🤔 Reflexão

A mulher e o trabalho: encontrando o caminho com Edith Stein

A mulher pode ter uma profissão, um emprego, ou já que sua vocação original é ser companheira e mãe, ela é destinada apenas ao lar?

 

Foto Ilustrativa: by Getty Images / FG Trade

Acredito que essa indagação tenha invadido o coração de muitas mulheres, pois fomos feitas para o lar ou para o mundo, a sociedade? Dedico-me apenas aos meus filhos e esposo ou Deus espera algo mais de mim? A busca por essa resposta me levou a conhecer Edith Stein. Eu escutava muitas mulheres, muitas delas fundamentada nas suas experiências pessoais, mas aquilo não me satisfazia; eu desejava uma fonte segura, e Deus me enviou uma doutora da Igreja que dedicou anos de sua vida em compreender a mulher, suas forças, suas inclinações e sua missão. Ela escreveu uma verdadeira obra ontológica sobre a mulher.

Sem dúvida, ela nos acompanhará nessas pequenas linhas para entender um pouco mais sobre como a mulher pode se encontrar dentro dessa circunstância.

O início de uma revolução na vida da mulher

Para começar, quando colocada ao lado do homem para ser sua companheira, a mulher já recebia, ali, uma carga gigantesca de trabalhos: a casa, o preparo dos alimentos, os filhos, as roupas, a educação da prole. Sem o empenho dos dois aquela locomotiva fracassaria. Tudo isso sempre foi visto como trabalho por séculos, no entanto, com o advento da revolução industrial e a disseminação do comunismo, atrelaram o trabalho ao dinheiro. E como a mulher não recebia nada por todo aquele serviço feito na sua casa, começou a ser vista como quem não trabalhava. Segundo Engels, o serviço que elas prestavam sem remuneração era improdutivo.

O trabalho remunerado tornou-se um privilégio para todos, e a mulher, que não estava dentro dessa realidade, vivia subjugada pelos homens, que mantinham em suas mãos o poder econômico. Não demorou muito para que alguns homens, pronunciando-se supostamente em nome das mulheres, começassem a sugerir que elas tivessem um trabalho remunerado – essa seria a única forma de saírem do despotismo econômico dos esposos. E assim as senhoras começam a sair de suas casas em busca de remuneração, dinheiro, uma realização profissional fora do lar. Essa é a forma, muito abreviada, como esse drama começou.

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No entanto, Edith Stein nos diz que, de forma um pouco trágica, antecipou-se algo que já aconteceria naturalmente, visto todas as capacidades que foram concedidas por Deus à mulher. Especialmente porque, com todas as mudanças tecnológicas, os trabalhos de casa já não ocupavam todo o tempo das mulheres, que por sua vez começaram a ter tempo sobrando.

“Uma feminista radical chamada Betty Friedan chamou de “problema anônimo”: “As mulheres, diz a autora, estavam restritas à rotina alienante da casa. Passavam o tempo limpando o chão, tirando o pó do armário e, como máxima conquista, fazendo biscoitos.

Os dons e os fardos da mulher profissional

Entediadas e solitárias, desenvolviam algum distúrbio mental, tornavam-se alcoólatras ou arrumavam um amante. “Incentivadas por essa mensagem, legiões de casadas de todos os países do ocidente começaram a sair de casa para conseguir um emprego remunerado.

Na década de 1990, na maior parte dos países desenvolvidos, o percentual de mulheres que trabalhavam era próximo do masculino. Para muitas mulheres, o trabalho passou a ser dobrado. A maioria continuou fazendo o serviço doméstico e cuidando dos filhos, além de cumprir as obrigações do trabalho. A solução foi contratar outra mulher para que fizesse as tarefas domésticas. Entre elas, cuidar das crianças pequenas, limpar a casa, costurar, remendar e lavar roupas.” Livro Feminismo, Ana Campagnolo.

Era o começo da jornada dupla, que seguiria para sempre ao lado das mulheres que desejavam ser profissionais, além de mães, esposas e donas de casa. Um começo descabido, mas que trouxe a mulher para a sociedade, mostrou que existia algo além daquela porta que era destinado também a ela, que ela possuía dons, capacidades que eram importantes e necessárias para a sociedade e para o mundo, desde que entrassem nele como mulher, uma mulher de verdade que não abre mão de nada que diz respeito a si mesma.

A nossa doutora afirma que a mulher pode sim abraçar uma profissão, desde que não seja retirada dela a possibilidade de viver a sua vocação original como companheira e mãe dentro de um lar (se esse for seu chamado, porque as mulheres também são chamadas a ser virgens consagradas), ou seja que ela não abra mão de viver sua primeira vocação, ser uma mulher com tudo aquilo que esse nome comporta.

O olhar que governa o lar

Nós mulheres não só podemos, como devemos contribuir com a sociedade, o mundo, desde que essa profissão, esse trabalho não nos faça abdicar daquilo que temos de mais importante, nossa família, esposo e filhos. Julián Marías Aguilera, um filósofo espanhol, nos fala sobre “Part time”, ou trabalho de um período, onde a mulher se ausentará da sua casa apenas uma parte do dia, quando, na maioria das vezes, os filhos estariam na escola, na creche, aos cuidados de alguém. Assim, a mulher descansará de um serviço realizando outro, nos afirma ele. Isso faz bem para a alma, para o corpo, e permite que ela se dedique a sua primeira vocação.

No entanto, se sua profissão a impede de ver os seus filhos crescerem, se lhe rouba de incumbências que só uma mãe pode realizar, e aqui não falo de afazeres domésticos, porque esses sim você pode terceirizar, mas o seu olhar precisa estar sobre o lar, sobre seu esposo e seus filhos. A mulher é a alma da casa, brota dela as direções, o aconchego, o equilíbrio.

Quando você entra numa casa em que a mãe é ausente, você rapidamente percebe isso pelo ambiente. Privar uma família, uma casa, um casamento da presença direta e constante da mãe, da esposa, da mulher é como disse Jesus: “Retirar a comida dos filhos para dá-los aos cães…”

É claro que os prejuízos causados pela revolução industrial e pelo comunismo na vida da mulher e na sua relação com o trabalho são notórios ainda hoje. Além de tudo que a revolução sexual e o feminismo trouxeram de perversão para essa realidade, o saldo é que em muitos lares a renda trazida pela mulher é suporte necessário para o esposo, em outros é indispensável. A jornada dupla se transforma em tripla, exigindo muito das mulheres, que, às vezes, se veem castigadas, oprimidas em ter um trabalho fora de casa e uma carga pesada dentro dela.

No entanto, existem contribuições que só a mulher com suas capacidades peculiares e intrínsecas trará ao mundo. Que fique claro: o lar é o trabalho mais importante da mulher dona de casa, é o sufixo de todas que têm a vocação ao matrimônio. No entanto, com equilíbrio, clareza e sabedoria, a mulher consegue contribuir com aquilo que lhe é destinado, também na sociedade e no mundo. O trabalho assim assume um caminho de conversão na vida da mulher e não mais de perversão.

Meiriane Silva Faria
Missionária da Comunidade Canção Nova.