Solenidade

A Solenidade de Corpus Christi, sacramento do amor e da proximidade

Quem nunca viveu a admirável experiência de uma autêntica e bela amizade? Quem nunca desfrutou da presença salutar de um amigo e encontrou nela refúgio e proteção? É próprio da amizade o apelo da presença e da companhia, e a afinidade entre amigos se torna mais viva quando se está perto. O tormento da distância e a dor da saudade são provas que tornam mais latentes o desejo de reencontro.

Jesus nos amou assim. Como um dileto amigo, Ele escolheu a relação mais nobre para nos dar do Seu Coração: a amizade. Ele tem para conosco a mais alta de todas as amizades, a mais pura e verdadeira, a mais bela e mais profunda. E o próprio Jesus se submeteu a este princípio que rege toda humana amizade: a proximidade. No auge do Seu amor e da Sua ternura, quis se fazer presente entre os Seus, manifestando Sua glória e Sua vida divina, por meio do bendito sacramento da Eucaristia.

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Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Amando-nos até o fim, o Redentor encontrou um meio singelo e fácil de estar para sempre com os seus amigos. A Eucaristia é presença permanente e amorosa de Jesus entre aqueles que Ele amou e escolheu, é o maior e mais belo dom do Seu amor, que, ao longo da Sua história, a Igreja soube honrar e reconhecer, sobretudo na linda Solenidade de Corpus Christi.

Solenidade de Corpus Christi

A festa do Santíssimo Corpo e Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo nos remete ao século XIII, tendo sua origem em Bolsena na Itália. Certa vez, na referida cidade, quando o padre Pedro de Praga celebrou uma Missa, na cripta de Santa Cristina, aconteceu um milagre eucarístico: da hóstia consagrada começaram a cair gotas de sangue sobre o corporal após a consagração. Alguns dizem que isso ocorreu, porque o padre teria duvidado da presença real de Cristo na Eucaristia.

Papa Urbano IV (1262-1264), que residia em Orvieto, cidade próxima de Bolsena, onde vivia S. Tomás de Aquino, informado do milagre, então, ordenou ao Bispo Giacomo que levasse as relíquias de Bolsena a Orvieto. Isso foi feito em procissão. Quando o Papa encontrou os fiéis caminhando na entrada de Orvieto, teria então pronunciado, diante da relíquia eucarística, as palavras: Corpus Christi. Ainda hoje, conservam-se, em Orvieto, os corporais onde se apóia o cálice e a patena durante a Missa, e também se pode ver a pedra do altar em Bolsena, manchada de sangue.

O próprio Papa Urbano IV instituiu, oficialmente, a solenidade de Corpus Christi, em 1264, com textos da autoria de São Tomás de Aquino. É uma celebração de cunho propriamente ocidental, uma vez que nela se permite a procissão com o Santíssimo Sacramento pelas ruas e praças das cidades, procissão que já aparece na história da Igreja desde o ano de 1330.

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Neste dia, a Missa deve ser celebrada com tons de solenidade, por isso é justo e lícito que, nas Igrejas, usem o incenso perfumoso dos turíbulos, os mais belos paramentos de cor dourada, as dignas e detalhadas toalhas para a mesa do sacrifício, um maior número de velas no altar, bem como a escolha de músicas que exaltem a profundidade e a dignidade do mistério eucarístico. Após a Missa, forma-se a procissão solene do Santíssimo Sacramento pelas ruas até uma Igreja ou um local devidamente preparado para encerramento e bênção solene do Santíssimo Sacramento. Procissão que deve ser regida por músicas, orações, meditações e momentos de silêncio que permitam aos fiéis maior apreço e piedade para com o Sacramento da Eucaristia. No Brasil, há uma bela tradição de se enfeitar os locais por onde passam as procissões com belos e criativos tapetes que contêm figuras que exaltam e figuram a Eucaristia.

Eucaristia sacramento do amor

É a festa da presença amorosa de Jesus em meio a sua Igreja, ao seu povo, pois a Eucaristia é o sacramento do amor por excelência. Sendo próprio do amor a proximidade e o rebaixamento, é mais do que justo reconhecer em tal sacramento um “amor que supera todos os amores no céu e na terra” (São Bernardo). Sendo a proximidade uma realidade comum a quem ama, Jesus quis, de maneira tão simples, fazer-se presente para nos dar a felicidade de sua amizade.

O rebaixar-se para levantar a quem se ama, outra dimensão profunda do amor, também está presente na Eucaristia. Nesse sacramento, Jesus se rebaixa, esvazia-se de sua divindade e de sua humanidade, torna-se frágil e vulnerável em nossas mãos, para nos levantar até a sua vida divina. Um mistério de fé e de amor que se renova, todos os dias, nos altares do mundo inteiro; e que mereceu uma festa tão bela, para honrar e amar Aquele que é a razão da nossa fé e o alimento daqueles que neste mundo vivem a caminho da eternidade.

Willian Guimarães
Seminarista Comunidade Canção Nova

willian@geracaophn.com

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