Será que você reconhece os dons que Deus coloca à sua disposição? Essa é uma pergunta crucial e o ponto de partida deste texto, pois nós temos tantos dons quanto os imaginamos; agora, é preciso reconhecer e aprofundar um pouco mais sobre um grande dom, o da amizade. Considerando que amizade supõe certa intimidade, vamos, ao longo desta reflexão, compreender um pouco mais sobre seu valor e seu sentido em nossa vida. Uma vez que, esse dom, a princípio externo a nós, nos toca por dentro.
Ainda Cardeal Ratzinger, na Capela Papal, em Roma (Itália), proferiu uma bela homilia que abre os nossos horizontes e traz à tona o que é verdadeiramente uma amizade baseada no relacionamento de Cristo com seus discípulos e dos mesmos com o Cristo: “(…) Não existem segredos entre amigos: Cristo diz-nos tudo quando ouve o Pai; oferece-nos a sua plena confiança e, com a confiança, também o conhecimento. Revela-nos o seu rosto, o seu coração. Mostra-nos a sua ternura por nós (Homilia da Santa Missa «Pro Eligendo Romano Pontifice», em 18 de abril de 2005).
A amizade na pós-modernidade
Na atualidade, falar sobre amizade em si é muito complicado. Nossa sociedade, caracterizada pela “pós-modernidade”, carrega em seu bojo um querer de que tudo se torne objeto, inclusive a amizade. Assim, torna-se impossível um relacionamento porque não há profundidade nem verdades que o constrói; ao invés de confiança e conhecimento, há somente utilitarismo, frieza, superficialidade etc.
Percebe-se que, na amizade, há necessariamente uma comunhão de vontades com liberdade e bondade, ao invés de tirania e manipulação. Bons amigos nos tornam amigos de nós mesmos e nos fazem crescer, nos dão descanso com boas conversas. Ora são confidentes, ora nos dizem verdades como se olhássemos num espelho. Além disso, amigos nunca serão inimigos.
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Contribui também Aristóteles, filósofo do período clássico grego; ele é categórico ao afirmar que “quanto ao fundamento da amizade, pode ser a utilidade recíproca, o prazer ou o bem, mas é claro que, enquanto a amizade fundada na utilidade ou no prazer está destinada a acabar quando o prazer ou a utilidade cessarem, a amizade fundada no bem é a mais estável e firme, portanto a verdadeira amizade” (Ética a Nicômaco, VIII, 3, 1.156 a6 ss.). Jesus de Nazaré, todavia, ainda mais profundo; deixa entrever nas Suas palavras que todos os que se relacionam conosco são próximos e merecem o amor.
Por fim, como não entender que a amizade é um dom se até Jesus, que é Deus, tinha Lázaro como amigo? Amizade é parte da nossa vida e o homem não vive sozinho. Alargue seu coração e sua visão para a beleza que te cerca, para a simplicidade de uma conversa verdadeira e descompromissada. Há uma centelha de Deus em cada um de nós, só por isso já devíamos ter para com os outros maior estima e gratuidade. Que um dia você escute de alguém, bem como de Deus: meu amigo.