A Imaculada Conceição de Maria e o Seu vínculo essencial com o mistério de Jesus Cristo e da Igreja Católica
O mistério da Imaculada Conceição da Virgem Maria, celebrado solenemente no dia 8 de dezembro, está intrinsecamente vinculado ao mistério de Nosso Senhor Jesus Cristo e da santa Igreja Católica. A concepção imaculada de Maria é o primeiro fruto da Redenção, porque Ela foi preservada da mancha do pecado original, em virtude dos méritos da paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo.
No entanto, o privilégio da Imaculada Conceição não significa apenas a ausência do pecado, mas também e, principalmente, a plenitude da graça, que nos foi revelada pelo Arcanjo São Gabriel: “Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo” (Lc 1, 28). Esta plenitude da graça divina concedida a Santíssima Virgem foi concedida em vista dela maternidade divina de Cristo e de sua cooperação no mistério da Redenção.
O dogma da Imaculada Conceição de Maria
A Imaculada Conceição fazia parte da fé desde a Igreja nascente. No entanto, devido a muitos questionamentos e o surgimento de doutrinas heréticas a esse respeito, o Papa Pio IX, depois de muitos estudos e de consultar bispos e teólogos do mundo inteiro, proclamou o dogma da Conceição Imaculada de Maria:
“Para a honra da santa e indivisa Trindade, para adorno e ornamento da Virgem Deíprara, para exaltação da fé católica e incremento da religião cristã, com a autoridade do nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados apóstolos Pedro e Paulo e nossa, declaramos, proclamamos e definimos: a doutrina que sustenta que a beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante de sua conceição, por singular graça e privilégio do Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi preservada imune de toda mancha da culpa original, é revelada por Deus e por isso deve ser crida firme e constantemente por todos os fiéis.” (DS 2803)
A Imaculada Conceição e a plenitude da graça em Maria
A Santíssima Trindade adornou a Virgem de Maria com dons dignos da mais elevada missão concedida a uma simples criatura: ser Mãe de Deus Filho encarnado. Por isso, os Santos Padres chamavam Nossa Senhora de “toda santa” e “imune de toda a mancha de pecado”, visto que o próprio Espírito Santo a modelou e fez dela uma nova criatura[1]. Enriquecida, desde o primeiro instante da sua Conceição Imaculada, com os esplendores de uma santidade singular, a Virgem Maria é saudada pelo Arcanjo Gabriel, da parte de Deus, como “cheia de graça” (Lc. 1, 28).
A saudação angélica: “Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo” (Lc 1, 28) constitui o mais válido testemunho da Imaculada Conceição de Maria. Pois, a Virgem não seria “cheia de graça”, em sentido pleno, se o pecado tivesse manchado a sua alma, ainda que fosse por apenas um instante.
A Virgem Santíssima começou a sua existência adornada de uma riqueza de graça muito mais abundante e perfeita do que a que obtiveram os demais santos e santas até o fim de suas vidas. Ao considerarmos a sua fidelidade absoluta e a sua disponibilidade total aos desígnios de Deus, podemos intuir a sublimidade do amor e da comunhão de Maria Santíssima com o Altíssimo, “levando vantagem a todas as demais criaturas do céu e da terra”[2].
O texto evangélico, que nos apresenta Maria como a “cheia de graça” (Lc 1, 28), está em plena consonância com a carta aos Efésios:
“Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que do alto do céu nos abençoou com toda a bênção espiritual em Cristo, e nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis, diante de seus olhos. No seu amor nos predestinou para sermos adotados como filhos seus por Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua livre vontade, para fazer resplandecer a sua maravilhosa graça, que nos foi concedida por ele no Bem-amado.” (Ef 1, 3-6)
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A Imaculada Conceição de Maria e a salvação em Cristo
A Virgem Maria ocupa o primeiro lugar nas bênçãos e na eleição de Deus, pois Ela é a única criatura santa e imaculada em sentido pleno e absoluto. Nela as bênçãos divinas produziram os frutos mais belos e perfeitos, não apenas por ter sido abençoada e eleita “em Cristo”, em previsão dos Seus merecimentos, mas também “em ordem a Cristo”, para ser Sua Mãe. Ao celebrarmos a solenidade da Imaculada Conceição, a Igreja nos convida ao louvor de Deus pelas maravilhas que Ele operou na humilde Virgem. “Cantai ao Senhor um cântico novo, porque Ele operou maravilhas” (Sl 97, 1) — principalmente a maravilha de ter quebrado as cadeias do pecado que acorrentavam os homens —, aplicando a Maria, antes de se realizar historicamente, a obra de salvação de Cristo Jesus, que haveria de nascer do seu seio virginal.
Que sigamos o exemplo de Maria!
A Virgem de Nazaré ocupa o primeiro lugar na história da redenção. Em Maria, começa salvação da humanidade, na qual ela própria colabora dando ao mundo Aquele por quem os homens serão salvos. Quem crê no Salvador não é mais do que um filho de Maria, e com a sua mediação, foi abençoado e eleito por Deus em Cristo para ser santo e imaculado na caridade (cf. Ef 5, 27). Este maravilhoso projeto divino que cumpriu em Maria com plenitude singular e privilegiada deve-se cumprir também em todos nós, em conformidade com os desígnios do Altíssimo.
Todavia, para que isso aconteça, é necessário que cada um de nós siga o exemplo de Maria, imitando-a na sua fidelidade à graça e na sua total entrega ao Senhor. Assim, da mesma maneira que a plenitude da graça em Maria floresceu na plenitude do amor a Deus e aos homens, também em nós a graça deve amadurecer em frutos de caridade para com Deus e para com os homens, para glória do Altíssimo e para a edificação da santa Igreja.
Oração de Santo Afonso Maria de Ligório a Imaculada Virgem Maria
“Ó minha Senhora formosíssima! Alegro-me de ver-vos tão querida de Deus pela vossa pureza e formosura; e dou graças a Deus por vos haver preservado de toda a culpa. Ah, minha Rainha, já que sois tão amada pelas Pessoas da Santíssima Trindade, não recuseis lançar um olhar sobre a minha alma tão manchada pelos pecados, e obter-me de Deus o perdão e a salvação eterna. Guardai-me e mudai-me.
Com a vossa doçura atraístes tantos corações ao vosso amor, atrai também o meu coração, a fim de que de hoje em diante não ame senão a Deus e a vós. Sabeis que em vós tenho posto todas as minhas esperanças. Minha amadíssima Mãe, não me desampareis.
Assisti-me sempre com a vossa intercessão, primeiro em minha vida e depois especialmente na minha morte. Ó Maria, vós que entrastes no mundo sem mancha, alcançai-me de Deus que possa deixá-lo sem culpa. Fazei com que eu morra invocando-vos e amando- vos, a fim de vos ir amar para sempre no paraíso.” [5]
Amém!
Natalino Ueda é sacerdote diocesano, incardinado na Arquidiocese de Cuiabá, diplomado em Filosofia e Teologia e pós-graduado em Logotetapia e Análise Existencial, autor do blog “Todo de Maria”, que tem como temas principais a consagração a Santíssima Virgem Maria.