Correr… Pode ser que esse não seja o verbo mais conjugado nas rodas literárias. Mas, atualmente, com toda a certeza, é a ação mais praticada. Corremos o tempo todo de um lado para o outro. Corremos da casa para o trabalho; do trabalho para a faculdade. Corremos da faculdade para a Igreja; da Igreja para casa. Corremos, corremos, corremos!
A sensação é a de que estamos estrangulados o tempo todo pelos ponteiros do relógio. Pare agora por um instante e pergunte a si mesmo: “Dentro de tudo o que eu preciso fazer durante o dia – trabalhar, estudar, descansar, alimentar-me (…) – tenho reservado um tempo suficiente para estar com o Senhor?”.
Perceba que não estou determinando uma quantidade de tempo específico, afinal, cada um tem a sua necessidade, mas, também, não estou falando daquelas sobras de tempo entre um afazer e outro. Enfim, se você percebe que sua vida de oração, de diálogo com Deus está negligenciada, chegou o momento de fazer um “pit stop” para recobrar o fôlego, antes de retomar a corrida.
Às vezes, é preciso de um momento de parada para tomar um novo fôlego
Todos nós temos ciência do quão importantes são aqueles pequenos momentos de parada em meio aos afazeres diários. Eles, de fato, são essenciais. Servem para percebermos se estamos caminhando bem, se devemos refazer a rota, reorganizar os próximos passos. Esse, talvez, seja o momento ideal para nos perguntarmos se Deus está encontrando espaço nas nossas ocupações diárias.
Também, na vida espiritual, esses instantes de parada são tão necessários quanto na vida concreta. Acontece que, esse verbo “parar” deve ser vivido de forma bem diferente dentro dessas duas realidades.
Se, na vida material, podemos e devemos, por exemplo, dormir; na vida espiritual, não. Um lindo trecho de Cântico dos Cânticos, no início do sexto poema, aponta-nos para este fato: “Eu dormia, mas meu coração velava e ouvi o meu amado que batia”. (cf. Ct. 5, 2). Muito embora o corpo da amada estivesse repousando, quer dizer, em estado de parada, seu coração estava desperto, aguardando a chegada do amado. Portanto, “parar” na vida espiritual requer alguns cuidados.
Afinal, como o cristão deve viver os momentos de “parada” na vida espiritual?
Uma máxima muito conhecida de Santo Agostinho diz que: “No caminho espiritual, não andar adiante é voltar atrás”. São Gregório explica isso muito bem, usando de uma imagem: “Se alguém, embarcado numa canoa, rio acima, deixasse de remar, e quisesse parar onde está, sem se adiantar nem recuar, iria necessariamente para trás, porque a correnteza o arrastaria”.
Esses dois ensinamentos já seriam o bastante para responder a pergunta acima. Mas, quero utilizar-me de outro exemplo bem didático, para explicar como esse momento de parada na vida espiritual deve ser vivido pelo cristão.
Imaginemos um jovem montado em sua bicicleta, fazendo seu passeio numa manhã ensolarada. Para que a bicicleta não perca o impulso, o jovem não pode parar totalmente de pedalar. É verdade que, em alguns momentos, ele pode interromper as pedaladas, porque a bicicleta ainda possui algum impulso das pedaladas anteriores.
Leia mais:
.: Confira os artigos do colunista Gleidson Carvalho
.: Oração de cura interior pelas etapas da vida
.: Como fazer com que a espiritualidade se torne parte do nosso dia?
.: Qual é o caminho para a verdadeira espiritualidade?
Atenção! Chegamos ao ponto central do nosso artigo!
De uma maneira bem direta, a mensagem é a seguinte: “Não pare de pedalar, não pare de remar, não desista!”. É possível interromper as pedaladas ou as remadas por um breve instante para ganhar fôlego, mas desistir, nunca. Se o ciclista desistir de pedalar, fatalmente perderá o equilíbrio e cairá. Se você se cansou, interrompa por um instante as pedaladas, respire e volte a pedalar.
A primeira formadora que tive na Canção Nova, deu-me um ensinamento muito importante. Lembro-me como se fosse hoje: “Se hoje você consegue correr na vida espiritual, corra; caso contrário, caminhe, mesmo que lentamente, mas caminhe”. No fundo a mensagem é a mesma: “Não desista de caminhar”.
Que tal otimizar esse momento de parada, buscando um retiro espiritual? Hoje, graças a Deus, os diversos movimentos da Igreja Católica nos oferecem infinitas possibilidades de retiro. Portanto, se você perceber que está cansado, busque se retirar para estar a sós com o Senhor. Respire, encha os pulmões!
Após o momento de parada, é preciso continuar
Depois que você já correu, se cansou e tomou novo fôlego, chegou a hora da decisão mais importante: prosseguir. Segundo um dicionário da Língua Portuguesa, “prosseguir” é retomar uma atividade momentaneamente interrompida, ou seja, voltar a pedalar, voltar a remar, voltar a correr. Lembrado-nos de que estamos falando da vida espiritual.
O apóstolo Paulo nos dá um excelente conselho: “Esquecendo o que fica para trás, lanço-me para o que está à frente” (cf. Fl. 3,13). Quem quer chegar a algum lugar, não o fará se não caminhar.
Para finalizar, quero fazer um pequeno alerta, caminhar sem rumo também não dá. Os nossos olhos, pensamentos, sentidos e vontades devem estar fixos no alvo: o Senhor. Sem propósito, objetivo e meta, ninguém chega a lugar algum.
Deus o abençoe e até a próxima!