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Caridade, a fé que se torna ação

Vivendo a fé além das aparências: o chamado à caridade

Foi o Papa Francisco quem mais insistiu conosco sobre a importância da caridade na nossa fé.

Veja que perguntas provocativas: A nossa vida é uma “vida cristã de maquiagem, de aparência, ou é uma vida cristã com a fé operante na caridade?” Ele ainda continua nessa homilia feita na casa Santa Marta. “A fé – disse o Papa – não é somente recitar o Creio”, mas exige desprender-se da avidez e da cobiça para saber doar aos outros, especialmente se pobres.

Várias mãos de diferentes tons de pele estão unidas em um círculo, segurando-se firmemente para simbolizar apoio, união e solidariedade.

Foto ilustrativa: Delmaine Donson by Getty Images.

A fé não tem necessidade de aparecer, mas de ser. Não tem necessidade de ser encoberta de cortesias, especialmente se hipócritas, mas de um coração capaz de amar de forma autêntica.

Jesus também foi firme ao falar dessa fé ‘maquiada’, chamou de sepulcro caiado.

Num dos sonhos de dom Bosco, ele vê os jovens divididos em três grupos. O terceiro chamou minha atenção por ser composto por jovens muito bem considerados, tidos como líderes e exemplos dentre os demais; porém, não viviam sob os parâmetros da caridade nem recuperaram o estado de graça mediante a confissão. Andavam a passos lentos, cabisbaixos e sombrios … sepulcros caiados.

O perigo da fé “maquiada” e os sepulcros caiados

Eu consigo reconhecer em mim, numa fase da minha vida, ter sido como sepulcro caiado, ou seja, tinha uma aparência de boa, mas, na verdade e interiormente, ainda alimentava comportamentos de avareza, inveja e desamor.

Eu era sepulcro caiado, vivia de aparências, sem cultivar verdadeiro amor por nosso Senhor e meus irmãos. E se você pensar bem, é sobre isso, sobre o amor que seremos questionados ao final da vida.

Peça a Deus que lhe revele a verdade sobre si mesmo. Aliás, peça isso todos os dias: que o Espírito Santo lhe dê a graça de amar verdadeiramente.

É ainda o Papa Francisco quem nos recorda uma proposta para combater a ‘dureza do nosso coração’: “Antes dai esmola do que possuís”. “A esmola – recorda o Papa – sempre foi, na tradição da Bíblia, quer no Antigo como no Novo Testamento, uma pedra de medida de justiça”

É São Paulo quem nos faz entender que a fé sozinha não salva. “O que vale é a fé. Qual fé? A que ‘se torna operante por meio da caridade’. O que vale em Cristo Jesus é a ação que vem da fé, ou melhor, a fé que se torna operante na caridade. Isto é, esmola, caridade.

Esmola no sentido mais amplo da palavra: desprender-se da ditadura e da idolatria do dinheiro, pois toda cobiça nos afasta de Jesus Cristo”.

A justificação pela fé e a prática do amor em São Paulo

Para você que está avaliando sobre a prática da caridade, proponho seguir algumas reflexões sobre o assunto com a ajuda de São Paulo: esse amor a que somos chamados a viver é uma graça de Deus. O homem só se torna realmente justo diante d’Ele porque é Ele quem lhe confere este dom, não o mérito humano.

Esse processo, que tem início com um ato de fé e se materializa no batismo, une-o a Cristo. O que nos torna justos é nossa fé em Cristo, nossa comunhão de vida com Ele. Nele, gratuitamente, temos a justificação. É, portanto, uma justiça baseada na fé em Cristo.

No centro desta certeza, baseada na fé, está a humildade de reconhecer-se pecador e implorar o perdão de Deus. Desse modo, Paulo ensina que o regime da Lei está superado. Agora, vale dizer que “todos pecaram e todos estão privados da glória de Deus, e são justificados gratuitamente, por sua graça, em virtude da redenção realizada em Cristo Jesus” (Rm 3,23-24).

As obras não são a causa da justificação perante Deus, mas sua consequência, seu agir coerente, uma vez que nossa fé é Jesus Cristo. O amor verdadeiro se dá a partir de Cristo.

Relato um exemplo prático para melhor esclarecer: se você passar por um aperto financeiro, olhe para Jesus, para a vida d’Ele, como Ele viveu a relação com as questões financeiras; a partir disso, dê uma resposta concreta na sua vida. No meu caso, passei a acolher e adotar um estilo de vida mais simples e a revisar tudo o que é supérfluo ou acúmulo, levando-me à partilha.

“A fé é olhar Cristo, confiar-se a Cristo, apegar-se a Cristo, conformar-se com Cristo e com sua vida. E a forma, a vida de Cristo, é o amor; portanto, acreditar é conformar-se com Cristo e entrar no seu amor” (Bento XVI, 19/11/2008).

A caridade é a realização da comunhão com Cristo, e somos justos unidos a Ele. “Em Jesus Cristo nem a circuncisão nem a incircuncisão têm valor, mas a fé que atua pela caridade” (Gl 5,6).

A tentação dos que se acham já salvos, sem ter que viver a caridade, é superada pela necessidade de vivermos o amor de Cristo pelo próximo. O amor é a grande virtude, que jamais passará (Cf. 1Cor 13,1-13).
Então, “o amor cristão é muito exigente, porque brota do amor total de Cristo por nós: aquele amor que nos reclama, acolhe, abraça, ampara, até nos atormentar, porque obriga cada um a não viver mais para si mesmo, fechado no próprio egoísmo, mas para ‘aquele que morreu e ressuscitou por nós’ (2Cor 5,15).

O amor de Cristo faz-nos ser n’Ele aquela criatura nova (2Cor 5,17) que inicia a fazer parte do seu Corpo místico, que é a Igreja” (Bento XVI, 26/11/2008).

Toda a vida moral cristã nasce de nossa amizade, proximidade e discipulado de Jesus Cristo. Ser e viver como Ele. Amar como Ele amou, sobretudo os que mais precisavam. Enfim, somente no amor ao próximo a fé se torna material, visível, concreta. Se for verdadeira, encarna-se no amor ao próximo sempre.
Para Paulo, podemos sempre retornar a Deus, depositar a fé n’Ele e viver a caridade. Por nossa fé, nós O acolhemos e, pela ação do Espírito Santo, nos habilitamos para ir ao encontro dos irmãos. Sim, quem salva é a fé, e a fé age pela caridade. O primeiro lugar onde a fé se torna ação é no lar. Perdoar, acolher e cuidar também são gestos de evangelização e caridade.

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.:A caridade é um dom do Espírito
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Caridade no cotidiano: pequenos sacrifícios e gestos de amor

Para quem possa pensar que essa é uma realidade distante de si, gostaria de finalizar com um trecho da carta de Santa Terezinha a sua irmã Leônia, mostrando como é possível viver a caridade de forma simples e acessível:

Garanto-lhe que o Bom Deus é muito melhor do que você pensa. Ele se contenta com um olhar, um suspiro de amor… Para mim, a perfeição é muito fácil de praticar, porque entendi que tudo o que você precisa fazer é tomar Jesus pelo coração. Ah! Se tivéssemos que fazer grandes coisas, quantos seríamos dignos de pena? Mas como somos felizes, pois Jesus se deixa limitar pelas menores coisas!

Não são os pequenos sacrifícios que te faltam, minha querida Leônia, a tua vida não é feita deles?… Alegro-me em vê-la diante de um tesouro tão precioso, e sobretudo em pensar que sabes aproveitá-lo ao máximo, não só para ti, mas também para as almas… É tão doce ajudar Jesus, através dos nossos pequenos sacrifícios, a salvar as almas que Ele redimiu com o Seu sangue, almas que aguardam apenas a nossa ajuda para não caírem no abismo.

Edvania Duarte Eleuterio
Missionária Comunidade Canção Nova