Papa Paulo VI, durante o seu pontificado, insistiu e proclamou, na bela expressão “civilização do amor”, uma nova forma ardorosa e apostólica de comunicar ao mundo a missão da Igreja. Ela deve ser sinal de reconciliação, mas, ao mesmo tempo, deve reconciliar-se consigo mesmo. Missão árdua e exigente.
Temos, constantemente, a possibilidade de enxergarmos atitudes belíssimas da Igreja como mediadora dos conflitos mais fortes, em países em guerra, em situações de miséria. Digo mais uma vez: a reconciliação “ad-intra”, dentro da comunidade eclesial, é muito exigente.
Busquemos a vivência de uma Igreja reconciliada entre si, para ser reconciliadora para os outros
As inúmeras divisões que surgem entre nós são, verdadeiramente, sinais de uma experiência que macula nossa vida cristã. A comunidade, como proposta do Reino, percebe-se não somente carente, mas também cansada, e o que pode ser pior, desanimada.
“Perante os nossos contemporâneos, tão sensíveis à prova dos testemunhos, concretos de vida, a Igreja é chamada a dar o exemplo da reconciliação, antes de mais no seu interior; e para isto, todos devemos esforçar-nos por apaziguar os ânimos, moderar as tensões, superar as divisões, sanar as feridas eventualmente infligidas entre irmãos, quando se agudiza o contraste entre opções no campo do opinável, e procurar, de preferência, estar unidos naquilo que é essencial para a fé e a vida cristã, segundo a antiga máxima: ‘in dubis libertas in necessariis unitas, in omnibus caritas’ (liberdade naquilo que é duvidoso, unidade no que é necessário e caridade em todas as coisas)”. Exortação Reconciliatio et Paenitentia.
As tensões agudizam a separação. Na medida em que essas tensões não são resolvidas, dialogadas nem colocadas no coração do próprio Cristo, os irmãos perdem a possibilidade de anunciar ao mundo a grandeza do mistério da comunhão, uma comunhão fundamental para poder dar aquele primeiro passo ao qual me referi anteriormente. A missão reconciliadora da Igreja supera meros pactos políticos ou diplomáticos. A verdadeira reconciliação vem do desejo de olhar de novo para o outro dentro da “Koiné” (comunhão).
Uma experiência ecumênica
Aqui, nasce a verdadeira experiência ecumênica. Aqui, reside o maior dos critérios para que possamos conviver uns com os outros sem agressão, sem dissimulação, sem egocentrismo. O fato de ir até o outro da forma como ele é já é uma conquista no caminho da verdadeira comunhão. A exortação pós-sinodal cria uma expressão sobre a qual vale a pena deter-nos: “diálogo da salvação”. Que expressão mais significativa e esclarecedora no caminho da reconciliação! No mundo secularizado no qual vivemos, nada melhor do que nos aproximarmos dos frios, indiferentes e distantes que, muitas vezes, optam por esse tipo de atitude devido à nossa falta de diálogo.
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O diálogo será salvífico sempre e quando eu acolher o outro como ele vem, na maioria das vezes, destruído e sem vestes, sem sandálias, sem aliança no dedo, com fome e desgarrado após ter decidido voltar para a casa do Pai. Levando em conta também que muitos dos que voltaram para a casa do Pai fizeram-no sem nenhum tipo de conscientização ou de decisão, mas motivados por diversas situações. Percebemos que alguns voltam ao caminho da reconciliação quase que por forma “casual”: encontro com alguém que o motivou a participar de um serviço social ou de um trabalho caritativo dentro da Igreja. A estes teremos que acolher ainda mais com entranhas de misericórdia.
Texto extraído do livro “Reconciliação: Um caminho de amor e perdão“