Antes de falarmos propriamente da divisão do ano litúrgico, vale recordar, primeiro, o valor daquilo que celebramos. Em cada Santa Missa, celebramos o mistério de nossa salvação. Em cada Eucaristia celebrada, Cristo nasce, morre e ressuscita. Tocamos, desse modo, no coração da fé católica. Cristo se fez homem para salvar todos os homens. Assim como em Adão, todos pecaram, e por isso decaíram; mas em Jesus todos são salvos, e por isso elevados.
O apóstolo Paulo, na Carta aos Timóteos, afirmou que Deus “quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (I Tim 2,4). Para que isso se realizasse, Ele foi capaz de tudo, inclusive de se fazer homem como nós, em tudo, menos no pecado (Heb 4,15). A “sua humanidade foi, na unidade da pessoa do Verbo, o instrumento da nossa salvação. Por isso, em Cristo se realizou plenamente a nossa reconciliação e nos deu a plenitude do culto divino” (Sacrosanctum Concilium, n. 5).
Qual é a data de início do novo ano litúrgico?
Precisamos compreender que tudo na liturgia é voltado para a nossa salvação, inclusive a maneira como o ano litúrgico é dividido. A Igreja, em cada Eucaristia, faz memória da obra de salvação do seu Divino Esposo (Cf. Sacrosanctum Concilium, n. 102).
Enquanto o ano civil começa dia 1º de janeiro, o ano litúrgico inicia-se, na maioria das vezes, no final de novembro ou início de dezembro; tendo em vista que o ano litúrgico começa com o tempo do Advento, quatro semanas antes do Natal. Seu término coincide com a Solenidade de Cristo Rei, no ano civil seguinte.
Para que serve essa divisão?
Comumente, o ano litúrgico é dividido em ano A, B e C. Por que essa divisão? Maneira pedagógica de as leituras lidas aos domingos voltarem a ser lidas novamente após três anos. Na liturgia do domingo, são lidas duas leituras, uma do Antigo Testamento e outra do Novo Testamento, acompanhada do Salmo e do Evangelho.
Nesta divisão, cada Evangelho tem seu lugar próprio e exclusivo. No ano A, é lido o Evangelho de São Mateus; no ano B, lê-se o Evangelho de São Marcos; no ano C, lê-se o Evangelho de São Lucas. Quanto ao Evangelho de São João, ele é lido, de modo particular, em ocasiões especiais, isto é, festas e solenidades.
As leituras são organizadas para narrar a vida de Jesus
Uma particularidade dessa divisão: o cristão que acompanha, assiduamente, os três ciclos litúrgicos – A, B e C – tem uma visão geral de toda a Sagrada Escritura, tendo em vista que, nos três anos são lidas as principais leituras que narram a história da salvação. Sejam as leituras do Antigo Testamento, que anunciam a vinda do Messias; seja a do Novo Testamento, que relata a Sua chegada.
A leitura de cada Evangelho, acompanhada das demais leituras, leva o fiel a percorrer, em ordem cronológica, toda a vida de Jesus, isto é, desde o nascimento à ascensão. A liturgia de cada tempo litúrgico relata uma realidade da vida de Jesus. O Advento possui dupla característica: a primeira vinda de Jesus, celebrada com a festa do Natal, bem como a expectativa da segunda e definitiva vinda de Jesus nos fins dos tempos.
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Os tempos litúrgicos nos levam para o Kairos
No Natal, recorda-se o mistério da Encarnação. Jesus, para salvar o gênero humano, fez-se homem e veio habitar entre nós (Cf. Jo 1,14). Em seguida, no tempo comum, o fiel aprende sobre a vida pública de Jesus, sua missão como Filho de Deus. O cume de todo tempo litúrgico é a festa da Páscoa, celebração da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus; e o término se dá com a Festa de Cristo Rei do Universo, que é a esperança da parusia final, pois Jesus reinará sobre todas as nações.
Em suma, os tempos litúrgicos alimentam a fé e renovam, no coração de cada crente, a certeza da salvação. Bem como leva o cristão a entender que o tempo cronológico é passageiro, a liturgia nos leva a passar do “cronos” para o “kairos”, isto é, tempo da graça de Deus. A liturgia nos recorda que chegará um dia em que “não haverá mais noite, não se precisará mais da luz da lâmpada, nem da luz do sol, porque o Senhor Deus vai brilhar sobre todos” (Ap 22,5). Em cada liturgia, saímos do cronos e somos introduzidos no kairos, tempo de Deus.