✝️ Carlo Acutis

O futuro da santidade passa por aqui

A identidade e missão de Carlo Acutis

Termino esta série de três artigos sobre a identidade e missão de Carlo Acutis para a Igreja do século XXI, querendo mostrar como ele, apesar de ter vivido apenas 15 anos, é um mestre de vida espiritual para os nossos dias.

No centro da sua vida espiritual, encontramos o sacramento da Eucaristia. Sabemos que o sacramento mais necessário para a salvação é o batismo e, depois deste, a reconciliação, para quem perdeu o estado de graça por algum pecado grave. Mas, tradicionalmente, o sacramento mais importante é a Eucaristia, porque enquanto nos outros sacramentos há uma ação de Deus que gera um efeito e essa presença sacramental desaparece depois de realizado o sacramento, na Eucaristia, Jesus permanece. Na Eucaristia, enquanto celebração litúrgica, e nas espécies eucarísticas do pão e do vinho consagrados, encontramos a realização plena daquela promessa do Senhor na Sua Ascensão de que estaria, todos os dias, com os seus discípulos até ao fim do mundo (cf. Mt 28,20).

Carlo Acutis: a missão que nasce do amor a Jesus

O beato Carlo Acutis / Foto: Nicola Gori – CNA

O centro da vida e espiritualidade de Carlo Acutis

A Eucaristia ocupava o centro da vida e espiritualidade de Carlo Acutis. Desde logo, porque sempre intuiu de forma especial a presença de Jesus Cristo, mas sobretudo porque, recebida a Primeira Comunhão, procurou nunca faltar a nenhum dia da celebração eucarística. Ali, encontrava-se com o Senhor e recebia a graça particular deste sacramento, que é um dom particular de união a Jesus, de tal modo que a nossa própria vida se transforma para sermos mais semelhantes a Ele. Nisso, o exemplo de Carlo é muito pertinente para os nossos dias: é necessário redescobrir a importância e centralidade do sacramento da Eucaristia, que não é outra coisa senão redescobrir a unicidade de Cristo como fundamento da vida cristã.

O sacramento da Eucaristia também exercia a força dominante da ação evangelizadora de Carlo, que, nos diversos diálogos, procurava mostrar às pessoas o que estavam a perder por não irem à Missa. No entanto, essa força propulsora de evangelização o Carlo encontrou contando a história dos milagres eucarísticos, acontecidos por todo o mundo ao longo dos séculos. Nestes, viu como Deus realizava sinais prodigiosos para mover a fé das pessoas para a realidade do sacramento. No pão e no vinho consagrados, não se encontra somente uma bênção ou um sinal da presença de Jesus, nem apenas uma repetição mecânica de um gesto que tem dois mil anos, mas a realização permanente da mesma entrega de Jesus, que antecipou para a Última Ceia a entrega da própria vida que foi realizada na obediência da Cruz.

Desse modo, o Carlo procurava mostrar que o grande milagre é cada Eucaristia, em que o pão e o vinho se transformam realmente – substancialmente, como afirma a doutrina clássica – no Corpo e no Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo: Corpo, Sangue, Alma e Divindade.

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Como Carlo Acutis, ser Santo hoje e fazer diferença no mundo

Pelo menos em Portugal, têm surgido várias capelas de Adoração Eucarística perpétua, garantidas dia e noite por leigos que se voluntariam com uma hora por semana para estar em adoração diante do Senhor. Este é um grande sinal da renovação da devoção eucarística nos dias de hoje. Em cada momento de adoração, estamos diante do nosso Deus e Senhor, e aprofundamos a consciência de que somos criaturas e pedimos a graça de sermos cada vez mais à imagem do próprio Senhor Jesus.

Carlo Acutis foi, deste modo, profético da renovação da Igreja, hoje tão necessária. A esse respeito, podemos recordar o que escrevia o teólogo Hans Urs von Balthasar a respeito dos desafios da Igreja dos nossos dias: ««Mas, para estar à altura de uma tarefa tão sobre-humana [a tarefa que se apresenta hoje à Igreja Católica], terá necessidade não só de teólogos (também deles), mas sobretudo de santos. Não só de decretos e ainda menos de novas comissões de estudo, mas de figuras pelas quais, como faróis, nos possamos orientar. Era justamente este o sentido último do alarme de Córdula.

Não é verdade que nada podemos fazer para ter santos. Devemos, por exemplo, tentar uma vez, embora com algum atraso, tornar-nos como Córdula. “Mais vale tarde do que nunca”» (Hans Urs von Balthasar, Córdula, p. 119). Com o exemplo de Carlos, que nos é proposto pela Igreja com a sua canonização, sintamo-nos todos impelidos nesta missão de sermos santos hoje, alimentados e fortalecidos com o sacramento da Eucaristia, e façamos a diferença neste mundo.

Pe. Ricardo Figueiredo, Patriarcado de Lisboa