Não são raras as vezes em que nos percebemos em situações de concreta impotência. Diante da dor, da rejeição, de uma traição, de alguma enfermidade ou diante do intenso sofrimento de alguém ou de alguma perda, enfim, muitas vezes e de diversos modos, a impotência faz questão de visitar o coração do homem no intuito de povoá-lo de angústia e incompreensão.
São pais diante de conflitos na educação dos filhos; filhos deparando-se com dificuldades no entendimento com os pais; esposos e esposas enfrentando o desafio de superar as diferenças entre si. Muitas adversidades se levantam na vida, fazendo com que nos encontremos com problemas maiores que nossas próprias forças, instaurando, dessa forma, no coração, um profundo sentimento de incapacidade e frustração.
A compreensão da situação de impotência se manifesta a partir do momento em que percebemos que as coisas fugiram do nosso controle, saindo da rota de nossos esquemas e projetos. Essa situação frustra nossas expectativas e bagunça nossas certezas. Porém, quando o horizonte dos passos se centra no Sol que aquece e fortalece a vida, a impotência – sensação de não saber enfrentar a dificuldade e não ter mais o que fazer diante do problema – pode ser desvendada como um fecundo espaço de revelação.
O ser humano traz em si a tendência ao orgulho e à autossuficiência; e a impotência, vista sob a óptica da graça, pode se transformar em um lugar de abertura Àquele que é maior que o homem e seus dramas, sendo assim um território de rompimento com o egoísmo e de encontro com o sagrado.
Em situações de impotência, temos a oportunidade de confiar não na própria força e capacidade, mas no poder de Deus, dando a Ele, a partir de nossa fé, a possibilidade de realizar o que para nós é impossível.
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Dessa forma, o homem dá a Deus a oportunidade de ser Deus em sua vida e fazer Sua obra do Seu jeito, sem querer condicioná-Lo às suas vontades e à compreensão das coisas.
Na impotência, nossas crenças e convicções são reviradas e o nosso interior se choca com a desordem. O bonito é perceber que Deus é atraído por nossa desordem. Exemplo concreto disso é a encarnação, por meio da qual Deus se tornou homem para ordenar a nossa vida e nos ensinar a sermos homens de verdade.
Quando temos muitas certezas e estamos muito seguros de tudo, corremos o risco de querer ser os “oleiros”, fazendo de Deus o nosso pobre “barro”. Quem acredita mais na força de seus próprios esquemas e projetos do que na ação e condução de Deus deixa de crescer e descobrir os novos caminhos que a Divina Providência deseja inaugurar em sua história.
A impotência como lugar de restauração e recomeço
Somente na pobreza de certezas e seguranças temos a possibilidade de confiar inteiramente em Deus, acreditando que Ele está agindo e que fará o melhor para nós, mesmo quando as coisas não acontecem do jeito que gostaríamos. A impotência também é lugar de restauração e recomeço, pois somente quando um antigo edifício é derrubado, quando antigas convicções se bagunçam e caem, é que pode ser feita uma nova obra, mais consistente, correspondendo melhor às exigências do tempo presente.
A impotência revela a nossa pequenez e o nosso nada, mas pode revelar também a grandeza do Deus que cuida de nós e pode transformar todas as coisas.
O ponto de partida para a eficaz ação de Deus no homem é o seu nada, pois é no nada deste que se manifesta o tudo de Deus (cf. 2 Cor 12,10b).
Confiemos no Senhor e não nos desesperemos diante daquilo que foge ao nosso controle. Aproveitemos essas difíceis situações para nos lançarmos nos cuidados d’Aquele que está sempre pronto a nos sustentar com Seu poder, e busquemos n’Ele a resposta e o sentido para as dores e lutas que compõem essa vida.