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O Cristianismo é a religião da Palavra de Deus? Por quê?

Religião da Palavra e não do Livro

A resposta para a pergunta (que dá título a esse artigo) encontramos no Catecismo da Igreja Católica (CIC). Esse afirma, no número 108, que o Cristianismo não é uma religião do Livro, mas da Palavra de Deus. O Catecismo ainda esclarece que: não é de qualquer palavra, mas da Palavra de Deus, de uma palavra que não é muda, mas que nos comunica algo, uma Palavra viva.

Para entendermos como a Palavra é viva e como ela nos comunica, podemos recorrer ao Evangelho de São João. No seu prólogo, o evangelista declara que: no princípio, era a Palavra e a Palavra estava junto de Deus; e, a Palavra, era Deus. Assim, compreendemos que Deus é, também, a Palavra e se encarnou. Na literatura cristã, encontraremos algumas expressões para indicar a Palavra de Deus, por exemplo: “Logos e Verbo de Deus”. Por isso, quando dizemos que o Verbo se encarnou, estamos dizendo que o Filho de Deus se encarnou no seio da Virgem Maria.

O Cristianismo é a religião da Palavra de Deus? Por quê?

Foto ilustrativa: Andréia Britta/cancaonova.com

O texto do evangelista São João ainda nos garante que tudo foi feito por meio da Palavra de Deus, sem ela nada existe. Portanto, o Verbo veio nos comunicar o esplendor da beleza de Deus, por meio da criação. Com a encarnação, a Palavra [que é Deus] realizou a sua autocomunicação. O Papa Francisco, na “Exortação Alegrai-vos e Exultai”, diz que: “Deus, mesmo com a sua encarnação, se fez periferia para poder alcançar os que mais precisam”.

A missão da Igreja deriva da Palavra de Deus

No cristianismo, a missão está inerente a própria religião. Não se pode separar o cristianismo da missão, pois, com com ela, cada um se compromete ao assumir o batismo de Cristo. Foi com o batismo que Nosso Senhor começou o seu ministério. Somente após João, o Batista, ter batizado Jesus, é que a Igreja declara o início da vida pública de
Jesus. Com isso, podemos entender que ao nos tornarmos cristãos, a nossa missão também se inicia.

A “Exortação pós-sinodal Verbum Domini” (A Palavra do Senhor) do Papa emérito Bento XVI é enérgica. Quando diz que: “Ninguém que crê em Cristo pode sentir-se alheia a responsabilidade de anunciar a Palavra de Deus”. Por isso, cabe a nós, cristãos, descobrirmos cada vez mais a beleza desta Palavra. Somente quem percebe a beleza do Verbo de Deus, entende a urgência de anunciá-lo, fazendo com que se realize a ordem que o Cristo Ressuscitado deu aos discípulos “Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa-nova” (Cf. Mc 16,15).

Para nós cristãos, esse anúncio precisa ser acompanhado do testemunho, porque é do testemunho que depende a credibilidade do anúncio. Em toda a história da Igreja, os seus expoentes foram aquelas pessoas que, com suas vidas, testemunharam o que anunciavam, a ponto de serem entregues às diversas formas de martírio. Atualmente, continua a acontecer perseguições àqueles que trazem, na vida, a Palavra encarnada.

Contudo, lembremo-nos de que, se o Nosso Senhor Jesus Cristo morreu crucificado após ser escarnecido, nós [que somos seus seguidores e carregamos o nome de cristãos] não podemos esperar menos do que isso.

A Palavra de Deus e o compromisso com o mundo

A Palavra é portadora da Verdade, essa Verdade que cura, salva e liberta. Nós que, desde o encontro com o Verbo de Deus até os dias de hoje, experimentamos os efeitos dessa Palavra, mais do que ninguém precisamos entender que Ela mesma nos insere no compromisso com o mundo. Basta lembrarmos das palavras de Jesus nos sermões escatológicos quando diz: “Eu estava com fome e me destes de comer, com sede e me destes de beber, era forasteiro e me acolhestes em tua casa, nu e me vestistes, doente e cuidastes de mim, na prisão e fostes me visitar” (Cf. Mt 25,35-36).

Retomo o que citei acima quando disse que: “com a encarnação Deus se fez periferia para alcançar os mais necessitados”. Podemos nos perguntar: como posso realizar isso no mundo? Precisamos seguir o exemplo de Jesus e ir ao encontro daqueles que mais precisam de nós. É somente com a vida e não de outra forma que anunciaremos e seremos testemunhas de Cristo. Seguindo os passos de Jesus, saiamos ao encontro dos “Levis” que, após a experiência com Jesus, é conhecido como Matheus; saiamos ao encontro das “Madalenas”; dos “Filhos pródigos”; dos “Judas”; dos “Zaqueus” e dos “Saulos”. Porque, é no encontro com Jesus “disfarçado”, por vezes dessas figuras, que poderemos responder: “Senhor, quando Te encontramos e Te vimos necessitado, fomos ao Teu socorro”. Assim poderemos exercer o amor.

Que nós, cristãos, não percamos as oportunidades de amar. Tenhamos atenção para a vida que grita à nossa frente e olhemos para Jesus. Muitas vezes, Ele  está nas esquinas pedindo ajuda e não damos atenção a Ele.