Tempo de pausa
O mês de julho é marcado pelo recesso escolar e, por essa razão, muitas são as pessoas que se organizam para tirar férias com o intuito de aproveitar o tempo na companhia dos filhos. Trata-se de uma pequena pausa para se refazer e chegar, com um pouco mais de fôlego, à conclusão do ano civil. O fato de imperar um modelo econômico que visa sempre o lucro dificulta o ato de criar condições para se reservar um tempo de descanso. Para muitos, embalados pelo frenesi da produção e do lucro, o descanso está associado à perda de tempo e à improdutividade.

Créditos: Imagem Gerada por Inteligência Artificial / CHAT GPT
A reserva de um tempo para o descanso
O que a Bíblia ensina sobre isso? Além dos textos sagrados, onde mais são encontradas atestações acerca da importância do descanso?
A Bíblia ensina o princípio que dá embasamento para a reserva de um tempo para o descanso. O texto sagrado atesta: “No sétimo dia, Deus concluiu toda a obra que fizera; no sétimo dia, repousou de toda a obra que fizera. E Deus abençoou o sétimo dia e o santificou, por ser o dia em que Deus repousou de toda a obra da criação.” (Gn 2,2-3).
O sábado é o dia que Deus escolheu para concluir a obra da criação e descansar. Após concluir a sua obra, Deus iniciou o seu descanso, abençoando e santificando o sábado. No livro do Êxodo, no contexto do selamento da Antiga Aliança, Deus entregou a Moisés os mandamentos. Da lista, o terceiro mandamento é: “Lembra-te do dia de sábado para santificá-lo” (Êxodo 20,8).
Guardar o domingo do Senhor
Mais tarde, com o surgimento da religião cristã, conservou-se o princípio bíblico do descanso, porém o dia da semana passou a ser o domingo. Nos primeiros tempos, a Igreja nascente, formada por judeus e gentios (pessoas de origem pagã), guardava o sábado e o domingo ao mesmo tempo. Aos poucos, essa prática mudou. A ressurreição de Jesus Cristo, que fundamenta a religião cristã, aconteceu no primeiro dia da semana.
Sendo assim, os primeiros cristãos entenderam que para eles fazia muito mais sentido guardar o domingo e não o sábado. Progressivamente, os primeiros cristãos transferiram a guarda do dia do Senhor para o domingo. Há um documento chamado Epístola de Barnabé, datada do ano 100 d.C., que atesta, justamente, dessa transferência.
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O descanso e a forte dimensão espiritual
Voltando à Bíblia. Quando os discípulos regressaram, após o primeiro envio missionário, Jesus lhes disse: “Vinde, vós sozinhos, a um lugar deserto e descansai um pouco” (Mc 6,31). O apóstolo Paulo alude à necessidade de descanso quando escreve à Igreja de Roma: “Descansarei um pouco entre vós” (Rm 15,32). Jesus, os discípulos e o apóstolo Paulo foram muito empenhados e eficazes na realização da obra missionária! E, justamente por tratarem a missão tão a sério, trataram também o descanso com seriedade.
Na Bíblia, descanso é coisa séria! Trata-se de um preceito sagrado. Os sábios da tradição judaica afirmam que o preceito mais importante da Lei é a guarda do dia de sábado. E ensinam isso por quê? Segundo esses grandes rabinos, porque foi o único preceito que até o próprio Deus cumpriu.
Se até o Criador repousou, por que a criatura não haveria de repousar? Para a criatura, não se trata de mera folga ou ocasião de ócio vazio, mas tempo de pausa e restauro em Deus. O descanso é uma prática que possui uma forte dimensão espiritual.
O descanso é condição para conservar a vida
Além da Escritura Sagrada, pode-se recorrer às outras realidades com o intuito de compreender a importância do descanso. Por exemplo, quando se observa a dinâmica da natureza, nota-se a alternância das estações que propicia tempo de descanso para a terra, para a flora e para a fauna.
A criação toda clama por descanso, por pausa e por desaceleração! O descanso é uma necessidade de toda a criação de Deus, logo, não é perda de tempo, tampouco sinônimo de improdutividade. O descanso é condição para conservar a vida.
Bons propósitos para o descanso
No Brasil, o tempo das férias de inverno ou férias de julho, como são tradicionalmente chamadas, pode ser aproveitado para estreitar os laços entre familiares e amigos, para preparar comidas saudáveis, para realizar viagens, para fazer passeios, para por em dia a leitura de bons livros, para momentos mais prolongados de oração, para as atividades físicas etc.
Nesse período, seria de salutar importância também a adoção de um uso mais austero dos celulares e das redes sociais a fim de se fazer, de fato, a experiência de um descanso integral, englobando descanso do corpo, da alma e do espírito.
Que o tempo reservado pelo cristão para o descanso tenha o propósito de celebrar o descanso em Deus que tem o poder de tudo restaurar e renovar!
Padre Robison Inácio de Souza Santos
Diocese de Guaxupé-MG. Doutorando em Teologia Dogmática pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.