1. Na agitação da vida, o cristão facilmente esquece o chamamento a viver sempre com Jesus e atraiçoa a missão de ser luz e sal do mundo, ou porque foge do mundo ou porque não testemunha a novidade de Jesus Cristo. A Quaresma é tempo de exercícios espirituais, dados por Deus Pai, Filho e Espírito Santo ao Seu povo para o ajudar a uma profunda revisão de vida, a partir da contemplação do Senhor Jesus Cristo, morto e ressuscitado. Em cada Quaresma o cristão é chamado a confrontar-se com a pergunta de Jesus:«Quem dizes que Eu sou (para ti)?» ou ainda «Tu amas-me?».
2. Dou-vos, algumas pistas para viver esta Quaresma.
Vivê-la, como dom de Deus, estando nas Suas mãos, disponível e alegre, para escutar e seguir Jesus e para ajudar os irmãos da comunidade a fazer o mesmo. Vivê-la, organizando o tempo e a vida, para encontrar mais espaço para a oração, o jejum, a partilha e o estudo da fé. Vivê-la atento ao essencial, vendo se está a captar melhor os apelos de Deus a si mesmo, e à Igreja, e a ser mais livre para Lhe dizer sim. Vivê-la, revendo a sua fidelidade ao apelo evangelizador de Jesus.
3. Viver a Quaresma com Jesus, na oração mais frequente.
Nesta oração tem lugar central a Eucaristia dominical e a celebração da reconciliação. Mas não se pode esquecer a mais abundante oração diária. E porque não fazer uma iniciação à leitura orante da Bíblia num dia de retiro?
4. Viver a Quaresma com Jesus, jejuando.
É o jejum de 4.ª feira de Cinzas e de 6.ª feira Santa e a abstinência das Sextas-feiras da Quaresma. É também o jejum da Televisão (ao menos meia hora), o jejum do tabaco, da velocidade na estrada… Tudo para que cada um jejue do “seu ego” e dê mais espaço ao outro.
5. Viver a Quaresma com Jesus, partilhando a vida.
É a partilha resultante da renúncia quaresmal. Este ano é para ajudar três comunidades: uma de Moçambique, outra de Angola e outra de Cabo Verde. No ano passado foi generosa. Rendeu dez mil contos!
Mas esta partilha há-de conduzir a uma partilha mais profunda:
À partilha de quem procura ser justo e defender a justiça do oprimido;
À partilha de quem no ato eleitoral e nesta Quaresma há eleições vota, ajudado também pela Fé, buscando o bem comum e do homem todo;
À partilha da vida inteira dando-se de graça, como pede o Santo Padre, e semeando uma cultura de gratuidade, nesta cultura de tantos egoísmos.
6 Viver a Quaresma com Jesus, dedicando mais tempo ao estudo da fé.
A fé cristã tem beleza, harmonia, atualidade, mas é preciso conhecê-la.
Precisamos de cristãos esclarecidos para esclarecer. Neste sentido, sugiro a leitura da carta À entrada dum novo milênio do Santo Padre ou da carta sobre a educação, do episcopado ou da carta Setúbal, convoco-te para a missão; apoio a participação nas conferências quaresmais das paróquias e a tomada de decisão de participar na catequese de adultos. Que a Mãe de Jesus nos acompanhe neste caminho até à Páscoa.
Quarta-feira de Cinzas 2002.
Gilberto, Bispo de Setúbal – Portugal