A caridade é um dom do Espírito

A redenção do coração humano, radicalmente garantida no amor total de Cristo na Cruz, torna-se viva e recriadora em cada homem, através do dom do Espírito Santo, Ele próprio o amor divino personificado. É por isso que a redenção não produz fruto automático no homem; mesmo depois da morte de Cristo continua a haver corações empedernidos. É preciso unir-se a Cristo morto e ressuscitado, pela fé e pelo batismo e abrir o coração ao Amor, para acolher o dom do Espírito transformador. Só Ele nos dará um “coração novo”, capaz de acolher o amor divino e amar com a força de Deus, na realidade começar a amar como Deus ama. Deus revela-se-nos, então, com a ternura de um Pai, bondoso e misericordioso, que nos atrai cada vez mais e se desvela progressivamente no Seu mistério. Dirigir-se a Deus como Pai só é possível pela ação do Espírito Santo (cf. Rom. 8,15). O Espírito Santo derrama nos nossos corações o amor de Deus (cf. Rom. 5,5). Esse amor tem a marca da eternidade e do definitivo. Nada deste mundo poderá jamais separar-nos do amor de Deus com que amamos Jesus Cristo (cf. Rom. 8,35ss).

Este dom do amor de Deus transforma qualitativamente as experiências de amor humano, elevadas ao nível da caridade divina. O amor do próximo é indissociável do amor de Deus. “Quem não ama o seu irmão que vê, não pode dizer que ama a Deus que não vê” (1Jo. 4,20ss). O amor humano atinge as qualidades do amor divino. “Sede misericordiosos como o vosso Pai Celeste é Misericordioso” (Lc. 6,36). É essa qualidade radical da caridade que ressalta na recomendação de Paulo aos Efésios: “procurai imitar Deus como filhos muito amados e segui a via do amor a exemplo de Jesus Cristo que nos amou e Se entregou por nós” (Efs. 5, 1-2).

O caminho que nos leva do amor à caridade é um longo percurso, que inclui a redenção do nosso coração e de toda a nossa capacidade humana de amar; passa pela abertura progressiva do nosso coração ao amor de Deus, realiza-se através de todos os meios sacramentais da graça. Quando me reconcilio com Deus, quando celebro a Eucaristia, quando sou confirmado pelo Espírito Santo, lanço-me nessa aprendizagem do amor novo, que me levará a amar o meu irmão como Cristo nos amou. O amor conjugal, objeto central destas Catequeses Quaresmais, é o exemplo mais claro que a vivência sacramental é o único caminho para enxertarmos sobre as raízes de um coração humano convertido, o mistério da caridade.