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O sono da mediocridade: uma tentação contra a fé

No dia 29 de novembro, primeiro Domingo do Advento, o Papa Francisco presidiu, na Basílica de São Pedro, a celebração eucarística, juntamente com os novos cardeais. A mensagem que ele proferiu, na homilia, foi muito significativa para todos nós, especialmente para valorizar o tempo litúrgico do Advento. ‘Advento’ é uma palavra de origem latina que significa ‘vinda’. Para nós, cristãos, refere-se não simplesmente à lembrança histórica de Cristo que apareceu no mundo mais de dois mil anos atrás, mas à sua vinda atual, mediante a fé; e à sua vinda futura, no dia da nossa morte e no dia do fim do mundo. Daí nascem as perguntas: estamos preparados? Nossa fé é viva e ardente? Vivemos continuamente na espera d’Ele? Somos vigilantes ou estamos dormindo?

Nesta homilia, Papa Francisco apontou para a tentação que atinge a nossa fé: o sono da mediocridade. E lembra dos maus exemplos dos discípulos, nestes termos: “Manter-se acordado não é fácil… Não o conseguiram os discípulos de Jesus, a quem Ele dissera que vigiassem ‘à tarde, à meia-noite, ao cantar do galo, de manhãzinha’ (cf. Mc 13, 35). E, precisamente nessas horas, não estiveram vigilantes: à tarde, durante a Última Ceia, traíram Jesus; de noite, adormeceram; ao cantar do galo, renegaram-No; de manhãzinha, deixaram-No condenar à morte. Não velaram. Adormeceram. Mas o mesmo torpor pode descer também sobre nós. Há um sono perigoso: o sono da mediocridade”.

O sono da mediocridade: uma tentação contra a fé

Foto ilustrativa: eggeeggjiew by Getty Images

A mediocridade corrói a fé

Este sono sobrevém quando perdemos o primeiro entusiasmo e prestamos atenção somente a viver tranquilos. Tal mediocridade corrói e fé e é o contrário da fé. No livro do Apocalipse há uma referência significativa a essa mediocridade, no contexto de uma carta dirigida à comunidade cristã de Laodiceia.

Laodiceia era um rico centro comercial, situado na Ásia Menor, atual Turquia; e se relacionava com muitas cidades do Império Romano. Além disso, era famosa pelos seus banhos termais, pois das fontes brotavam águas quentes que eram saudáveis para muitas pessoas. Mas uma mentalidade materialista e uma autossuficiência errada constituíam o aspecto negativo dessa riqueza e desse interesse pelo bem-estar apenas físico: e tal mentalidade esfriava a fé dos cristãos que moravam em Laodicieia.

Neste contexto, chega a mensagem que lemos no livro do Apocalipse, nestes termos: “Ao anjo da igreja de Laodiceia, escreve: Eis o que diz o Amém, a Testemunha fiel e verdadeira, o Princípio da criação de Deus. Conheço as tuas obras: não és nem frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente! Mas, como és morno, nem frio nem quente, vou vomitar-te. Pois dizes: Sou rico, faço bons negócios, de nada necessito – e não sabes que és infeliz, miserável, pobre, cego e nu” (Ap 3, 14-17). Percebe-se, pois, que o termo mediocridade é aqui expresso com o adjetivo ‘morno’.

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Retomar o entusiasmo

Como podemos, então, despertar deste sono da mediocridade e parar de ser ‘mornos’? O Papa, nesta homilia, nos ensina como retomar o entusiasmo da fé: com a vigilância da oração e com a vigilância da caridade. De fato, a oração permite a Deus estar perto de nós; por isso, liberta da solidão e dá esperança. A oração oxigena a vida: tal como não se pode viver sem respirar, assim também não se pode ser cristão sem rezar. Perdemos um pouco o sentido da adoração: permanecer em silêncio diante do Senhor, adorando.

A mediocridade se manifesta também através do ‘sono da indiferença’, quando orbitamos apenas em torno de nós mesmos e das nossas necessidades, indiferentes às dos outros. Reivindicamos para nós mesmos e nos desinteressamos dos outros. Mas podemos acordar deste sono da indiferença com a vigilância da caridade. A caridade é o coração pulsante do cristão: tal como não se pode viver sem pulsação, assim também não se pode ser cristão sem caridade. Pensam alguns que sentir compaixão, ajudar, servir seja próprio de perdedores, quando, na realidade, é a única coisa vitoriosa, porque já está projetada para o futuro, para o dia do Senhor, quando há de passar tudo ficando apenas o amor.