Hoje, celebramos a solenidade da anunciação do Senhor. Fazemos memória daquele grande e maravilhoso acontecimento no qual o anjo Gabriel, enviado por Deus a Virgem Maria, apresenta a ela todo o plano divino a seu respeito. Maria, com humildade, dá o seu consentimento ao plano da salvação e torna-se assim uma colaboradora no mistério da redenção.
Nazaré quer dizer flor da Galileia, ou seja, a essa flor Deus envia Seu anjo. Desde do primeiro instante de sua existência, Maria foi preservada de todo pecado em vista dos méritos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ela, diante do anúncio do anjo, não se envaidece nem questiona, mas, com toda humildade, reconhece o seu nada e se denomina simplesmente a serva do Senhor, e assim crê. Em Maria cumprem-se as profecias esperadas por Israel. O ‘sim’ dela é para nós motivo de alegria e júbilo, pois é através de seu consentimento que o Verbo de Deus vem a este mundo para salvar-nos e devolver-nos a dignidade que havíamos perdido. Como afirmam os padres latinos, antes de gerar Deus no seu ventre, ele já O carregava no coração. Ele já vivia dentro dela. Maria, antes de gerar Cristo no ventre, gerou-O no seu coração, pois o coração de Maria é cheio da Palavra.
O ‘sim’ de Maria diante da anunciação do Senhor
Do ‘sim’ da jovem filha de Sião nascem todos os outros sins. Como nos diz Santo Efrém, Maria, a “Nova Eva”, trouxe-nos um fruto de vida, comemos da árvore desse fruto e não morremos, mas, ao contrário, vivemos. Cristo, o Verbo de Deus, o fruto de Maria, por obra do Espírito Santo, encarna-se e vem fazer-se morada em meio a nós; o verdadeiro Fruto alimenta-nos e dá-nos a vida.
Fico, muitas vezes, pensando no ‘sim’ de Maria, o qual foi dado na liberdade, e cujo consentimento foi respeitado por Deus. Ele nada impôs, ao contrário, esperou o seu consentimento. Como dizia o grande Abade de Claraval, São Bernardo, “O céu esperava o ‘sim’ de Maria – os anjos, os homens, todos nós esperávamos por ele”. O ‘sim’ de Maria trouxe-nos a salvação.
A encarnação do Verbo é um grande e maravilhoso acontecimento, pois Deus vem nos amar mais de perto, faz-se gente, faz-se homem, faz-se amor. Ao encarnar-se, Deus vem amar o ser humano mais de perto, assumindo a nossa carne. Cristo é, sem dúvida, a mais linda carta de amor de Deus. São João da Cruz, em seus poemas, diz: “Três fizeram a obra, mas um só se faria. Que Aquele que só tinha Pai, agora já mãe também teria, e o Verbo faz-se carne nas entranhas de Maria”. É nessas santas entranhas que Deus vem habitar. Aquele que o Céu não pôde conter a jovem filha de Nazaré agora O carrega e O alimentará. Do ‘sim’ de Maria vem o Verbo, gerado por obra do Espírito Santo no silêncio e no cotidiano de Nazaré. É nos corações simples que Deus realiza Suas maravilhas.
São Bernardo, no sermão sobre a Solenidade da Anunciação, diz-nos que Deus, ao olhar para Maria, encantou-se com a sua humildade. Deus, ao olhar para Sua criatura, enamora-se com tamanha humildade. Antes de qualquer coisa, o que encanta Deus é a humildade de Maria. Diante do anúncio do Anjo Gabriel, ela pergunta como “se dará tudo”, mas, acima de tudo, Ela confia, abandona-se, e o consentimento meio que medroso fortifica-se; sem dúvida alguma, foi um ‘sim’ à vontade do Pai, fiel até o fim, até a cruz.
Ensina-me, Maria, a responder o meu ‘sim’ a Deus. A vida de Nossa Senhora foi um eterno ‘sim’ ao plano redentor do Pai.
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A mulher perfeita
Em Maria contemplamos a imagem da mulher perfeita, como nos ensina os Santos Padres, o “Typus” da Igreja, ou seja, Maria é para nós o modelo por excelência da Igreja e nosso modelo. Em Maria não vemos apenas o modelo a ser imitado, mas nela encontramos a própria Igreja, pois ela é figura da Igreja, ou seja, aquilo que a Igreja deve ser. Neste dia, olhar para a a provação da jovem de Nazaré é contemplar tão grande mistério que trouxe salvação e vida a toda Terra.
Todo consentimento dado a Deus porta também lágrimas, dores, mortes, mas, acima de tudo, ressurreição. Toda a vida de Maria foi um caminhar na fé, naquela fé que, antes de mais nada, confia. Maria não é qualquer mulher, ela é a agraciada, a preparada por Deus para ser Sua Mãe. Na divina comédia de Dante, Maria é chamada de “Virgem Mãe, filha de teu Filho, humilde e alta criatura”. Que grande e alto mistério! Hoje, a Terra e o Céu cantam de alegria por tamanha graça! O Verbo de Deus fez-se carne e habitou em nosso meio. Com os Santos Padres da Igreja, queremos afirmar e gritar com toda força:
“Ave, livro novo que encerra a nova mensagem de Deus.
Ave, alabastro que contém a mirra de santidade que procede de Deus.
Ave, beleza que prega a riqueza da virgindade.
Ave, criatura que leva o teu Criador.
Ave, tu que conténs o que nada pode conter.
Ave, tabernáculo de Deus e do Verbo.
Ave, a maior Santa de todas as santas.
Ave, Arca da Aliança, que nos fazes presentes a Deus.
Ave, tesouro inesgotável de vida.
Ave, diadema precioso dos reis piedosos.
Ave, glória venerável dos Santos Padres.
Ave, nuvem luminosa, que derramas sobre nós a brisa espiritual e divina.
Ave, fonte plena dos dons de Deus.”
VERBUM CARO FACTUM EST