O mês de setembro é dedicado, no Brasil, a uma maior e crescente atenção à Bíblia, nosso Livro Sagrado, a ser tocado diariamente com o beijo dos lábios do coração, a fim de iluminar todos os passos a serem dados. Para este ano, a proposta é estudar e rezar o Livro da Sabedoria, tendo como tema: “Para que nele nossos povos tenham vida – Livro da Sabedoria” e o lema: “A Sabedoria é um espírito amigo do ser humano” (Sb 1,6a).
Vejamos a linda experiência de Salomão (Cf. I Rs 3, 5-14): “O Senhor apareceu a Salomão em sonho durante a noite, e Deus lhe disse: “Pede o que te devo dar”. Salomão respondeu: ‘Dá ao teu servo um coração que saiba perceber a verdade, para julgar o teu povo e discernir entre o bem e o mal. Pois quem poderia governar este teu povo tão numeroso?’ O Senhor gostou que Salomão tivesse feito tal pedido. Por isso, Deus lhe respondeu: ‘Já que pediste estes dons e não pediste para ti longos anos de vida nem riquezas nem a morte dos teus inimigos, mas pediste o discernimento para prestar ouvidos ao direito, eis que eu cumpro o teu pedido e te dou um coração tão sábio e prudente como não houve nenhum outro antes de ti e nem haverá depois. Dou-te também o que não pediste, tanta riqueza e glória, em toda a tua vida, como jamais houve entre os reis. Finalmente, se andares nos meus caminhos, guardando os meus preceitos e mandamentos, a exemplo de teu pai Davi, eu te darei uma longa vida’”. O mesmo pedido é reportado no citado livro da Sabedoria (Sb 9,1-8).
Ao propor-nos a escolha da sabedoria, a Escritura toca nas preferências de nossas vidas
Ao propor-nos a escolha da sabedoria, a Escritura toca nas preferências de nossas vidas. O que queremos? Que ideias e que ideais norteiam a nossa vida? O que significa preferir? Trata-se de uma escolha que precede todas as outras, dando-lhes o sentido correto. O livro do Eclesiástico (Cf. Eclo 24,23-27) identifica a Sabedoria com a Lei de Deus. “Ela, a Lei, transborda de sabedoria, inunda de inteligência, como o Eufrates, e como o Jordão, nos dias da colheita; espalha, como o Nilo, a instrução.”
A Sabedoria conhece as coisas passadas e as futuras (Sb 8, 8). Mas isso é de Deus! Ela conhece, pois, o que é de Deus, o que Deus pensa, o Seu projeto, Seu desígnio desde toda a eternidade. Ela faz memória, guarda no coração, percebe o Senhor atuando no presente. O povo de Israel é o povo da escuta, o povo da memória. Aí está a sua sabedoria. Mas não é um saber qualquer, é um saber religioso, que revela e vai ao encontro do que Deus realiza na história da salvação. Sabedoria é descobrir o tempero que Deus deixou nos acontecimentos e na história.
Cristo é a sabedoria de Deus!
São Paulo entendeu isso: “Cristo é a sabedoria de Deus!” (Cf. 1 Cor 1, 20-30). “Onde está o sábio? Onde o letrado? Onde o pesquisador das coisas deste mundo? Não transformou Deus em loucura a sabedoria deste mundo? Uma vez que na sabedoria de Deus o mundo não O reconheceu pela sabedoria, aprouve a Deus servir-se da loucura da pregação para salvar os que creem. Nós pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os pagãos, mas poder e sabedoria de Deus para os chamados, quer judeus, quer gregos”. Podemos, então, afirmar que Sabedoria é o pensamento e o projeto de Deus, em Cristo, desde toda a eternidade.
Os dons do Espírito Santo nos fazem participar de modo divino da vida de Cristo. Consequência é que começamos a agir por inspiração divina. O cristão vai tornando habitual e predominante o exercício dos dons do Espírito. Um deles é a Sabedoria! Outro dom, a ela ligado, é o do Conselho, com o qual o Espírito Santo nos leva a tomar decisões corretas no comportamento diário. Para que se atue em nós o dom do Conselho, ouvir a Escritura, olhando para ela a partir de seu centro, que é Jesus Cristo. Olhar também para dentro do coração, onde Deus, pela virtude do Espírito Santo, habita em nós, o que suscita profundidade e serenidade! Depois, procurar pessoas inspiradas por Deus, o irmão acolhido, amado, ouvido, reconhecido como conselheiro. Se Cristo, na Escritura, encontra Cristo em você, e o mesmo Cristo nas pessoas que são “conselheiras”, emerge a presença de Deus, de forma nova e intensa. Em todo encontro, buscar o irmão Jesus Cristo, buscar a Trindade em cada criatura e confrontar com o que o Espírito Santo diz no íntimo de cada pessoa que ouve.
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O discernimento necessário
São indicações muito práticas, pois nos levam a guardar a lei de Deus com o necessário discernimento, certos da convicção testemunhada na Sagrada Escritura (Cf. Dt 4,1-8): “Eu vos ensinei leis e decretos, conforme o Senhor meu Deus me ordenou para que os pratiqueis na terra em que ides entrar e da qual tomareis posse. Guardai-os e ponde-os em prática, porque neles está vossa sabedoria e inteligência diante dos povos. Ao tomarem conhecimento de todas essas leis, dirão: ‘Sábia e inteligente é, na verdade, essa grande nação’. Qual a grande nação que tenha leis e decretos tão justos quanto toda esta Lei que hoje vos proponho?”.
O discernimento que é resultado da ação do Espírito Santo em nós dará condições para estabelecermos prioridades e distinguirmos os passos a serem dados. Assim conduzidos, seremos sábios para não cair no relaxamento nem no escrúpulo (Cf. Mc 7,21-23). Em tempos como os que correm, com a situação social e política em nossa nação, será muito importante aprender a distinguir o que deve ser feito ou dito, conscientes do ensinamento do Senhor: “É de dentro, do coração humano, que saem as más intenções: imoralidade sexual, roubos, homicídios, adultérios, ambições desmedidas, perversidades; fraude, devassidão, inveja, calúnia, orgulho e insensatez. Todas essas coisas saem de dentro, e são elas que tornam alguém impuro”.