Sociedade

Mulheres livres, autotranscendentes e responsáveis

A importância do exame de consciência para o nosso amadurecimento

Ao olharmos honestamente para nossa vida cotidiana e para as exigências da nossa vocação, se iluminadas pela nossa fé, logo perceberemos que precisamos buscar virtudes.

Crédito: FG Trade / GettyImages

A prática de um bom exame de consciência pode aumentar em nós uma correta percepção de nós mesmas, corrigindo distorções. E não é para alimentarmos culpa ou sentimentos autodepreciativos, mas para que, a partir das nossas fragilidades, reconheçamos quais são as fraquezas que em cada uma de nós ainda são dominantes. Desse modo, compreenderemos quais virtudes nos faltam para buscarmos praticá-las.

A mulher cristã

Temos a graça de contar como uma infinidade de mulheres que amaram a Deus e souberam gastar sua vida de forma virtuosa, santificando a si mesmas e aos outros: “Mulher virtuosa, quem a achará? O seu valor excede ao de rubis” (Pr 31,10). Todas elas têm características em comum além da vida de fé: elas decidiram, em todo tempo, o que deviam ser, o que queriam buscar independentemente das suas circunstâncias. Elas não pararam diante das dificuldades pessoais ou dos desafios do nosso tempo , elas foram além. Elas nunca se vitimizaram. Por isso são importante inspiração a cada uma de nós.

Uma mulher cristã traz em seu coração inquietações próprias dos que a amam, tais como: O que Ele espera de mim? Quais os desejos d’Ele sobre minha existência? Já sou o que eu deveria me tornar? A partir dos questionamentos pertinentes, podemos encontrar a verdade sobre nós, e isso é libertador e necessário para crescermos em todas as dimensões.

Como a Logoterapia pode nos ajudar nesse processo?

Viktor Frankl, médico psiquiatra, austríaco, fundador da terceira escola vienense de Logoterapia, sobrevivente de quatro campos de concentração nazistas, defendia, veementemente, a compreensão de que a pessoa humana é livre em última instância, e por isso seu destino, seja ele biológico, seja ele psicológico ou social, nunca pode definir a própria pessoa.

A autotranscendência

A pessoa humana é aquela que consegue autotranscender quaisquer que sejam suas misérias, pois sua essência é verdadeiramente autotranscendente. Ela pode ir para além de si mesma em qualquer situação. Isso significa que é próprio da pessoa humana olhar para fora, superar o autocentrismo, ir para além de si, intencionando-se para algo ou alguém. Dessa forma, ela pode extrair sentido de cada situação vivida, sobretudo nos mais difíceis sofrimentos.

Há sentido no sofrimento?

Sim. Segundo Frankl, a vida nunca cessa de ter sentido.
Quando encontramos sentido no sofrimento, conseguimos abraçar sacrifícios que nos amadurecem e nos fortalecem, pois como dizia Frankl: …”a pessoa só adquire a capacidade de sofrer, sofrendo”, e ao abraçarmos os sofrimentos da vida com bravura, nos erguemos para além deste.

Que o sofrimento é uma condição inerente à realidade humana isso é óbvio, e todas nós sabemos. No entanto, nem sempre conseguimos extrair o melhor das experiências de sofrimento em nossa vida. Segundo a Logoterapia, o processo terapêutico não deve apenas aliviar sofrimento, mas, sobretudo, ensinar o homem a sofrer, a sofrer da melhor maneira possível, a sofrer aprendendo e amadurecendo, e reconhecendo, na sua própria dor, uma tarefa sua, uma missão a cumprir.

A mulher virtuosa

Na busca pelas virtudes, há que se aprender a sofrer direito, e sofrer sabendo por que e por quem sofremos. Sofrer sabendo que a dor é sempre uma oportunidade e não o fim. Somente a decisão firme, a capacidade de ir além e a recusa ao vitimismo nos fará definitivamente mulheres fortes. Tecnicamente falando, a liberdade, a autotranscendência e a responsabilidade nos garantirão um caminho seguro e sólido para o amadurecimento da personalidade de que tanto precisamos para sermos virtuosas de fato.

Lembremos que todo batizado possui virtudes infusas, e cabe a nós trabalharmos arduamente com a ajuda da Graça para desenvolvê-las. É em nossa vida cotidiana que temos um terreno fértil para ações virtuosas.

O autoconhecimento, saúde mental e formação humana

Santa Teresa D’Ávila nos lembra que, afinal, “é desatino pensarmos que haveremos de entrar no céu sem antes entrarmos, primeiramente, em nós mesmas”. O autoconhecimento não é só uma questão cara à saúde mental, mas também à formação humana de que necessitamos para sairmos de onde estamos e alcançarmos nosso dever ser.

Se ainda não somos o que devemos ser, avante mulheres! O Senhor nos espera, pois nos fez livres, autotranscendentes e responsáveis.

Gisele de Assis
Psicóloga e Logoterapeuta
CRP 06/95640