Quando se pensa ter falhado

De tempos em tempos, surgem na mídia informações de pais que, desesperados, tomam atitudes nada convencionais para com os filhos. Na tentativa de salvar a vida ou a integridade deles, lançam mão daquilo que pensam ser uma possível solução. Na aflição de vê-los envolvidos em situações que julgam perigosas fazem de tudo: desde a solicitação da interdição de seus direitos até mesmo a aplicação da força. Temos visto na TV alguns casos de pais que acorrentavam os filhos ao pé da cama, denunciando-os à polícia, e em outros casos se negando a pagar fiança. Para quem assiste a esses acontecimentos, essas atitudes podem parecer muito estranhas, especialmente, vindas daqueles que condenam ao cárcere seu próprio sangue e própria carne.

Frustra o coração dos pais quando deparam com situações contrárias àquelas que planejavam para os filhos. A tranqüilidade deles é abalada quando o que tinham como expectativa para o futuro dos filhos desmorona. Pensar ter falhado na missão, como educadores, traz sérios efeitos “colaterais” como a irritação, o sono perturbado, a dificuldade de relacionamento com o filho e/ou com o cônjuge. Transtornados emocionalmente, certamente, também terão dificuldades de concentração no trabalho ou em outras tarefas domésticas.

Nessas situações parece que a casa está à “deriva” e muitas pessoas tentam ajudar com conselhos. Algumas podem até criticar, dizendo que tudo aconteceu em função da ausência materna e/ou paterna, ou que a culpa foi o excesso de mimo… Outras podem dizer que faltou direcionamento espiritual e psicológico; enfim, todos têm uma solução para os problemas daqueles que sofrem. No entanto, elas se esquecem de que aquilo que foi acerto numa família, não necessariamente será regra para outras.

Talvez seja doloroso para os zelosos pais constatar que a sua influência – direta – no comportamento dos filhos acontecia apenas enquanto eram crianças, que dependentes de seus carinhos colocavam-se sob os seus cuidados. Hoje, mais adultas aspiram a viver a mesma a liberdade, que por eles [pais], um dia, também foi reivindicada. Sabemos que transferimos na educação dos nossos filhos o conhecimento. Entretanto, a experiência de vida se obtém por meio do exercício da liberdade – associado à prudência da boa educação.

Por mais que os pais sofram com as atitudes “descabeçadas” dos filhos, eles não devem se sentir culpados pelas conseqüências de seus atos. Para o coração deles, tolerar uma situação que lhes desagrada, certamente não será uma tarefa fácil de engolir.

Embora frustrados com os acontecimentos, precisarão romper com o sentimento de fracasso e exercitar a tolerância para aquelas situações que não podem mudar. Nesse momento, eles precisarão de amparo e ajuda para ter a coragem de realizar aquilo que está ao seu alcance e acreditar que os valores e princípios fecundados no coração dos filhos não foram perdidos. Ainda que estes possam estar por algum tempo “embriagados” por valores vis, no futuro, eles terão a chance de reconhecer que por muito tempo caminharam como viajantes errantes.

É nessa certeza que repousará na paz inquieta o coração dos pais.