Pensamento pós-moderno e a depressão

Refletindo sobre a história do pensamento ocidental me chamam atenção os ciclos que se apresentam: iniciam-se com a apresentação de problemas vitais que foram sintetizados em três grandes polos: Deus, o homem e o mundo. Vários pensadores começam a tentar dar respostas pertinentes, estas respostas vão subindo de tom até chegar a soluções geniais onde parece que a humanidade chegou a seu ápice, que não necessariamente é uma culminação temporal da época, pois pode ter simultaneidade com os momentos fortes, o pensamento decai e se debilita de uma maneira quase total.

Na antigüidade grega, depois desses grandes mestres que foram Sócrates, Platão e Aristóteles, perfila-se a decadência nas correntes do Ceticismo, do Epicurismo e do Estoicismo. Na Idade Média, depois dos grandes pensadores que culminam a Escolástica, Abelardo, Santo Anselmo, Duns Scoto, Santo Alberto Magno, São Tomás, São Boa Ventura, etc.., vem o Nominalismo com Occam à cabeça. No pensamento moderno, aos grandes pensadores: o Racionalismo de Descartes, o Empirismo de Hobbes, Locke e Hume, o Idealismo de Kant, Fichte, Schelling e Hegel, sucede o cansaço da Ilustração, o Deísmo, o Pietismo, a Aufkkirung e a Enciclopédia, que ainda em sua não originalidade ainda puderam ser em certa forma ensaios de respostas universais aos problemas fundamentais Deus, Homem, Mundo. Este declive do pensamento agora se agrava no século XX e começo do XXI por influxo em especial de pensadores como Nietsche, Heidegger, Wittgenstein, Lyotard e Vattimo, até cair, de novo como na antigüidade grega, no Ceticismo, no Epicurismo e no Estoicismo.

Este pensamento, ao menos em grande parte do Ocidente, está motivando uma mudança que pode ser um marco importante para mover-nos no campo que nos ocupa nesta Conferência Internacional sobre “A depressão”. Como início de nossos trabalhos e pequena introdução sobre a depressão, permitam-me aludir muito sinteticamente ao que me parece mais significativo deste pensamento que configura a assim chamada cultura da Pós-modernidade.

Começo com uma alusão sintética às linhas básicas das posições de autores que me parece estão na base da Pós-modernidade; eles são Nietzche, Heiddeger, Wittgenstein, Lyotard e Vatimo (Cf. I Sanna, “L’Antropologia cristiana tra modernità e postmodernità”, Brescia, 2001, 160-161).

Parece que chegamos a conectar assim São Tomás com a Pós-modernidade: O contato é em último termo a tristeza pelo bem divino que se goza pela caridade. Este bem divino não é outro que a mesma vida divina. Entristecer-se por ela é entendê-la como má, como inconveniente, negá-la. Negar a vida desemboca na morte, na chamado anticultura radical do quarto homem. O contato conflui assim no “homo pavidus” pós-moderno, no homem deprimido. O único remédio é a afirmação da vida frente à anticultura da morte. A única afirmação incontestável da vida é a ressurreição. Somente a ressurreição de Cristo e nossa ressurreição nele, fora de qualquer intervenção genial religiosa mas como um fato ocorrido e que ocorre, afasta de qualquer paliativo a depressão e vai às suas últimas raízes destruindo-as por completo, pois destrói a morte.

Intervenção pronunciada pelo Cardeal Carlos Amigo Vallejo, arcebispo de Sevilha, na XVIII Conferência Internacional sobre «A depressão», convocada pelo Conselho Pontifício para a Pastoral da Saúde de 13 a 14 de novembro.