📖 Perseverança

Um homem diferente

No dia 4 de agosto, memória litúrgica de São João Maria Vianney, testemunha eloquente de santidade sacerdotal, celebra-se o dia do padre. Antes de receber as sagradas ordens, o homem escolhido para servir a Deus mais de perto foi um fiel leigo e, como os demais, recebeu o sacramento do Batismo.

O Batismo marca a entrada da pessoa na dinâmica da vida cristã. A vivência cristã precede a escolha de uma vocação de especial consagração. No tocante ao pecado, o padre é um homem como todos os outros, ou seja, não está isento das inclinações para o mal e dos desejos carnais. De modo geral, a vida do padre suscita curiosidades e questionamentos que nem sempre são expressos em momentos formais. Para ajudar a compreender um pouco mais acerca dos princípios que norteiam a vida do padre, oferecemos essa reflexão de natureza espiritual.

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Sem a vivência cristã, não há chamado à vida sacerdotal

O sacramento do Batismo nivela todos os membros da Igreja, colocando-os num mesmo patamar. A primeira vocação para a pessoa agraciada com a virtude da fé é a vocação à vida cristã. Sem a vivência cristã, não há chamado à vida sacerdotal. O homem escolhido por Deus para servi-Lo, na proximidade diária e constante, é chamado a ser diferente dos demais para integrar um estado de vida que difere dos demais estados. O ser diferente do padre é decorrência da mudança ontológica que ocorre no momento da ordenação sacerdotal. Essa mudança no seu ser não é um cancelamento ratificado por Deus, e sim uma transformação para fazer do padre um alter Christus (outro Cristo) (cf. Presbyterorum Ordinis, 12). A vida nova conferida pelo sacramento do Batismo é ordenada, no ato da Ordenação Sacerdotal, ao serviço total e exclusivo a Deus e à Igreja.

O padre é um pecador que Deus amou e perdoou. Sendo um homem, o padre também possui as inclinações para o mal e os desejos carnais. Participando de um estado de vida que o difere dos demais homens, o padre é chamado a uma vida de ascese e de sacrifícios, em vista da sua configuração a Cristo, Bom e Supremo Pastor. Para purificar as suas inclinações para o mal e os seus desejos carnais, o padre abre-se, inteiramente, a Deus e recebe um estado de graça especial que lhe possibilita a vivência da sua vocação de modo condizente ao querer de Deus e ao ordenamento da Igreja.

Algumas curiosidades e os questionamentos da vida do padre

Na tradição da Igreja Latina, o padre está obrigado a observar a disciplina do celibato, a contínua e perpétua continência por amor a Deus. Isso significa que o padre não pode manter relação sexual, não pode contrair matrimônio e não pode constituir família. Além dessa disciplina, o padre presta obediência ao seu bispo e é chamado a ter vida modesta, dando mostras assim do seu desapego aos bens terrenos.

Muitas são as curiosidades e os questionamentos que a vida do padre suscita. Essa vida diferenciada, por ser um sinal escatológico, é uma antecipação, aqui na terra, da vida que todos teremos no céu. O padre é um homem diferente dos demais homens porque participa de um estado de vida que o difere. Esse homem diferente é designado por Deus para estar com o povo e assim realizar a cura pastoral em nome da Igreja, sem se confundir com os demais membros do povo de Deus. Participante do sacerdócio de Cristo, o padre é “tomado do meio do povo e representa o povo nas suas relações com Deus, para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados” (Hb 5, 1).

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O belo dever de estar mais adiantado no caminho da perfeição

O padre tem a grave obrigação de ser o primeiro na ordem do testemunho e na ordem do serviço. Para a consecução de tal fim, a Igreja recomenda o princípio da unidade de vida que consiste na harmonização da vida interior pessoal do padre com as ocupações exteriores (cf. Presbyterorum Ordinis, 14). O padre não é o homem perfeito, mas é o homem que tem o belo dever de estar mais adiantado no caminho da perfeição, para oferecer ao povo que trilha o mesmo caminho, os frutos abundantes da sua própria mística que, na definição de São Bernardo de Claraval, é o “conhecimento experiencial de Deus”.

Rezemos para que haja jovens generosos que desejem abraçar a vocação sacerdotal! Rezemos, de modo especial, pela perseverança e fidelidade dos sacerdotes! Sim, rezemos pela perseverança e fidelidade porque de nada adiantaria a perseverança sem a fidelidade, pois a perseverança sem a fidelidade seria uma estéril teimosia humana. Que o testemunho do homem diferente continue a edificar a Igreja e a tornar credível o anúncio do Evangelho!

Pe Robison Inácio de Souza Santos, Diocese de Guaxupé-MG, doutorando em Teologia Dogmática pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.