entretenimento, estimulando a pessoa a dar o melhor de si e a evitar o que pode ser perigoso ou de grave prejuízo para si ou para o próximo”.1
Ainda, o Papa João Paulo II afirma: “apraz-me citar aqui uma conhecida expressão de São Paulo, que se adapta bem à vossa múltipla atividade amadora e desportiva: ‘Os atletas abstêm-se de tudo’ (1Cor 9,25). Com efeito, sem equilíbrio, autodisciplina, sobriedade e capacidade de atuar honestamente com os outros, o desportista não é capaz de compreender plenamente o sentido de uma atividade física destinada a robustecer, além do corpo, o espírito e o coração. Infelizmente, às vezes, no âmbito desportivo acontecem episódios que menosprezam o verdadeiro significado do espetáculo e atingem, além dos atletas, a própria comunidade. Em particular, o apoio apaixonado da própria equipe pode levar facilmente a ofender as pessoas ou a prejudicar os bens da coletividade. Toda competição desportiva deve conservar sempre o caráter de um divertimento sadio e tranquilo”.2
1 Cf JOÃO PAULO II. Jubileu dos desportistas. Discurso aos participantes no encontro internacional sobre desporto. 28 de outubro de 2000.
2 JOÃO PAULO II. Discurso aos membros da sociedade desportiva “LÁCIO”. 27 de Outubro de 2000.