ANO “FAMÍLIA AMORIS LAETITIA”

A beleza e as dificuldades de viver em família

São João Paulo II dizia que “o futuro da Igreja e do mundo passa pela família”. Hoje, são muitas as dificuldades das famílias, há muitas ameaças a elas. Tudo o que ofende a vida é ofensa à família, porque ela é o “santuário da vida”.

Nesta Exortação, o Papa Francisco apresenta algumas contribuições pastorais para ajudar as famílias. Uma das atividades é valorizar a comunicação pessoal entre os esposos, para humanizar toda a vida familiar. Há de se evitar o crescente perigo de um individualismo exagerado, que desvirtua os laços familiares onde cada componente da família se isola dos demais, o que pode gerar falta de paciência, arrogância e até agressividade entre eles. Outro fator a ser considerado é o estresse da vida social e do trabalho. Tudo isso elimina a doação mútua na família.

A Exortação destaca que, em muitos países, “diminui o número de matrimônios e cresce o número de pessoas que decidem viver sozinhas ou que convivem sem coabitar”. Isso pode levar a família a ser “um lugar de passagem”, em que uma pessoa vai só por interesses próprios, desprezando os valores e princípios familiares. É fruto de um conceito distorcido de liberdade, onde cada um só faz o que quer, como se tudo fosse válido ou permitido.

A beleza e as dificuldades de viver em família

Foto ilustrativa: SDI Productions by Getty Images

Valorizar a família e o matrimônio

Hoje, a Igreja é chamada a valorizar o sacramento do matrimônio, que tem sido desprezado diante do modismo atual. Então, é necessário apresentar, de maneira adequada, as razões e os motivos para se optar pelo matrimônio e pela família, de modo que as pessoas estejam melhor preparadas para responder à graça que Deus lhes oferece. Deve-se valorizar o sentido procriativo do matrimônio, sem deixar de lado a importância do aspecto unitivo do casal. Não esquecer de valorizar o sentido do “crescimento” de cada um, fruto da convivência amorosa.

Destaca-se a importância de acompanhar os jovens casais em suas preocupações concretas e apresentar o matrimônio mais como um caminho dinâmico de crescimento e realização do que como um fardo a carregar a vida inteira. A Igreja deve oferecer aos casais apoio e aconselhamento sobre questões relacionadas com o crescimento do amor, a superação dos conflitos e a educação dos filhos. Valorizar o Sacramento da Confissão e da Eucaristia que lhes permite enfrentar os desafios do matrimônio e da família.

Um fator que prejudica o matrimônio é a chamada “cultura do provisório”, a rapidez com que as pessoas passam duma relação afetiva para outra. Creem que o amor, como acontece nas redes sociais, se possa conectar ou desconectar ao gosto do consumidor. Há também o medo de assumir um compromisso permanente. Alguns podem ver no casamento e na família um obstáculo para as conquistas futuras. Muitos são levados a não receber o matrimônio por problemas econômicos, de trabalho, de estudo ou por razões ideológicas que desvalorizam o matrimônio e a família. Ainda o fracasso de muitos casamentos pode desestimular os jovens ao matrimônio.

Pornografia e saúde reprodutiva

O Papa destacou a preocupação com o sério problema da “difusão da pornografia e da comercialização do corpo, favorecida pelo uso distorcido da internet” e também pela “situação das pessoas que são obrigadas a praticar a prostituição”. Foi destacada a preocupação com a queda demográfica, causada por uma mentalidade antinatalista e promovida pelas políticas mundiais de saúde reprodutiva, que faz com que as populações de muitos países diminua.

Bento XVI disse que “uma nação sem filhos é uma nação sem futuro”. E isso acontece principalmente nos países desenvolvidos. A insegurança, o medo, o comodismo e a falta de fé são alguns fatores que causam esta “implosão demográfica” de sérias consequências. Os Padres do Sínodo da família disseram que “uma das maiores pobrezas da cultura atual é a solidão, fruto da ausência de Deus na vida das pessoas e da fragilidade das relações”.

Outros fatores que prejudicam a família foram levantados, como a falta de habitação digna ou adequada; os muitos filhos nascidos fora do matrimônio e o grave problema das migrações com consequências sobre a vida familiar. Há ainda a preocupação especial com as famílias das pessoas com deficiência, que é um desafio profundo. E também a preocupação com as famílias que caíram na miséria.

Sobre os idosos, a maioria das famílias os respeita e lhes dá carinho e considera-os uma bênção; mas, há também o risco dos idosos serem vistos como um peso a ser eliminado, o que tem levado a vários países a aprovarem a eutanásia legal.

Leia mais:
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.:Os pais devem levar a sério a educação dos filhos
.:Exortação Amoris Laetitia

Amor e perdão

A Exortação do Papa enfatiza que o Sacramento do matrimônio destina-se, antes de mais nada, “a aperfeiçoar o amor dos cônjuges”; e apresenta uma profunda reflexão sobre o “hino da caridade”, de São Paulo (1 Cor 13,4-7), que pode ser chamada de “Cartilha do amor conjugal”. Também no matrimônio “ainda que eu tenha tão grande fé que transporte montanhas, se não tiver amor, nada sou”. “O amor é paciente, o amor é prestativo; não é invejoso, não é arrogante nem orgulhoso, nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se irrita, nem guarda ressentimento, não se alegra com a injustiça, mas rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1Cor 13, 4-7).

Meditando esta página da Escritura, os casais devem ser animados a viver uma atitude de serviço, curar a inveja que possa haver, vencer a arrogância e o orgulho, vivendo o que disse São Pedro: “Revesti-vos todos de humildade no trato uns com os outros, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá a sua graça aos humildes” (1Ped 5, 5).

Ainda mais os casais devem ser estimulados a amabilidade, o desprendimento, sem violência interior, cultivando o perdão, aprendendo a tudo desculpar e perdoar. Que as palavras de Jesus oriente dos casais: “Recebestes de graça, dai de graça” (Mt 10, 8). “Não te deixes vencer pelo mal, mas paga o mal com o bem” (Rm 12, 21). “Não nos cansemos de fazer o bem” (Gal 6, 9). “Se vos irardes, não pequeis; que o sol não se ponha sobre o vosso ressentimento” (Ef 4, 26).


Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br e Twitter: @pfelipeaquino