Semana Santa

Quarta-feira Santa: Não está nas mãos dos homens!

O destino de Jesus não está nas mãos dos homens! Entramos nestes dias santos e estamos perto da celebração da Páscoa, tendo chegado às portas do Santo Tríduo. A passagem do Evangelho de Mateus nos apresenta a narrativa da preparação para a Páscoa. Uma preparação que é descrita através da justaposição de duas cenas paralelas realizadas por dois personagens distintos.

Estas duas ações se juntam no contexto da Última Ceia, quando Jesus se senta à mesa com seus discípulos (vv. 20-25). De um lado temos a ação de Judas (vv. 14-16), o que está nas mãos dos homens, do outro a ação que Jesus realiza (vv. 17-19), o que está nas mãos de Deus, ao fazer os preparativos para a ceia.

Lendo os primeiros versículos, podemos ser levados a acreditar que tudo está nas mãos dos homens, que tudo depende dos planos humanos. A traição de um discípulo, uma soma de dinheiro (cf. Zc 11,12; Ex 21,32), os cálculos de poder dos líderes políticos e religiosos! Duas vezes um verbo παραδίδω (paradidomi) “entregar” retorna -, um verbo fundamental nas narrativas da paixão.

Quem entrega?

O bom pastor parece estar completamente à mercê do homem. Sua entrega, sua traição, parecem ser fruto apenas da mesquinhez e do cálculo. O preço “pesado” pela traição é o preço fixado pela lei para um escravo (Ex 21, 32), é a soma com a qual o povo paga – segundo Zacarias – o salário do “bom pastor” que cuidou dele. É a soma da ingratidão com a qual o homem acredita que ele reembolsa Deus, a soma de nossos méritos e nossa busca de autonomia, é a soma que pagamos para silenciar Deus, para não permitir que ele seja Deus e para reduzi-lo a um ídolo mudo e surdo.

Não está nas mãos dos homens

Crédito: iStock / Getty Images Plus_gabrielabertolini/ cancaonova.com

Assim, nesta primeira parte do evangelho, parece que tudo está nas mãos dos homens. Se parássemos aqui, os eventos que vamos celebrar nos próximos dias, seriam apenas o resultado da maldade do homem, da mesquinhez, do produto das nossas “trinta moedas”, eventos apenas de morte e injustiça. Como tudo isso pode ser uma história de salvação?

Quem se entrega?

Mas passemos à segunda parte do texto (vv. 17-19), aqui tudo parece ser diferente; aqui a pretensão do homem de governar e planejar tudo chega a uma inexorável negação. Mateus é quase irônico: o homem pensa que tudo depende de seus cálculos, de suas trinta moedas, de suas traições, mas na realidade Jesus mostra que tem nas mãos o que está acontecendo firmemente.

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Jesus, entretanto, tem tudo em suas mãos de uma maneira radicalmente diferente do que os homens pensam que têm. Ele não precisa de traição, ele não precisa de somas de dinheiro, ele não está interessado em jogos de poder. Ele tem tudo firmemente em suas mãos, não porque ele tenha calculado tudo, mas porque ele amou e amou até o fim.

Ele “quer fazer a Páscoa conosco” (v. 18), e tudo é feito como ele desejou. É por isso que os eventos que celebraremos nos próximos dias podem ser eventos de salvação, porque são eventos de gratuidade e não de cálculo, eventos de amor e não de ódio, eventos de doação e não de traição.

O verdadeiro protagonista da entrega

Na última parte da passagem (vv. 20-25) os dois “preparativos para a Páscoa”, o humano e o divino, estão reunidos na Última Ceia. Neste encontro, a ilusão do homem é desmascarada, e o verbo παραδίδω (paradidomi) — “entregar” —, retorna mais quatro vezes para enfatizar quem é de fato o verdadeiro protagonista da entrega.

Cada um dos discípulos antes da revelação da traição pergunta: “Serei eu, Senhor?” (v. 22). Sim, porque cada discípulo traz dentro de si seus cálculos humanos, suas traições, a convicção de que ele pode se libertar de Deus com trinta denários. Aqui surge outro aspecto do senhorio de Deus sobre os acontecimentos da Páscoa: “O Filho do Homem vai embora, como está escrito dele” (v.24).

Nas mãos dos homens?

Aqui está outra bofetada no rosto daqueles que calculam tudo: o Filho do Homem não vai segundo os planos humanos, o Filho do Homem vai “como está escrito”, ele vai “segundo as escrituras”. De fato, não está nas mãos dos homens.

Citações:
Mateus 26, 14-25

Dom Cristiano Sousa OSB Cam Mosteiro da Santa Cruz de Fonte Avellana Itália