Ritinha testemunha seus 25 anos de vida missionária na Comunidade Canção Nova
No dia 18 de janeiro de 1994, chegavam à Canção Nova, em Queluz, oito jovens da minha cidade, São Gonçalo dos Campos (BA). Não éramos apenas da mesma cidade, mas também da mesma paróquia, do mesmo grupo de jovens, do mesmo grupo de oração, do mesmo grupo de caminho vocacional e mesmo acompanhador.
Interessante, não é? Pois é! Era um domingo, dia 17 de janeiro se não estou enganada. Embarcamos, no ônibus da São Geraldo, do ponto de apoio da nossa cidade, para Queluz (SP), para dar início à primeira turma de discipulado da Canção Nova, que na época era chamado “noviciado”.
Veja slide de fotos:
Chegamos no dia 18 de janeiro, por volta das 11h, na cidade de Queluz, para embarcar nessa linda aventura de noviciado, tempo de formação integral da comunidade Canção Nova. Era tudo novo tanto para nós como para a comunidade, pois esta também estava iniciando a experiência de ter uma casa de formação somente para aqueles que chegavam, a fim de viverem esse tempo intenso de formação.
E era intenso mesmo, porque, naquele ano, vivemos tudo nesta casa, sem visitas às nossas famílias (não viajamos para o Dia das Mães nem Dia dos Pais). No fim de ano, era para passarmos o Natal em família, mas como éramos oito, não havia condições de irmos; então, conseguimos ir passar o Ano Novo. No entanto, como a viagem foi de ônibus, acabamos fazendo a contagem regressiva da mudança do ano dentro do ônibus em trânsito, chegando assim em nossas casa no dia 1º de janeiro de 1995. Mas felizes da vida, porque tudo era festa para nós.
Quando sai de casa, dentro de mim havia uma certeza de que era para sempre, mesmo minha mãe achando que a Canção Nova seria mais uma das minhas invenções, e que eu não levaria para frente, como muitas coisas que eu fazia na minha cidade.
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O tempo intenso de formação na casa muito me ajudou a ter disciplina, a saber valorizar as coisas boas da vida como família, amigos e saúde. A vida fraterna era uma festa, embora, no início, eu tenha sofrido bastante pelo meu jeito baiano de ser e o meu sotaque cantado. Meu Deus, quantas lágrimas derramei por causa disso!
Morávamos numa casa muito eclética, com jovens de várias partes do Brasil, cada um com sua cultura, com suas manias, cada um com seu jeito, mas, aos poucos, íamos nos entendendo. A minha turma de noviciado foi a grande novidade para toda a Canção Nova na época, era o grande “bumm” que a comunidade começava a viver. Por causa disso, todo fim de semana, tínhamos irmãos lá na casa para estarem conosco; e eu amava tudo isso.
Lembro-me das muitas visitas do Eto, que convivia e ria muito com as nossas loucuras. Era muito legal ver muitas vezes a Luzia, o Nelsinho Corrêa, a Gildete Leal, a Carla Astuti e muitos outros passarem pela nossa casa. A nossa forma de falar era motivo de risos muitas vezes. A expressão “Deus é mais!” virou até música, porque é natural na nossa região usarmos essa expressão.
Como era muito baiano num lugar só, também aconteciam algumas desvantagens, pois, quando nossa coordenadora queria chamar atenção por algo de errado que acontecia, reunia os baianos na sala de palestras e todos “levavam juntos na cabeça”, mas não posso deixar de dizer que contagiamos, e contagiamos pra valer, a comunidade; e assim fomos incutindo nossos valores, como a oração do Ofício da Imaculada Conceição. Todo nordestino tem o habito de rezar essa oração, e fomos nós que a trouxemos para a comunidade, e todos ficavam encantados quando a cantávamos.
O carisma
Fomos uma turma muito agraciada pela presença constante do nosso pai fundador – padre Jonas Abib –em meio a nós. Naquele tempo, ele viajava muito pregando retiros pelo Brasil inteiro, e sempre quando voltava no domingo à noite ou na segunda pela manhã, nossa casa era o local do seu descanso. E como era bom convivermos com ele! Aproveitávamos todo o tempo que tínhamos da sua presença, as Missas celebradas na nossa capelinha não tinha hora para acabar, os momentos de oração comunitária, onde ele nos ensinava a orar e cantar em línguas, as histórias muito bem contadas sobre sua vida e a vida da comunidade. Tudo isso ficou gravado no nosso coração, e, ao logo desses anos, foi nos formando homens e mulheres apaixonados pelo carisma.
Se eu for ficar contando o que vivi nesse tempo, não vou consegui parar, porque, de verdade, Deus fez muito em nós e está fazendo. Não me cansarei de bendizer a Deus por ter nos chamado de lá do fim do mundo, como costumamos falar, para vir morar e doar a nossa vida na comunidade. Faria tudo novamente, porque, de todas as minhas escolhas feitas até hoje, ser de Deus dentro do Carisma Canção Nova foi a escolha mais acertada da minha vida. Obrigada aos irmãos de turma e, principalmente, aos conterrâneos que perseveraram até hoje: Marise do Carmo, Vanúsia, Jamile, Dona Romilda. Até aqui nos ajudou o Senhor!
Agradeço, de coração, à equipe de formação, que nos acolheu e teve muita, mas muita paciência: Elzinha, Márcia Costa, Cidinha e Zina. Deus as abençoe poderosamente! Sou muito grata a cada uma de vocês por tudo que fizeram por nós.
Rita de Cássia de Jesus Dias (Ritinha),
missionária da Comunidade Canção Nova