A pergunta que muitos fazem é: onde está tudo isso na Bíblia? Antes de responder essa pergunta (que, sim, tem resposta!), é preciso pontuar duas questões.
Em primeiro lugar, o católico tem a sua fé fundamentada não somente na Sagrada Escritura, mas também na Sagrada Tradição e no Sagrado Magistério da Igreja. O que Cristo revelou foi transmitido pelos santos apóstolos de duas maneiras: por escrito e oralmente. Parte dessa Revelação foi escrita sob inspiração do Espírito Santo, a que nós chamamos Sagrada Escritura ou Bíblia; a outra parte dessa Revelação não foi escrita, mas é uma Palavra vivida e atestada na vida da Igreja, a que nós chamamos Tradição (cf. CEC 81). Assim, enquanto a Bíblia é a Palavra de Deus escrita, a Tradição é a Palavra de Deus vivida na vida da Igreja, principalmente na vida dos santos.
A formação da Bíblia, como conhecemos hoje, foi um processo só concluído quatro séculos depois de Cristo. Nos anos 382 e 397, no pontificado do Papa São Dâmaso, o cânon dos livros sagrados foi fixado pela Igreja (cf. DhZ 179; 186). Por isso diz Santo Agostinho: “Eu não creria no Evangelho se a isso não me levasse a autoridade da Igreja Católica” (apud CEC 119). E os numerosos milagres e sinais extraordinários na vida terrena de Cristo, dos santos apóstolos e da história da Igreja; muitos desses milagres ligados à Eucaristia e a Virgem Maria são assinatura de Deus e auxílio para despertar a nossa fé3 (cf. CEC 156).
A Sagrada Escritura, assim como a Tradição, nós a conhecemos através do Magistério da Igreja, isto é, do Papa (sucessor do Apóstolo São Pedro) e dos bispos em comunhão com ele (cf. CEC 85), cumprindo-se a promessa de Deus: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra, será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16,18-19).
Assim se estrutura o tripé da nossa fé: Escritura, Tradição e Magistério. O Concílio Vaticano II nos ensina que este tripé é unido de tal forma que um não se sustenta sem o outro (cf. DV 10).
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Maria está presente nos momentos principais da salvação
Em segundo lugar, mais do que procurar Maria na Palavra, procuremos a Palavra em Maria, pois ela gera Jesus Cristo, a Palavra de Deus que se fez Carne (cf. Jo 1,14). Por outro lado, a Bíblia nos apresenta referências a Virgem Maria, sobretudo no Evangelho. Sendo Cristo o centro do Evangelho, as referências a Maria são sempre apontando o Cristo, como ela disse nas Bodas de Caná: “Fazei tudo o que Ele vos disser!” (Jo 2,5). São Luís chega a dizer que Deus escondeu Maria pela sua grande humildade, por ela mesmo ter pedido a Deus que, em sua vida terrena, a escondesse (cf. TVD 3,50).
Ele diz: A fim de atender aos pedidos que ela lhe fez para que a ocultasse, empobrecesse e humilhasse, aprouve a Deus ocultá-la. […] Deus Pai consentiu que ela não fizesse milagres em vida, pelo menos manifestos, embora lhe tivesse dado poder para isso. Deus Filho permitiu que quase não falasse, tendo-lhe embora comunicado a sua sabedoria. Deus Espírito Santo permitiu que os apóstolos e evangelistas falassem muito pouco sobre ela, apenas o puro necessário para dar a conhecer a Jesus Cristo, apesar de ser ela a sua esposa (TVD 3-4).
Mesmo assim, Maria está presente nos momentos principais da história da salvação: a Encarnação, a Páscoa e o Pentecostes (cf. CANTALAMESSA, 2012).
Referências Bibliográficas:
3 Não há como deixar de citar aqui o Santo Sudário, o milagre eucarístico de Lanciano, o manto de Guadalupe, a incorrupção dos corpos de alguns santos e milagre do sol ocorrido em Fátima, todos com abundante documentação.
Trecho extraído do livro “Sou todo teu, Maria”, de padre Francisco Amaral